Paraguai adota imposto fixo de 10% para empresas e pessoas físicas e vira polo para brasileiros que fogem da burocracia tributária e buscam custos menores.
O que durante décadas parecia impossível agora é realidade: enquanto o Brasil trava discussões intermináveis sobre reforma tributária, o Paraguai consolidou um dos modelos mais simples e competitivos do mundo. De acordo com reportagens do Jornal Empresas & Negócios (2023) e análises divulgadas pela BBC Brasil (2024), o país vizinho adotou um sistema de imposto fixo de 10% tanto para pessoas físicas quanto para empresas, tornando-se um polo de atração para brasileiros cansados da complexidade e do peso dos tributos nacionais.
Segundo dados da Rediex (Rede de Investimentos e Exportações do Paraguai), centenas de empresários brasileiros já transferiram suas operações ou abriram filiais no Paraguai nos últimos anos, aproveitando a simplicidade tributária, o baixo custo de energia elétrica e os incentivos diretos para exportação. Não à toa, cidades paraguaias como Ciudad del Este e Hernandarias têm se transformado em verdadeiros polos industriais impulsionados pelo capital brasileiro.
Sistema tributário do Paraguai: simplicidade que atrai investidores
Enquanto no Brasil empresas precisam lidar com mais de 90 tipos de tributos, além de legislações federais, estaduais e municipais que frequentemente se sobrepõem, o Paraguai apresenta um cenário quase minimalista:
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- Imposto de Renda Corporativo (IRACIS): 10%
- Imposto de Renda para Pessoas Físicas (IRP): 10%
- Imposto sobre Valor Agregado (IVA): 10%
- Imposto sobre dividendos: 5% a 10%
Esse modelo enxuto cria um ambiente de previsibilidade e confiança. O empresário sabe exatamente quanto vai pagar, sem a necessidade de equipes jurídicas e contábeis gigantescas apenas para interpretar normas fiscais, algo comum no Brasil.
O Empresas & Negócios destacou que essa estrutura permite às companhias uma economia de até 40% em custos tributários, o que explica a crescente migração de indústrias brasileiras para o país vizinho.
Energia barata: a força de Itaipu e Yacyretá
Além dos impostos baixos, o Paraguai oferece outro diferencial competitivo: energia elétrica barata e abundante.
Graças às usinas hidrelétricas de Itaipu, compartilhada com o Brasil, e Yacyretá, em parceria com a Argentina, o país tem capacidade de geração muito superior ao seu consumo interno.
Segundo a ANDE (Administración Nacional de Electricidad), o Paraguai exporta mais de 60% da energia que produz.
Isso faz com que o custo local de eletricidade seja até 60% menor do que no Brasil, um atrativo decisivo para setores industriais de alto consumo, como siderurgia, alimentos processados, refrigeração e confecções.
Lei de Maquila: incentivo fiscal que impulsiona exportações
Outro pilar central do modelo paraguaio é a Lei de Maquila, criada para atrair empresas estrangeiras. Esse regime reduz a tributação de indústrias exportadoras para apenas 1% sobre o valor agregado em território paraguaio.
Segundo levantamento da Rediex, mais de 250 empresas internacionais já se instalaram no Paraguai sob esse sistema, incluindo centenas de companhias brasileiras.
Entre os setores que mais se beneficiam estão o têxtil, o automotivo, o moveleiro e o de calçados, que encontraram na combinação de impostos baixos e mão de obra acessível uma fórmula quase imbatível para competir no mercado internacional.
A simplificação tributária também atrai pessoas físicas, especialmente profissionais liberais e pequenos empreendedores.
Enquanto no Brasil o sistema de declaração de imposto de renda é cheio de deduções, tabelas e faixas progressivas, no Paraguai a lógica é direta: 10% fixos sobre os rendimentos.
Comparativo direto: Brasil x Paraguai
- Carga tributária: Brasil ~34% sobre o lucro das empresas x Paraguai 10% fixos
- Número de tributos: Brasil com mais de 90 impostos x Paraguai com menos de 5 principais
- Energia elétrica: Brasil entre as mais caras do continente x Paraguai entre as mais baratas (ANDE, 2023)
- Tempo gasto para pagar impostos: no Brasil, segundo o Banco Mundial (2020), uma empresa gasta em média 1.500 horas/ano; no Paraguai, menos de 400 horas
Esses números mostram porque empresários brasileiros estão cruzando a fronteira: além da economia imediata, há menos incerteza jurídica e menos desperdício de tempo com burocracia.
Críticas e desafios ao modelo paraguaio
Apesar das vantagens, especialistas alertam para alguns riscos. O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) ressalta que o Paraguai ainda enfrenta limitações em infraestrutura logística, mercado consumidor reduzido e instituições mais frágeis em comparação ao Brasil.
Além disso, críticos afirmam que o custo trabalhista reduzido pode gerar tensões sociais, com riscos de precarização. Contudo, para muitos analistas, os benefícios fiscais superam os desafios, especialmente quando a meta das empresas é exportar ao Mercosul ou para mercados internacionais.
Brasil perde competitividade enquanto Paraguai cresce
Economistas da FGV alertam que a saída de empresas brasileiras para o Paraguai agrava a desindustrialização nacional. Ao perder indústrias, o Brasil abre mão de arrecadação tributária e de milhares de empregos formais.
Por outro lado, o Paraguai tem conseguido acelerar seu crescimento econômico. Segundo dados do Banco Central do Paraguai, a participação da indústria no PIB do país cresceu nos últimos dez anos, em parte graças à migração de empresas estrangeiras, especialmente brasileiras.
O Paraguai como refúgio tributário e produtivo
No fim das contas, a adoção de um imposto fixo de 10% para empresas e pessoas físicas transformou o Paraguai em um verdadeiro refúgio tributário dentro da América do Sul.
A previsibilidade fiscal, a energia barata e os incentivos à exportação criaram um ambiente fértil para negócios, enquanto o Brasil segue atolado em discussões sobre como simplificar seu sistema.
Se antes a ideia de abrir uma empresa no Paraguai soava como piada, agora é uma estratégia concreta. Para empresários e trabalhadores brasileiros, esse movimento não é apenas sobre impostos, mas sobre buscar um futuro menos burocrático, mais competitivo e financeiramente viável.