Com mega complexos verticais de até 13 andares, o país asiático lidera a produção global de suínos e mantém reservas estratégicas para controlar preços e garantir o abastecimento da proteína mais consumida entre seus 1,4 bilhão de habitantes
A China concentra a maior população de suínos do planeta, com mais de 310 milhões de porcos criados por ano em sistemas de produção rural altamente avançados. Esse número representa mais de um terço do rebanho mundial e sustenta aproximadamente 50% do consumo global de carne suína. Para atender a essa demanda crescente, o país implementou uma estrutura robusta e moderna no agronegócio, baseada em complexos industriais verticalizados, com até 13 andares dedicados exclusivamente à criação de porcos, conhecidos como os “hotéis de porcos”.
Essas instalações de fazendas de porcos verticais foram concebidas para conter surtos de doenças como a peste suína africana, que afetou severamente a produção entre 2018 e 2019. Equipadas com tecnologia agrícola de ponta, as unidades possuem sistemas de controle climático, esteiras automatizadas para alimentação, manejo de resíduos e protocolos rígidos de biossegurança, similares aos utilizados em laboratórios.
Além do foco em saúde animal, as granjas priorizam eficiência produtiva e escala industrial, aspectos essenciais dentro da agricultura intensiva moderna. De acordo com dados do governo chinês, cerca de 60% de toda a carne consumida no país é de porco, o que reforça o papel estratégico da suinocultura na cadeia do agronegócio e nas políticas de segurança alimentar rural.
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Reservas estratégicas e controle de preços
O modelo de produção chinês vai além da criação. Desde 2007, o país mantém uma reserva estratégica de carne suína. Essa medida serve para evitar oscilações drásticas nos preços do alimento, garantindo estabilidade tanto para consumidores quanto para produtores.
Em períodos de alta nos preços, o governo libera toneladas de carne estocada no mercado para conter a inflação. Já em momentos de queda acentuada, o Estado compra animais vivos ou carne processada para sustentar o valor mínimo de mercado, protegendo a rentabilidade da fazenda de porcos e evitando falências no setor.
A estratégia reforça o papel da carne suína como insumo essencial na segurança alimentar nacional. Com isso, o governo chinês consegue intervir rapidamente, assegurando o fornecimento contínuo em supermercados e feiras, especialmente em datas festivas.
Avanços tecnológicos e desafios ambientais
Com a industrialização da produção, a engenharia das granjas automatizadas se tornou um diferencial competitivo. Esses megacomplexos conseguem operar com alta densidade de animais por metro quadrado e usam sensores para monitorar temperatura, umidade, crescimento dos suínos e até indicadores de saúde em tempo real.
No entanto, o crescimento acelerado da suinocultura trouxe também desafios ambientais. As emissões de gases como metano, amônia e sulfeto de hidrogênio aumentaram nas regiões com maior concentração de fazendas. Esses compostos são gerados a partir do esterco acumulado e podem impactar o solo, lençóis freáticos e o ar das comunidades vizinhas.
Segundo estudos científicos, a exposição a esses gases pode causar náuseas, irritações nos olhos e doenças respiratórias tanto nos trabalhadores das granjas quanto nos moradores das redondezas. Ainda assim, a falta de regulação em alguns países dificulta o controle e monitoramento dos impactos.
O uso de antibióticos e o risco de resistência bacteriana
Outro ponto sensível no sistema industrial chinês e global é o uso de medicamentos para acelerar o crescimento dos porcos. Substâncias como ractopamina ainda são utilizadas em algumas nações para promover maior massa muscular e menor teor de gordura, embora estejam proibidas na União Europeia, China e Rússia.
Casos como a descoberta da bactéria resistente ao antibiótico colistina em uma fazenda de porcos em Xangai em 2013 alertaram o mundo sobre o risco do uso indiscriminado de antimicrobianos. Desde então, a China passou a adotar normas mais rígidas para restringir esses compostos e evitar o surgimento de super bactérias.
O país também intensificou os investimentos em pesquisa genética e nutrição animal, buscando formas de manter a produtividade sem comprometer a saúde pública ou a qualidade do produto final.