Cursos gratuitos com bolsa de R$ 850 transformam a rotina de imigrantes venezuelanos em Canoas e mostram como educação técnica pode abrir novas oportunidades de trabalho e integração no Brasil.
Venezuelanos que se estabeleceram em Canoas, na Região Metropolitana de Porto Alegre, encontraram nos cursos gratuitos do Programa Autonomia e Renda Petrobras, realizados no IFRS – Campus Canoas, uma porta de entrada para o mercado de trabalho brasileiro.
Oportunidades com bolsa mensal de R$ 850 têm possibilitado qualificação em diferentes áreas e ampliado as chances de contratação formal.
A chegada de imigrantes ao município segue em crescimento, segundo a Diretoria das Diversidades, Igualdade Racial, Povos Originários e Imigrantes da prefeitura.
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Nesse cenário, oito venezuelanos matriculados nos cursos do campus representam parte desse movimento de busca por estabilidade, renda e inclusão.
Eles têm trajetórias diversas, porém compartilham desafios concretos: aprender o português, adaptar-se à nova cultura e conquistar espaço profissional em setores demandados.
Formação técnica para inserção rápida no trabalho
Atualmente, quatro estudantes estrangeiros frequentam a turma de Pintor Industrial, dois fazem Auxiliar de Serviços Diversos e outros dois estudam para se tornarem Isoladores de Tubulações.
São qualificações de curta duração e foco prático, estruturadas para acelerar a empregabilidade.
Docentes observam engajamento elevado nas atividades.
O professor Evandro Carlos do Nascimento, que leciona disciplinas nas três turmas do IFRS – Campus Canoas, resume a postura dos alunos: “Os estudantes querem entender a nossa língua, se integrar, saber mais sobre o nosso país. Ouvem, participam, buscam aprender.”
O depoimento reforça a disposição dos imigrantes em superar barreiras linguísticas e culturais para alcançar autonomia financeira.
Coordenador do curso de Pintor Industrial, Bruno Diniz nota que o comprometimento ficou evidente desde as matrículas.
Segundo ele, mesmo após as enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul em 2024, alunos mantiveram o plano de estudos e a presença nas aulas.
Alguns ainda enfrentam dificuldades com o idioma, enquanto a maioria relata estar adaptada aos costumes brasileiros, o que facilita a convivência em sala e no ambiente de trabalho.
Bolsa de R$ 850 e rotina viável para quem recomeça
O programa oferece bolsa-auxílio de R$ 850 para participantes, mecanismo que ajuda a cobrir gastos básicos durante o período de formação.
Para quem reencaminha a vida em outro país, o suporte financeiro reduz a evasão e permite organizar a rotina entre estudo, cuidado com a família e atividades eventuais de trabalho.
A venezuelana Raimar Maria Romero Maita, de 27 anos, aluna de Auxiliar de Serviços Diversos, está no Brasil há cinco anos.
No país de origem, atuou como caixa de supermercado e em restaurante; em Canoas, trabalha como diarista.
Ela afirma que o curso tem sido oportunidade concreta de avançar: “Eu gosto daqui, tem trabalho. Não dá para guardar dinheiro, mas dá para se manter.”
Atenta às aulas, planeja buscar uma vaga com carteira assinada ao concluir a formação e sonha em comprar a casa própria para sair do aluguel com o marido e os dois filhos.
Aprendizado de português acelera a integração
Além das turmas profissionalizantes, parte dos estudantes frequenta o curso on-line e gratuito de Língua Portuguesa e Cultura Brasileira para Estrangeiros ofertado pelo IFRS.
A iniciativa complementa a qualificação técnica e reduz entraves na comunicação cotidiana e no ambiente de trabalho.
É o caso de Rosielis Antonella Nazareth Perez Diaz, de 20 anos, aluna de Isolador de Tubulações.
Ela chegou ao Brasil em 2020 com a mãe e o irmão em busca de melhores perspectivas.
Em Canoas, concluiu o ensino médio, teve experiência temporária no comércio e agora quer ingressar na área técnica: “O curso é muito interessante. Gosto de aprender coisas novas.”
O domínio progressivo do idioma tem ampliado sua confiança para processos seletivos e entrevistas.
Acolhimento em sala e didática adaptada
A integração entre colegas brasileiros e estrangeiros também aparece como diferencial.
Keily Rosa Briceno Ferrer, 25 anos, da turma de Pintor Industrial, relata que o ambiente de sala é receptivo e que a equipe docente ajusta a comunicação para garantir entendimento: “Está sendo uma experiência muito boa. A turma é acolhedora, os demais não isolam os colegas por serem venezuelanos. Os professores têm bastante paciência, falam devagar, perguntam se entendeu, explicam novamente.”
Moradora de Canoas há três anos, Keily vê na qualificação um passo decisivo para ampliar as possibilidades de emprego formal.
Na avaliação dos professores, a participação ativa em discussões e práticas de laboratório encurta o tempo de adaptação ao vocabulário técnico.
Enquanto isso, as atividades avaliativas ajudam a identificar temas que exigem reforço e, quando necessário, estimulam o estudo complementar de português, leitura de manuais e normas de segurança.
Qualificação alinhada à demanda regional
Os cursos ofertados respondem a necessidades de setores industriais e de serviços na região metropolitana.
Pintura industrial, isolamento de tubulações e serviços gerais são funções que, em geral, têm alta rotatividade e exigem conhecimentos específicos de segurança, materiais, técnicas e organização.
Ao preparar trabalhadores com base prática, a formação reduz o descompasso entre vagas disponíveis e candidatos aptos, beneficiando empresas e estudantes.
Ainda que as histórias pessoais variem, o objetivo comum é acelerar a recolocação com carteira assinada.
Para muitos, a bolsa viabiliza deslocamento, alimentação e compra de materiais; para outros, significa tempo protegido para estudar após jornadas informais.
Em ambos os casos, a combinação de auxílio financeiro e formação técnica abre espaço para planejar o futuro com maior previsibilidade.
Reconstrução após as enchentes de 2024
O contexto recente de enchentes em 2024, que atingiram duramente o estado e especialmente Canoas, impactou a vida de moradores e imigrantes.
Mesmo assim, relatos da coordenação indicam que alunos estrangeiros mantiveram a rotina de estudos e reforçaram o compromisso com a qualificação.
Em cursos que demandam prática, como pintura e isolamento, a presença regular e a disciplina contam pontos tanto no rendimento escolar quanto na impressão deixada em potenciais empregadores.
Além disso, a vivência em sala com estudantes de diferentes origens estimula redes de apoio.
Informações sobre vagas, documentação e serviços públicos circulam com mais facilidade quando os vínculos são fortalecidos, e isso tem contribuído para uma integração mais rápida à cidade e ao mundo do trabalho.
Caminhos após o certificado
Concluída a formação, os participantes pretendem disputar vagas em empresas locais de manutenção, construção e montagem.
Alguns já vislumbram seguir estudando, seja para aprofundar competências técnicas, seja para melhorar o português e ampliar as chances em processos seletivos.
Outros planejam combinar a nova ocupação com trabalhos eventuais até estabilizar a renda.
No curto prazo, a expectativa é que a capacitação e a experiência prática resultem em primeiras contratações formais.
No médio prazo, a estratégia passa por consolidar a carreira, acumular tempo de serviço e, quando possível, buscar especializações.
Em todos os casos, o diploma do IFRS e a participação no Programa Autonomia e Renda Petrobras aparecem como credenciais valorizadas para quem recomeça distante de casa.
Como se inscrever e fazer um curso da Petrobras com o Instituto Federal
As inscrições para os cursos do Programa Autonomia e Renda Petrobras podem ser realizadas diretamente nos campi do Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS) participantes da iniciativa.
Interessados devem acompanhar os editais publicados no site oficial do IFRS e verificar os prazos, documentos exigidos e requisitos de participação. As vagas são gratuitas e incluem bolsa mensal de R$ 850 para os selecionados durante o período de formação.