Pesquisas recentes sugerem que medicamentos como semaglutida e tirzepatida, usados para emagrecimento e diabetes, podem elevar risco de “derrame ocular” e agravar doenças na retina.
Dois novos estudos realizados nos Estados Unidos indicam que o uso do Ozempic e de outros medicamentos da mesma classe pode estar relacionado a um aumento no risco de uma condição rara chamada neuropatia óptica isquêmica anterior não arterítica (NAION), também conhecida como “derrame ocular”. As pesquisas analisaram registros médicos de mais de 159 mil pessoas com diabetes tipo 2 ao longo de dois anos.
A NAION ocorre quando há redução repentina do fluxo sanguíneo para o nervo óptico, provocando perda súbita e indolor da visão. A condição não tem cura e, em cerca de 70% dos casos, não há recuperação da visão. Embora seja rara, pacientes com diabetes já apresentam risco aumentado para desenvolver o problema.
De acordo com as pesquisas, entre os usuários de semaglutida ou tirzepatida, 0,04% desenvolveram NAION, contra 0,02% no grupo de comparação. Apesar da diferença ser pequena, os dados reforçam a necessidade de monitoramento para pacientes em uso desses medicamentos.
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Efeitos colaterais além da NAION
Além do risco de NAION, especialistas destacam que os medicamentos da classe dos agonistas de GLP-1, como o Ozempic, podem influenciar negativamente casos de retinopatia diabética, doença causada por danos nos vasos sanguíneos da retina.
Segundo os pesquisadores, a redução rápida dos níveis de açúcar no sangue, efeito esperado desses medicamentos, pode desestabilizar vasos frágeis no fundo do olho e levar a sangramentos. No entanto, os estudos apontaram que, apesar desse risco inicial, pacientes em uso de GLP-1 apresentaram menos complicações graves e necessitaram de menos tratamentos invasivos para a retinopatia em comparação com usuários de outras medicações para diabetes.
A Agência Europeia de Medicamentos já havia incluído a NAION como um efeito adverso raro no rótulo de medicamentos como a semaglutida, estimando um risco de 1 caso a cada 10 mil usuários.
Contrapontos e incertezas nas descobertas
Curiosamente, enquanto um dos estudos detectou um aumento discreto nos casos de NAION, o outro não encontrou evidência estatística significativa para essa associação. Essa divergência sugere que mais pesquisas são necessárias para confirmar ou descartar definitivamente a ligação entre Ozempic e perda súbita de visão.
Os especialistas afirmam que, embora a incidência seja baixa, o impacto para quem desenvolve a doença é severo, reforçando a importância da prevenção e do diagnóstico precoce. Outro ponto destacado é a possível relação dos medicamentos com outras desordens do nervo óptico, ainda não especificadas pelos códigos utilizados nos registros médicos analisados.
Enquanto isso, um ensaio clínico de cinco anos, com 1.500 participantes, está em andamento para avaliar os efeitos de longo prazo da semaglutida sobre doenças oculares relacionadas ao diabetes.
Recomendações para pacientes e médicos
Segundo os pesquisadores, pessoas com múltiplos fatores de risco para NAION, como apneia do sono, hipertensão e diabetes, devem avaliar cuidadosamente com seu médico a necessidade do uso desses medicamentos.
Outro fator anatômico de risco é o chamado “disco óptico congestionado”, quando os vasos sanguíneos na região de entrada do nervo óptico no olho são mais compactos, favorecendo obstruções. Esse detalhe pode ser identificado em exames oftalmológicos de rotina.
Mesmo sem sintomas, usuários de Ozempic e similares devem manter consultas regulares com oftalmologistas para detectar alterações precocemente. Relatar ao médico o uso do medicamento é fundamental para que o acompanhamento seja direcionado.
Cuidados para reduzir riscos
Além do acompanhamento oftalmológico, especialistas recomendam controle rigoroso de fatores de risco cardiovasculares, como colesterol, pressão arterial e glicemia, que também influenciam na saúde dos vasos sanguíneos dos olhos.
“A adesão ao tratamento de condições cardíacas está associada a menor risco de NAION”, destacam os pesquisadores. Pacientes com problemas cardíacos que seguem corretamente a medicação apresentam índices mais baixos da doença do que aqueles que não seguem o tratamento.
O tratamento de apneia do sono, aliado à manutenção de um estilo de vida saudável, pode contribuir para reduzir o risco de complicações oculares associadas ao uso de agonistas de GLP-1.
As informações foram divulgadas pelo portal Science Alert, com base em dois estudos publicados nesta semana e conduzidos com dados de pacientes dos Estados Unidos. O conteúdo também contou com detalhes técnicos apresentados por pesquisadores ligados ao Centre for Eye Research Australia e ao Karolinska Institutet.