Emmanuel Momoh, pastor e garimpeiro de Serra Leoa, descobriu em 2017 o ‘Peace Diamond’, um diamante de 709 quilates avaliado em US$ 6,5 milhões, símbolo de esperança e integridade nacional.
Em um dos países mais pobres do planeta, um homem simples mudou o rumo da história. Emmanuel Momoh, um pastor evangélico e garimpeiro de Serra Leoa, encontrou um diamante de 709 quilates enquanto escavava o leito de um rio na remota região de Kono, em 2017. A pedra bruta, que pesava quase 150 gramas, tornou-se a 14ª maior já descoberta na história mundial e foi avaliada em cerca de US$ 6,5 milhões.
A joia, batizada de “Peace Diamond” (Diamante da Paz), não só enriqueceu seu descobridor, como também se tornou um símbolo de integridade e esperança para uma nação marcada por guerras civis e pela exploração mineral predatória.
O achado que mudou a vida de um pastor e o destino de um país
Era um dia comum de trabalho no distrito de Kono, conhecido por seus depósitos de diamantes. Emmanuel Momoh, pastor de uma pequena comunidade local, também atuava como garimpeiro artesanal — atividade comum em Serra Leoa, onde milhares de famílias sobrevivem cavando o solo em busca de pedras preciosas.
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Enquanto peneirava o cascalho do rio, notou algo diferente: uma pedra translúcida e pesada, de formato irregular. Ao limpá-la, percebeu que se tratava de um diamante bruto de proporções impressionantes. Sem acesso a tecnologia ou intermediários, ele levou o achado diretamente às autoridades locais, recusando ofertas no mercado negro e optando por entregar o diamante ao governo para que fosse vendido de forma transparente.
“Foi uma bênção de Deus, e não quis manchar essa dádiva com corrupção”, declarou Momoh à BBC África na época. Sua atitude o transformou em herói nacional e símbolo de ética em um país que ainda tenta superar o legado dos chamados “diamantes de sangue”.
Um dos maiores diamantes do século
Com 709 quilates, o Peace Diamond é comparável a pedras lendárias como o Cullinan (3.106 quilates) e o Lesedi La Rona (1.109 quilates), ambos encontrados no sul da África. Segundo a empresa de leilões Rapaport Group, responsável pela venda, o diamante de Momoh é o maior já descoberto em Serra Leoa nos últimos 40 anos.
A análise revelou uma pureza e cor raras para uma pedra desse tamanho, aumentando ainda mais seu valor. O governo de Serra Leoa organizou um leilão internacional em Nova York, com o objetivo de garantir que parte dos recursos retornasse para as comunidades mineradoras da região.
O diamante foi arrematado por US$ 6,53 milhões em dezembro de 2017. Do valor total, US$ 3,9 milhões foram destinados ao pastor e sua equipe, e o restante aplicado em infraestrutura, escolas e hospitais no distrito de Kono.
O diamante que inspirou o nome “Paz”
Diferentemente de tantas outras pedras que financiaram conflitos, o Peace Diamond se tornou o oposto: um símbolo de redenção. Durante a guerra civil que devastou Serra Leoa entre 1991 e 2002, milhares de pessoas foram mortas ou mutiladas em disputas pelo controle das minas de diamante. O episódio inspirou o filme “Diamante de Sangue” (2006), estrelado por Leonardo DiCaprio, que denunciou o comércio ilegal dessas gemas.
Por isso, o gesto do pastor Momoh foi recebido como um ato de fé e patriotismo. Ao escolher entregar a pedra às autoridades, ele enviou uma mensagem clara: a riqueza natural do país deveria beneficiar o povo, e não alimentar a corrupção ou a violência.
“Este diamante é um presente para toda Serra Leoa”, disse o então presidente Ernest Bai Koroma ao anunciar a venda. “Ele representa um novo começo e mostra que a transparência pode trazer prosperidade.”
Serra Leoa: terra de riquezas e contrastes
Apesar de abrigar algumas das jazidas de diamante mais valiosas do mundo, Serra Leoa enfrenta altos índices de pobreza. De acordo com o World Bank, mais de 43% da população vive abaixo da linha da pobreza extrema, e o garimpo artesanal continua sendo uma das poucas fontes de renda em regiões rurais.
A descoberta do Peace Diamond reacendeu o debate sobre a necessidade de regulamentar e formalizar a mineração artesanal, que emprega cerca de 150 mil trabalhadores no país. Desde 2018, o governo tem implementado programas de mineração comunitária, permitindo que pequenas cooperativas tenham acesso a licenças legais e treinamento técnico, reduzindo a dependência de atravessadores.
A iniciativa visa transformar garimpeiros informais em pequenos empreendedores — e, de certa forma, o exemplo de Emmanuel Momoh foi o estopim desse movimento.
Um legado de fé, ética e transformação social
Anos depois, o pastor continua vivendo na mesma comunidade, agora como uma figura respeitada internacionalmente. Parte do dinheiro recebido foi usada para construir uma igreja, um poço de água e uma escola. Em entrevistas recentes, ele declarou que sua maior recompensa foi ver a vida das pessoas ao seu redor melhorar.
“A riqueza só tem valor quando muda a vida dos outros”, disse Momoh em depoimento à Reuters. O Peace Diamond também ajudou a consolidar Serra Leoa como um dos principais fornecedores éticos de diamantes do mundo, alinhado às normas do Processo de Kimberley, que combate o comércio de gemas ligadas a conflitos armados.
Da lama ao luxo: o brilho que o mundo não esperava
Hoje, a história do Peace Diamond é estudada em universidades e usada em campanhas sobre mineração responsável. A joia foi lapidada e transformada em uma coleção especial de peças de alto luxo, mas sua origem humilde continua sendo lembrada como um marco de honestidade em meio à ganância global.
De um pequeno vilarejo no interior africano para os cofres da elite internacional, o diamante encontrado por um pastor mostrou que a verdadeira riqueza não está apenas no valor da pedra, mas no caráter de quem a encontra.
Em um mundo acostumado a associar ouro e diamantes à exploração, a fé de um homem devolveu brilho a um país inteiro.