Petróleo atinge menor nível desde maio em meio à guerra comercial EUA-China e alerta da IEA sobre excesso de oferta global que pode afetar o Brasil.
O mercado de petróleo viveu um dos dias mais tensos de 2025. Nesta terça-feira, 15 de outubro, os contratos futuros do Brent, referência global, recuaram 0,8% e encerraram as negociações no menor nível desde 7 de maio, enquanto o WTI, referência americana, caiu 0,7%, também tocando o piso mais baixo em mais de cinco meses. O movimento reflete uma combinação de fatores: a intensificação da guerra comercial entre Estados Unidos e China, o temor de excesso de oferta global e a desaceleração do consumo energético mundial.
A análise foi publicada pelo Money Times com base em dados da Agência Internacional de Energia (IEA), que alertou para o risco de um excedente estrutural de petróleo em 2026 — cenário que pode provocar uma nova rodada de volatilidade nos preços e pressões sobre países exportadores, como Arábia Saudita, Rússia e Brasil.
Tensões comerciais voltam ao centro do mercado
A recente escalada diplomática entre Washington e Pequim reacendeu a aversão ao risco entre investidores. O governo dos Estados Unidos ameaça ampliar tarifas sobre produtos tecnológicos chineses e, em resposta, Pequim sinalizou que pode restringir exportações estratégicas de metais raros e semicondutores.
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O efeito imediato foi uma onda de correções nos mercados de commodities, especialmente no petróleo, que funciona como termômetro da confiança global.
De acordo com analistas da Reuters, a possibilidade de novas barreiras alfandegárias reduz as expectativas de crescimento da demanda industrial, especialmente na Ásia, região responsável por mais de 55% do consumo mundial de petróleo.
“Cada nova tarifa entre as duas maiores economias do planeta é interpretada como um freio potencial à recuperação econômica global”, afirmou Warren Patterson, chefe de commodities do ING.
A oferta global aumenta mais rápido que a demanda
O outro fator que pressiona os preços é o avanço da produção global, especialmente nos Estados Unidos e no Oriente Médio.
O relatório mais recente da Agência Internacional de Energia (IEA) aponta que a produção mundial pode ultrapassar 104 milhões de barris por dia em 2026, superando a demanda estimada em 103 milhões de barris/dia. Esse pequeno desequilíbrio, segundo a agência, pode derrubar o barril do Brent para abaixo de US$ 70 se a OPEP+ não intervier com cortes adicionais.
O próprio cartel vem enfrentando dificuldades para manter a disciplina entre seus membros. Países como Irã e Nigéria elevaram discretamente sua produção, enquanto a Rússia, mesmo sob sanções, continua exportando volumes robustos para a Ásia, o que contribui para o aumento da oferta.
O impacto sobre o Brasil e a Petrobras
O Brasil, que se consolidou como um dos dez maiores produtores de petróleo do mundo, também sente os reflexos. A Petrobras exporta mais de 70% de sua produção de óleo cru, principalmente para a China, e preços mais baixos tendem a reduzir a receita da estatal.
Por outro lado, a queda do petróleo ajuda a conter o preço dos combustíveis no mercado interno, reduzindo pressões inflacionárias e facilitando o trabalho do Banco Central.
Analistas da XP e do Itaú BBA apontam que, se o Brent permanecer entre US$ 75 e US$ 80, o governo brasileiro pode manter a política de combustíveis sem repasses significativos para o consumidor.
Risco de “superoferta” preocupa a Agência Internacional de Energia
A IEA destacou que o cenário de 2025 é paradoxal: enquanto alguns países ainda enfrentam dificuldades de abastecimento interno, o mercado global começa a caminhar para um excesso de barris.
Essa transição, segundo o relatório “Oil Market Outlook 2025”, deve se acentuar com a entrada de novas plataformas no Golfo do México, na Guiana e no pré-sal brasileiro.
A agência também alertou que o estoque mundial de petróleo atingiu o nível mais alto desde 2020, o que pode pressionar ainda mais os preços nos próximos meses.
“Se a OPEP+ não agir de forma coordenada, o barril pode cair abaixo dos níveis de equilíbrio fiscal de diversos países produtores”, alertou a IEA.
Um barril mais barato, mas com volatilidade crescente
Apesar da queda recente, analistas acreditam que o petróleo deve continuar oscilando em um intervalo estreito até o fim do ano.
O economista Edward Moya, da OANDA, avalia que o mercado está dividido entre o medo de recessão global e o otimismo com os cortes de juros nos EUA, que tendem a enfraquecer o dólar e tornar as commodities mais atraentes.
“A volatilidade deve permanecer elevada até que haja clareza sobre o ritmo dos cortes do Federal Reserve e os desdobramentos das tensões sino-americanas”, afirma Moya.
Segundo projeções compiladas pela Bloomberg, o preço médio do Brent deve encerrar 2025 na faixa de US$ 82 a US$ 85 por barril, com tendência de leve recuperação a partir de 2026, desde que não haja um choque de oferta.
O foco agora recai sobre a reunião da OPEP+ marcada para dezembro, onde serão discutidos possíveis novos cortes de produção para estabilizar o mercado.
Enquanto isso, o Brasil segue ampliando investimentos em exploração e exportação, apostando no pré-sal como vetor estratégico de longo prazo.