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Pedido de casamento em uma ‘caverna de queijo’ levou à descoberta de fungos evoluindo diante dos olhos dos cientistas e desafiando a própria noção de tempo biológico

Publicado em 01/11/2025 às 08:13
Fungos, Queijo, Caverna
Imagem: Benjamin Wolfe/Reprodução
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Durante uma visita à Fazenda Jasper Hill, nos EUA, uma coleta de fungos em queijos maturados revelou um fenômeno raro: a evolução microbiana acontecendo diante dos olhos dos cientistas, em um ambiente natural e controlado

Em 2016, o pesquisador Benjamin Wolfe viajou com sua ex-orientadora Rachel Dutton até a Fazenda Jasper Hill, nos Estados Unidos, famosa por maturar queijos em cavernas. O passeio tinha um propósito duplo. Dutton acreditava que a ida serviria apenas para coletar amostras para estudo microbiológico, mas, na verdade, fazia parte de um pedido de casamento planejado pelo namorado dela, que havia conhecido naquele mesmo local.

Mesmo assim, as amostras foram colhidas. Wolfe, conhecido por nunca descartar material de pesquisa, guardou tudo em seu laboratório. Anos depois, o acaso daria novo significado àquela coleta.

Um queijo que mudou de cor

O estudante de pós-graduação Nicolas Louw retornou à mesma caverna para outra pesquisa e notou algo curioso: os queijos, antes cobertos por uma fina camada esverdeada, agora estavam completamente brancos.

A receita e as leveduras eram as mesmas. Nada havia mudado, exceto a aparência.

A surpresa despertou o interesse dos pesquisadores. “Pensamos que poderia ser um exemplo de evolução acontecendo diante dos nossos olhos”, contou Wolfe.

Normalmente, a evolução microbiana é observada em escalas de tempo longas ou em laboratório, não em ambientes naturais tão específicos.

Evolução sob refrigeração

As amostras de 2016 guardadas por Wolfe se mostraram fundamentais. Comparando os fungos antigos com os novos, os cientistas confirmaram: tratava-se da mesma espécie, Penicillium solitum.

Contudo, ela havia evoluído rapidamente, perdendo o traço genético que produzia a pigmentação esverdeada.

Essa cor era resultado da melanina — o mesmo pigmento que, nos humanos, define a cor da pele, cabelo e olhos, e protege contra a radiação ultravioleta.

Dentro da caverna, no entanto, o fungo vivia em um ambiente escuro e protegido. Sem a necessidade de se defender dos raios solares, o organismo se adaptou e deixou de produzir a substância.

Fungos: mutações que favorecem a economia de energia

O processo não envolveu uma única mutação, mas várias. Alguns fungos sofreram mutações pontuais — pequenas alterações no DNA — em locais diferentes do genoma.

Em vez de prejudicá-los, essas mudanças representaram vantagem: sem precisar fabricar melanina, eles economizavam energia para outros processos metabólicos.

Outros apresentaram mutações provocadas por elementos transponíveis, conhecidos como “genes saltadores”.

Esses fragmentos de DNA se movem dentro do genoma e podem causar reorganizações cromossômicas.

Embora estejam ligados a doenças graves em humanos, como câncer e distúrbios neurodegenerativos, nos fungos eles atuaram como motores da adaptação.

Um aprendizado que vai além do queijo

Os resultados, publicados na revista Current Biology, reforçam como a evolução pode ocorrer de forma visível e em curtos períodos. Para Wolfe e Louw, compreender esses mecanismos pode ter aplicações diretas na segurança alimentar.

O mofo é uma das maiores ameaças à produção global de alimentos”, explicou Louw. “Cerca de 20% das culturas são perdidas antes da colheita por causa da podridão fúngica, e outros 20% se perdem depois dela. Isso inclui desde frutas nas prateleiras até o pão que estraga em casa.

A descoberta, portanto, vai muito além da curiosidade científica. Mostra que até mesmo um fungo de queijo pode revelar como a vida se adapta, economiza energia e evolui — mesmo nas profundezas silenciosas de uma caverna.

Com informações de Super Interessante.

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Romário Pereira de Carvalho

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