Com o peso em queda livre e reservas se esgotando, o governo Milei intensifica a venda de dólares e reinstala controles cambiais para conter o colapso às vésperas das eleições legislativas
As taxas de juros de curto prazo na Argentina atingiram nesta quarta-feira (8) um patamar histórico de 87%, o maior desde o colapso cambial de 2019. O salto abrupto ocorreu após o governo de Javier Milei intensificar a venda de dólares para tentar defender o peso argentino, que vem se desvalorizando de forma acelerada nas últimas semanas.
O rendimento das notas Lecap do Tesouro, com vencimento em 28 de novembro, saltou de 51% no fim da semana passada para 74% na terça-feira, atingindo 87% um dia depois — cinco pontos acima do recorde anterior. O movimento reflete um mercado cada vez mais temeroso quanto à capacidade do governo de controlar a inflação e evitar um colapso financeiro de grandes proporções.
Conforme reportagem publicada pela Infomoney, a disparada das taxas veio acompanhada de uma nova onda de intervenções cambiais. O Tesouro argentino vendeu dólares pelo sétimo pregão consecutivo, movimentando US$ 320 milhões apenas nesta sessão. No acumulado do período, o total de divisas vendidas chegou a US$ 1,8 bilhão, drenando as já limitadas reservas internacionais.
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Vendas de dólares e controles cambiais mostram fôlego curto
Para tentar conter a fuga de capitais e o avanço da inflação, o governo Milei voltou a restringir operações cambiais e reforçou o controle sobre o mercado futuro de dólar. Entretanto, quanto mais o Banco Central e o Tesouro precisam intervir, mais evidente se torna a insustentabilidade do câmbio atual, segundo analistas locais.
Créditos: Imagem ilustrativa criada por IA – uso editorial.
O Banco Central da República Argentina (BCRA) queimou US$ 1,1 bilhão em reservas apenas no mês passado para sustentar o peso, e agora depende de recursos do Tesouro para seguir atuando. De acordo com as regras do acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), a autoridade monetária só pode intervir diretamente caso a moeda ultrapasse a banda de negociação estabelecida — o que aumenta a pressão sobre o governo para buscar novas fontes de financiamento.
A ofensiva cambial ocorre em meio ao clima político tenso que antecede as eleições legislativas de 26 de outubro, quando metade das cadeiras do Congresso estará em disputa. Milei tenta ampliar sua base parlamentar para aprovar reformas econômicas, mas enfrenta resistência crescente diante do agravamento da crise e da perda de popularidade.
FMI e EUA tentam acalmar mercados, mas incerteza domina investidores
O cenário piorou após a derrota eleitoral de Milei na província de Buenos Aires, em setembro. O revés político foi acompanhado por novos escândalos de corrupção envolvendo aliados do presidente, o que minou a confiança do mercado e acelerou a saída de capital estrangeiro.
Um anúncio recente de ajuda financeira dos Estados Unidos trouxe alívio momentâneo, mas não conseguiu frear a queda dos ativos argentinos. A diretora-gerente do FMI, Kristalina Georgieva, afirmou à agência Reuters que uma nova decisão sobre apoio financeiro à Argentina deve ser anunciada em breve, o que mantém investidores em compasso de espera.
No mercado de títulos públicos, a volatilidade continua elevada. Após forte valorização na segunda-feira, os papéis com vencimento em 2035 recuaram mais de um centavo na terça, acompanhando as oscilações do câmbio. Já nesta quarta-feira, voltaram a subir ligeiramente após as declarações de Georgieva, indicando que qualquer sinal positivo é recebido como fôlego temporário em um ambiente de crise estrutural e perda de confiança.
O futuro do peso argentino segue incerto, e especialistas alertam que, sem uma reforma fiscal profunda e um novo acordo com o FMI, o país pode enfrentar a pior turbulência econômica da década.