Setores de petróleo, gás e mineração impulsionam novo recorde de bilionários na Rússia, evidenciando a forte conexão entre riqueza e apoio ao Kremlin
Em meio à guerra na Ucrânia e às sanções econômicas do Ocidente, a Rússia registrou um crescimento econômico inesperado. Os dados mais recentes mostram um aumento no número de bilionários no país, revelando um novo retrato da elite russa. Os números foram divulgados pela Forbes no início de abril e confirmam o que já vinha sendo apontado pelo crescimento do PIB russo.
PIB cresce mesmo sob sanções
Em 2022, ano da invasão da Ucrânia, a economia da Rússia sofreu retração de 1,2%, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI).
As sanções aplicadas pelos Estados Unidos, Europa e aliados foram severas e miravam diretamente setores estratégicos do país. Porém, nos anos seguintes, a economia russa mostrou força inesperada.
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O PIB russo cresceu 3,6% em 2023. O mesmo crescimento se repetiu em 2024. O principal motor dessa recuperação foi o aumento nas exportações de petróleo, gás natural, fertilizantes e outros produtos.
Os principais destinos dessas exportações foram China, Índia e Brasil, países considerados aliados geopolíticos da Rússia.
Mais bilionários do que nunca
Segundo a Forbes, o número de bilionários russos aumentou de 120 em 2024 para 140 em 2025. Trata-se de um recorde no levantamento da revista. A Rússia ficou atrás somente de quatro países: Estados Unidos (902 bilionários), China (450), Índia (205) e Alemanha (171).
Moscou se destacou na lista. A capital russa passou de 74 para 90 bilionários. Isso colocou a cidade como a segunda no mundo com mais bilionários, atrás somente de Nova York, que tem 123 nomes no ranking.
Relação direta com o poder
No sistema russo, é praticamente impossível acumular grandes fortunas sem manter boas relações com o Kremlin. Esse padrão ficou evidente entre os nomes incluídos na lista da Forbes.
O mais rico entre os russos é Vagit Alekperov, fundador da Lukoil. Seu patrimônio líquido é de US$ 28,7 bilhões. Em 1990, Alekperov foi nomeado vice-ministro da Indústria de Petróleo e Gás.
Após o colapso da União Soviética, ele se beneficiou do processo de privatizações e fundou a Lukoil. A empresa é hoje a maior petrolífera não-estatal da Rússia.
Alekperov deixou a presidência da Lukoil em 2022, após sofrer sanções do Reino Unido e da Austrália. Mesmo assim, manteve suas ações. Com isso, recebeu mais de US$ 2,2 bilhões em dividendos entre 2023 e o primeiro trimestre de 2024, segundo a Bloomberg.
Apesar de a Lukoil ter pedido o fim da guerra no início do conflito, a empresa ajudou diretamente no esforço militar russo.
De acordo com reportagem da Reuters, a Lukoil foi uma das cinco empresas que forneceram mais de 75% dos principais produtos químicos usados em fábricas de explosivos da Rússia. A empresa afirmou que não fabrica explosivos ou quaisquer componentes relacionados.
Fortunas ligadas ao Kremlin
O segundo russo mais rico é Alexei Mordashov, com US$ 28,6 bilhões. Ele é dono da gigante do aço e mineração Severstal. Mordashov também é alvo de sanções internacionais. Mesmo assim, seus negócios continuam prosperando.
Ele tem feito pagamentos generosos para aliados do governo Putin. Também é sócio de uma instituição financeira que foi considerada o “banco pessoal” de altos funcionários do governo russo após a anexação da Crimeia.
Mordashov chegou a pagar pessoalmente um escritor alemão para produzir um livro sobre Vladimir Putin. Essa ligação direta com o poder segue sendo um fator importante na trajetória dos bilionários russos.
Bilionários novatos seguem o mesmo caminho
Entre os novatos da lista, o padrão se repete. Vikram Punia, de origem indiana, é um dos novos bilionários da Forbes. Ele é dono da farmacêutica Pharmasyntez, uma das principais fornecedoras de medicamentos com contratos junto ao governo russo. Seu patrimônio é de US$ 2,1 bilhões.
Fortuna em tempos de guerra
Mesmo com o conflito na Ucrânia ainda em andamento, a elite econômica russa continua crescendo. Os dados da Forbes mostram que, para muitos bilionários do país, a guerra não impediu o aumento de suas riquezas — pelo contrário, acabou sendo um fator que impulsionou ainda mais os negócios ligados ao poder.
Com informações de Gazeta do Povo.