Com injeção de centenas de milhões de dólares e apoio direto a empresas, o governo americano acelera esforços para construir uma cadeia de suprimentos nacional e quebrar o monopólio chinês em minerais essenciais.
A produção de terras raras dos EUA deve se expandir rapidamente nos próximos anos. O governo Trump está intensificando os esforços para desenvolver a indústria de minerais essenciais no país. O objetivo é claro: quebrar o domínio que a China exerce na cadeia de suprimentos global, uma vulnerabilidade considerada urgente para a segurança nacional e econômica.
A ameaça à segurança nacional e a dependência americana
Especialistas e legisladores alertam há anos que a dependência americana da China para minerais essenciais representa uma vulnerabilidade nacional. A lista inclui 50 minerais, entre eles 17 elementos de terras raras. Esses componentes são cruciais para a fabricação de smartphones, veículos elétricos, turbinas eólicas, mísseis e caças.
A urgência da situação ficou clara em abril. Na ocasião, Pequim impôs restrições à exportação, levando a uma paralisação temporária na produção de veículos da Ford. Uma ordem executiva de Trump em março declarou: “Nossa segurança nacional e econômica está agora gravemente ameaçada por nossa dependência da produção mineral de potências estrangeiras hostis”.
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Um “projeto Manhattan” para minerais com investimento bilionário
Para reverter o cenário, o governo federal está injetando centenas de milhões de dólares em empresas americanas. “Este é o momento do Projeto Manhattan para as terras raras”, afirmou Joshua Ballard, CEO da USA Rare Earth. A Casa Branca priorizou a revitalização da indústria nacional.
O Pentágono está investindo US$ 400 milhões na produtora MP Materials. A empresa também recebeu um empréstimo de US$ 150 milhões e uma garantia de compra para todos os ímãs produzidos em sua nova fábrica, com um preço mínimo fixado por uma década. Trump expressou confiança na estratégia, afirmando: “Teremos muitos ímãs em um período bem curto”.
A reação da indústria e o desafio de competir com a China
Empresas do setor veem o apoio como uma mudança significativa. Mark Smith, CEO da NioCorp, disse que os EUA cederam a indústria para a China ao longo de quatro décadas. Segundo ele, Pequim dominou o mercado ignorando preocupações ambientais e usando preços baixos para eliminar a concorrência. Esforços anteriores de empresas americanas falharam quando a China inundou o mercado com produtos baratos.
Agora, com o novo apoio, a situação pode mudar. A NioCorp, por exemplo, garantiu até US$ 10 milhões do Pentágono. Para Smith, um preço mínimo garantido pelo governo “tira o modus operandi chinês”. Enquanto isso, a Noveon Magnetics, única fábrica que hoje produz ímãs de terras raras nos EUA, está aumentando sua produção para 2.000 toneladas anuais.
O futuro da produção: demanda crescente e a necessidade de acordos
Apesar dos novos investimentos, as empresas americanas ainda estão longe de atender à demanda da América do Norte, estimada em 35.000 toneladas de ímãs por ano. Essa demanda pode dobrar na próxima década. David Abraham, especialista em metais raros, afirma que novas minas nos EUA ainda estão a anos de distância.
Por isso, segundo Abraham, “todos concordam que os EUA ainda precisam fechar um acordo com os chineses”. As empresas americanas precisam de mais ímãs e terras raras especializadas do que pode ser produzido internamente no curto prazo. Derek Scissors, do American Enterprise Institute, alerta para o risco de Trump considerar um sucesso um acordo comercial com a China, que ele acredita que não perduraria, mantendo a ameaça à independência econômica dos EUA.