Uma nova pesquisa revelou um desafio inesperado para o avanço da energia eólica offshore: as melhores áreas para instalação de turbinas coincidem frequentemente com regiões marinhas ricas em alimento para a vida selvagem.
Ao longo das últimas décadas, a energia eólica offshore cresce como promessa de solução limpa para as mudanças climáticas. Mas uma nova pesquisa alerta para um dilema que até agora vinha passando despercebido: os melhores locais para instalar turbinas no mar são também, muitas vezes, zonas ricas em vida selvagem.
Essa coincidência levanta uma pergunta urgente — é possível expandir as fontes renováveis sem colocar em risco a biodiversidade marinha?
Conflito entre vento e vida
O estudo foi conduzido por cientistas da Universidade de Alicante, na Espanha, e parceiros de outras instituições.
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Os pesquisadores identificaram que muitos dos locais com maior potencial para geração de energia eólica offshore também são áreas com intensa atividade biológica.
Em especial, regiões onde aves marinhas e mamíferos marinhos se alimentam.
A sobreposição desses dois interesses — energia e natureza — cria um conflito direto entre o avanço da transição energética e a preservação dos ecossistemas oceânicos.
Turbinas também causam impacto
Construir turbinas no mar pode parecer uma alternativa menos agressiva do que em terra firme. No entanto, os impactos ambientais são relevantes e variados.
Entre eles, destaca-se o ruído subaquático, que afeta a comunicação de baleias e golfinhos, além da alteração ou perda de habitats.
Outro ponto crítico é o risco de colisão de aves com as turbinas durante o voo. Embora algumas áreas ao redor dos parques eólicos se tornem zonas onde a pesca é restringida — o que poderia beneficiar certas espécies — isso não compensa os riscos quando as turbinas são instaladas em regiões ecologicamente sensíveis.
Mapeando o oceano com matemática
Como não é possível rastrear individualmente todos os animais marinhos, os pesquisadores recorreram a modelos matemáticos para prever onde a vida marinha se concentra.
A estratégia foi observar as cadeias alimentares. A conclusão: o fator determinante não é a diversidade de espécies, mas sim a biomassa — ou seja, a quantidade de alimento disponível.
Onde há muito plâncton, há mais peixes; com mais peixes, surgem os predadores. Esse efeito cascata forma os chamados “pontos quentes” do oceano.
Mapas revelam zonas de risco
Com base nos modelos, a equipe criou mapas globais de risco que sobrepõem áreas com grande potencial para a energia eólica e regiões ricas em biodiversidade.
O resultado foi claro: existe uma grande sobreposição no Hemisfério Norte, com destaque para o Atlântico Norte e o Mar do Norte.
Já no Hemisfério Sul, essa sobreposição parece menor, mas isso pode estar relacionado à escassez de dados na região.
Um dado preocupante é que muitas das áreas identificadas como de alto risco ainda não possuem proteção legal. Por isso, os autores recomendam que governos e entidades ambientais adotem medidas urgentes, como:
- Ampliar e fortalecer áreas marinhas protegidas.
- Criar zonas de exclusão ecológica.
- Basear decisões em dados científicos e não em interesses políticos.
Tecnologia pode ajudar — ou atrapalhar
Entre as ferramentas mais promissoras, está o uso de GPS para monitorar aves marinhas. Esse tipo de rastreamento pode revelar se os animais estão evitando áreas com turbinas.
No entanto, esse comportamento pode indicar um novo problema: se evitam as turbinas, estariam também evitando suas fontes de alimento?
Essas são perguntas que ainda precisam de respostas. Mas uma coisa está clara. O futuro da energia precisa ser limpo, sim — mas também precisa ser justo com a biodiversidade.


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