Um acordo improvisado em uma pizzaria de Nova York, em 1984, uniu um detetive e uma atendente em torno de um bilhete da loteria. O que veio depois atravessou décadas e chegou aos cinemas com outra versão.
Um acordo feito “no lugar da gorjeta” em uma pizzaria de bairro virou manchete nacional nos Estados Unidos em 1984 e, uma década depois, inspirou um filme de Hollywood.
O detetive Robert Cunningham, cliente habitual da Sal’s Pizzeria, em Yonkers (Nova York), combinou com a garçonete Phyllis Penzo que os dois dividiriam um bilhete da loteria estadual.
O ticket de US$ 1 acabou premiado com US$ 6 milhões, e Cunningham honrou o acerto, repassando metade à funcionária.
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O caso virou referência de “palavra cumprida” e serviu de base para o enredo de “Atraídos pelo Destino” (“It Could Happen to You”, 1994), estrelado por Nicolas Cage e Bridget Fonda.
Acordo e bilhete na Sal’s Pizzeria, em Yonkers
Segundo o relato publicado à época pela revista People, Cunningham frequentava o restaurante havia anos e, ao final de um jantar, propôs substituir a gorjeta por uma parceria no bilhete da New York State Lotto: cada um escolheria três números.
No dia 1º de abril de 1984, o policial telefonou para Penzo às 9h da manhã para informar que haviam ganho o prêmio máximo.
Inicialmente, ela pensou tratar-se de uma brincadeira de Dia da Mentira, mas a confirmação veio em seguida: eram os novos milionários da cidade.
O pagamento seria feito em 21 parcelas anuais de US$ 285.715, totalizando os US$ 6 milhões da premiação.
Promessa cumprida e divisão do prêmio
O compromisso foi mantido sem contestação.
Ainda de acordo com a People, Cunningham afirmou que “se disse, eu faço”, reforçando que o acordo havia sido feito de forma clara na mesa do restaurante.
Penzo, por sua vez, relatou que compraria uma casa e ajudaria a família; o policial, com quatro filhos adultos, comentou que seguiria trabalhando.
O dinheiro, portanto, não interrompeu as rotinas de ambos naquele primeiro momento, apenas garantiu um horizonte financeiro mais confortável.
O que o filme mudou em relação à vida real
Dez anos mais tarde, quando o longa “Atraídos pelo Destino” chegou aos cinemas, a Entertainment Weekly entrevistou os dois protagonistas da história real.
Cunningham e Penzo confirmaram o essencial: havia um acordo, o bilhete venceu e o valor foi dividido em partes iguais.
Mas frisaram que o filme tomou liberdades artísticas — no cinema, o policial promete metade porque não tem dinheiro para a gorjeta e, depois, inicia um romance com a garçonete; na vida real, eles eram amigos de longa data, casados com outras pessoas, e não houve envolvimento amoroso entre os dois.
Cronologia e detalhes verificáveis
A cronologia do episódio foi amplamente documentada. Em meados de março de 1984, no salão da Sal’s Pizzeria, o cliente habitué sugeriu a parceria no bilhete.
O sorteio confirmou o prêmio no início de abril e, em poucas semanas, o acerto já era tema de reportagens com números, nomes e fotos dos beneficiários.
O título de capa que se popularizou na imprensa sintetizava a façanha: a “gorjeta” mais valiosa — ainda que, tecnicamente, o bilhete não tivesse sido dado como propina de mesa, e sim como um acordo de divisão do ticket em lugar da gorjeta.
Esse detalhe, registrado no material original, ajuda a diferenciar o caso de outras histórias em que bilhetes são doados a funcionários sem combinação prévia de partilha.
Personagens e local: identificação confirmada
A identificação dos locais e personagens também é verificável.
O restaurante ficava em Yonkers, município vizinho ao Bronx; Cunningham morava em Dobbs Ferry, na mesma região metropolitana de Nova York.
A pizzaria era ponto frequente de policiais da cidade, o que explica a familiaridade entre o detetive e a garçonete.
Essas informações constam tanto na cobertura de 1984 quanto nas entrevistas concedidas em 1994, quando o lançamento do filme reavivou o interesse pelo caso original.
Pagamento em anuidade e impacto real
No cinema, a história ganhou contornos românticos e cenas de apelo visual que nunca ocorreram, como o passeio de balão sobre o Central Park.
Ainda assim, o “esqueleto factual” permaneceu: uma promessa feita num balcão de refeições, um bilhete vencedor e a decisão de cumprir a palavra mesmo diante de uma quantia que mudaria a vida de qualquer pessoa.
Em entrevistas, Penzo brincou que “odiava macadâmias” — um gosto atribuído à personagem de Bridget Fonda — e listou compras pragmáticas realizadas com sua parcela, como a aquisição de um imóvel e um carro para a família.
O valor do prêmio, pago em anuidade, reforça outro dado objetivo.
Diferentemente de prêmios atuais que oferecem alternativas entre parcela única e pagamento diluído, o modelo daquela época previa desembolsos regulares ao longo de duas décadas.
No caso de Cunningham e Penzo, os US$ 285.715 anuais, por 21 anos, resultavam na soma aproximada do prêmio anunciado.
Essa engenharia financeira foi mencionada na reportagem original e dimensiona o impacto real do ganho: significativo, mas distribuído no tempo, o que ajuda a explicar por que ambos seguiram trabalhando depois do anúncio.
Por que o caso segue como referência
Além de basear-se numa história verdadeira, “Atraídos pelo Destino” confirmou em seu material de divulgação que o roteiro foi inspirado no episódio de 1984.
O filme consolidou o caso no imaginário popular e, para muitos espectadores, serviu como a porta de entrada para a narrativa verídica por trás da comédia romântica.
A ficha técnica, o elenco principal e a premissa “inspirada em um fato real” constam no registro do longa, documento útil para separar o que é cinema e o que é fato.
Do ponto de vista jornalístico, o caso Cunningham–Penzo costuma ser lembrado por três razões factuais: a existência de um acordo verbal específico (dividir o bilhete em vez da gorjeta), a confirmação documental do pagamento do prêmio em anuidade e a decisão inequívoca de honrar a parceria sem litígios ou disputas judiciais conhecidas no episódio original.
Esses elementos o diferenciam de histórias em que a doação pura de bilhetes gera contestação posterior — e, por isso, seguem sendo usados como referência quando o tema envolve “promessa de partilha” e bilhetes de loteria.
Quais outras histórias reais de “promessa cumprida” envolvendo prêmios de loteria você lembra e que merecem ser recontadas com base em documentos públicos?