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China parou de comprar soja, milho, trigo e sorgo dos Estados Unidos, ampliou o uso do yuan nas transações e reforçou acordos com os BRICS — com o Brasil assumindo a liderança nas exportações de soja

Escrito por Fabio Lucas Carvalho
Publicado em 08/10/2025 às 17:01
China compra soja dos países do BRICS e paga em yuan, deixando o dólar de lado e aprofundando a crise dos produtores americanos.
China compra soja dos países do BRICS e paga em yuan, deixando o dólar de lado e aprofundando a crise dos produtores americanos.
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A China deixou de comprar soja dos Estados Unidos e passou a negociar com países do BRICS, que agora aceitam o yuan chinês nas transações e fortalecem a influência da moeda asiática no comércio agrícola global

A relação comercial entre China e Estados Unidos vive um dos momentos mais delicados da última década. Nesse cenário, a soja americana se tornou uma arma geopolítica chinesa, que aproveita para aumentar os negócios com os países dos BRICS, fortalecendo o uso do yuan em detrimento do dólar americano.

Durante a atual temporada de exportações, Pequim interrompeu completamente a compra de soja norte-americana, redirecionando suas importações para países do BRICS e transformando o Brasil em seu principal fornecedor.

A decisão, consequência direta das tarifas e das tensões comerciais entre as duas maiores economias do planeta, provoca um colapso no setor agrícola dos EUA e amplia o uso do yuan nas transações internacionais.

Essa mudança não se limita à soja. A China não comprou milho, trigo ou sorgo dos EUA este ano, e as exportações de carne suína e algodão continuam em níveis reduzidos. 

BRICS assumem protagonismo no fornecimento de soja à China

A China, maior compradora mundial de soja, deixou de receber qualquer carregamento dos Estados Unidos, movimento que atinge diretamente os agricultores americanos, historicamente dependentes do mercado chinês.

Além do Brasil, outros países também reforçaram suas exportações.

A Argentina — embora fora do BRICS — também ganhou espaço no mercado chinês, ampliando suas vendas.

O Brasil, em destaque, não apenas enviou volumes recordes do grão como também passou a aceitar o pagamento em yuan, fortalecendo a nova dinâmica financeira e comercial estabelecida por Pequim.

Essa mudança de rota cria um cenário preocupante para os produtores dos Estados Unidos.

Sem espaço para escoar a produção, eles acumulam estoques e enfrentam preços estáveis, com margens cada vez menores de lucro.

Reação de Trump e novas ameaças tarifárias

O presidente Donald Trump reagiu à decisão chinesa prometendo medidas enérgicas.

Ele afirmou que se reunirá com o líder Xi Jinping nas próximas semanas e garantiu que “tudo vai dar muito certo”.

Trump também anunciou planos de ações para e socorrer agricultores afetados e prometeu “tornar a soja e outras culturas excelentes novamente”.

Enquanto isso, a China continua ampliando o uso do yuan nas transações agrícolas com países aliados.

Embora a Argentina ainda não aceite oficialmente a moeda chinesa, negociações estão em curso, o que pode consolidar a tendência de abandono do dólar nesse mercado estratégico.

As políticas tarifárias impostas pelos Estados Unidos parecem ter efeito contrário ao esperado: em vez de fortalecer o setor interno, elas prejudicam seus próprios produtores e impulsionam o fortalecimento das alianças comerciais chinesas dentro do BRICS.

Impacto devastador nas exportações americanas

Um levantamento da American Farm Bureau Federation, entidade que representa 6 milhões de produtores rurais nos Estados Unidos, mostra a dimensão do impacto.

Entre janeiro e agosto de 2025, a China importou apenas 5,8 milhões de toneladas de soja americana — contra 26,5 milhões no mesmo período do ano anterior, uma queda de quase 80%.

De junho a agosto, os EUA praticamente não embarcaram soja para o mercado chinês, e Pequim não adquiriu nenhuma nova colheita para a próxima safra.

Em contrapartida, o Brasil exportou mais de 77 milhões de toneladas no mesmo intervalo.

A Argentina também ampliou suas vendas ao suspender temporariamente o imposto de exportação, medida revertida apenas quando as exportações ultrapassaram US$ 7 bilhões.

Segundo a federação, essa retração não é pontual. Ela decorre de uma política de diversificação de fornecedores implementada por Pequim desde 2018, quando começou a guerra comercial entre os dois países.

Desde então, mesmo com a demanda interna em níveis recordes, a China deixou de priorizar os produtores norte-americanos.

Queda generalizada em outras exportações agrícolas

O impacto da reconfiguração comercial vai além da soja. As exportações de milho, trigo e sorgo dos Estados Unidos para a China chegaram a zero em 2025.

Já as vendas de carne suína e algodão seguem em ritmo reduzido, refletindo a perda de competitividade americana no mercado chinês.

O Departamento de Agricultura dos EUA projeta que o valor total das exportações agrícolas ao país asiático cairá para US$ 17 bilhões neste ano — 30% abaixo do registrado em 2024 e mais de 50% menor que o total de 2022.

Para 2026, a estimativa é ainda mais dramática: apenas US$ 9 bilhões, o menor patamar desde 2018.

Ajuda financeira e desafios internos

Diante do colapso, o governo Trump prepara um novo pacote de ajuda financeira aos produtores rurais, semelhante ao concedido em 2019, quando mais de US$ 22 bilhões foram destinados ao setor durante a primeira guerra comercial com a China. “Usaremos os recursos das tarifas para apoiar nossos agricultores”, disse Trump em sua rede Truth Social.

Além do impacto das tarifas, os produtores enfrentam uma queda no preço das commodities e um aumento nos custos logísticos, agravado pelo baixo nível do Rio Mississippi, importante via de transporte agrícola.

O Departamento de Agricultura projeta uma queda de 2,5% na renda agrícola dos EUA em 2025, o menor valor desde 2007.

Brasil e Argentina assumem liderança global

Para os produtores norte-americanos, o Brasil se tornou a principal ameaça na disputa pelo mercado chinês.

Desde maio, a China suspendeu totalmente as compras de soja dos Estados Unidos, e em abril impôs uma tarifa de 20% sobre o produto como retaliação às políticas comerciais de Trump.

A nova safra americana começou em setembro e, até agora, não houve vendas para a China — cenário que tem provocado protestos em várias regiões agrícolas do país.

A própria American Farm Bureau Federation confirmou que, entre junho e agosto, os EUA praticamente não venderam grãos para o mercado chinês, enquanto o Brasil registrou volumes recordes de exportação.

É um sinal de como a América do Sul passou a dominar o mercado e a substituir os produtores norte-americanos”, declarou a entidade. “As importações de soja da China não estão diminuindo; na verdade, atingiram níveis recordes. Mas a maior parte dessa demanda agora está sendo atendida por concorrentes”, acrescentou.

Setor pressiona por acordo comercial

Em setembro, a Associação Americana de Soja pressionou a Casa Branca por um acordo urgente com a China. A entidade destacou que Brasil e Argentina se consolidaram como os principais fornecedores do produto para os asiáticos.

A China é a maior compradora de soja do mundo e nosso maior mercado para exportação. Os Estados Unidos não fizeram nenhuma venda da nova safra de soja para a China”, afirmou a associação. “Isso permitiu que outros exportadores — Brasil e, agora, a Argentina — conquistassem esse mercado, em prejuízo direto aos agricultores dos EUA.

Um mês antes, a associação já havia enviado uma carta alertando o governo de que o setor agrícola estava “à beira de um precipício comercial e financeiro” e que não conseguiria sobreviver a longo prazo sem a retomada das vendas ao seu principal cliente.

Uma nova ordem no mercado global da soja

A atual guerra comercial entre Estados Unidos e China reconfigurou o mercado global da soja e colocou os países do BRICS — especialmente o Brasil — no centro das atenções.

Com exportações recordes, transações em moedas locais, e alianças comerciais fortalecidas, o Brasil se consolida como o principal fornecedor do grão para o gigante asiático.

Enquanto isso, os produtores norte-americanos enfrentam estoques crescentes, receitas em queda e uma dependência perigosa de medidas emergenciais do governo.

A disputa pela soja expõe uma transformação mais profunda: o declínio da hegemonia americana nas exportações agrícolas e a ascensão do eixo Sul-Sul como protagonista do comércio mundial.

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Fabio Lucas Carvalho

Jornalista especializado em uma ampla variedade de temas, como carros, tecnologia, política, indústria naval, geopolítica, energia renovável e economia. Atuo desde 2015 com publicações de destaque em grandes portais de notícias. Minha formação em Gestão em Tecnologia da Informação pela Faculdade de Petrolina (Facape) agrega uma perspectiva técnica única às minhas análises e reportagens. Com mais de 10 mil artigos publicados em veículos de renome, busco sempre trazer informações detalhadas e percepções relevantes para o leitor.

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