O Pix não é apenas um sucesso nacional — ele virou peça central em um cabo de guerra comercial entre Brasil e Estados Unidos.
A popularidade do sistema gratuito, ágil e digital preocupa empresas dos EUA, que veem seus modelos de monetização ameaçados.
A investigação anunciada por Trump contra o Brasil tem pano de fundo tecnológico, político e estratégico. E no centro dessa disputa está o jeito brasileiro de pagar com um clique.
A notificação oficial
O Escritório do Representante Comercial dos EUA (USTR) anunciou a abertura de uma investigação contra o Brasil. O motivo? Supostas práticas desleais no setor de pagamentos eletrônicos, com o Pix no centro da questão.
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Criado pelo Banco Central, o sistema gratuito é usado por 3 em cada 4 brasileiros.
A alegação dos EUA é que o Brasil promove um serviço público em detrimento de soluções privadas de empresas americanas.
A medida veio com a assinatura de Donald Trump. Além da questão comercial, há sinais de movimentação política por trás da medida. Empresas como PayPal, Google Pay e Apple Pay sentem o impacto. E agora, o mundo está assistindo à disputa.
Um histórico de conflitos
Essa não é a primeira vez que o Brasil e os EUA se estranham por causa de pagamentos digitais. Em 2020, o lançamento do WhatsApp Pay foi suspenso por autoridades brasileiras.
O Cade e o Banco Central apontaram riscos de concentração de mercado. A exclusividade com a Cielo foi vista como ameaça à concorrência. Meses depois, o Pix entrou em ação — simples, funcional e gratuito.
Enquanto o WhatsApp Pay patinava, o Pix ganhava o coração do consumidor. Isso criou um novo paradigma no país. E com isso, veio também a resistência estrangeira.
Quem usa, não larga mais
Hoje, o Pix é parte do cotidiano. São mais de 170 milhões de chaves cadastradas e bilhões de transações mensais.
A maioria dos usuários é das classes C e D, desbancarizados ou clientes de bancos digitais. Esse público tem em mãos um sistema gratuito, acessível e funcional. Nubank, Mercado Pago e PicPay ajudaram a popularizar ainda mais o recurso.
Para empresas americanas, monetizar pagamentos aqui ficou mais difícil. Afinal, como cobrar por algo que o governo já oferece — e com mais eficiência?
Big techs em xeque
O impacto sobre big techs como Meta, Google e Apple não está nos lucros imediatos. Está no modelo de negócios. O Pix afeta diretamente o ecossistema onde essas empresas lucram com taxas e dados de transação.
Mesmo não concorrendo diretamente com Apple Pay ou Google Pay, o Pix dificulta sua expansão no Brasil. A ausência de tarifas e a adesão obrigatória impuseram um novo padrão.
Visa e Mastercard também sentem o baque. Cartões estão sendo ultrapassados pelo Pix. Para os americanos, a ameaça não é o presente. É o futuro.
Interesses e influência
Segundo especialistas, Trump usa o Pix como justificativa estratégica. O objetivo real pode estar ligado à política interna e à pressão de empresários. Peter Thiel, do PayPal, e JD Vance, vice de Trump, têm interesses no setor.
Além disso, há tensão no cenário dos BRICS e uma disputa por influência. O Brasil, com sua moeda digital bem-sucedida, assume um protagonismo regional.
Na prática, o processo aberto pelos EUA mira mais que o Pix — ele busca conter um modelo alternativo ao americano, que ganha força em mercados emergentes.
O futuro do Pix parece garantido no Brasil, mas pode enfrentar obstáculos em mercados dominados por empresas americanas. A disputa pode gerar entraves diplomáticos.
Especialistas apontam que o sistema brasileiro é um case global de eficiência. Mas com isso, surgem pressões externas e desafios de governança.
O principal ponto de conflito: o sucesso do Pix expõe fragilidades no modelo americano. O jogo agora é outro, e as regras estão sendo rescritas.