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OpenAI lança desafio na Amazônia e governo brasileiro exige explicações da dona do ChatGPT

Publicado em 20/08/2025 às 10:08
Amazônia, Floresta, OpenAI, Concurso
Foto: lubasi / Wikimedia Commons / CC BY-SA 2.0
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Governo brasileiro cobra explicações da OpenAI sobre concurso que promete localizar sítios arqueológicos na Amazônia e pode afetar povos tradicionais

O Ministério dos Povos Indígenas cobrou explicações da OpenAI sobre um concurso internacional que busca identificar sítios arqueológicos na Amazônia. A iniciativa, chamada “OpenAI to Z Challenge”, gerou preocupação no governo brasileiro, que teme impactos sobre normas legais e populações tradicionais. As informações são da Folha de São Paulo.

O desafio e a lenda da cidade Z

O concurso foi lançado em maio, com inscrições encerradas em 29 de junho. A lista das cinco equipes finalistas ainda não foi divulgada.

O nome faz referência à lenda da cidade perdida de Z, supostamente localizada no Mato Grosso.

O mito ganhou notoriedade no início do século XX, quando o explorador britânico Percy Harrison Fawcett desapareceu em expedição ao Alto Xingu, junto com o filho e um amigo.

O desaparecimento completa cem anos em 2025, e a OpenAI aproveitou a data para lançar o desafio, que distribui US$ 400 mil (R$ 2,4 milhões) em prêmios.

Na página oficial, a empresa destaca que, pela primeira vez, qualquer pessoa pode realizar pesquisas arqueológicas usando imagens de satélite, mapas e histórias indígenas de código aberto.

Segundo o texto, a combinação de dados pode preencher lacunas na história e abrir caminho para novas descobertas.

Foco na Amazônia

A OpenAI sugeriu que as equipes concentrem as buscas na Amazônia, abrangendo países como Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname, Venezuela e Guiana Francesa.

O detalhe é que o governo brasileiro não foi informado previamente. Há normas rígidas para pesquisas arqueológicas no país, e Brasília quer saber quais critérios jurídicos e metodológicos foram usados no concurso.

Um ofício assinado pela secretária de articulação e promoção de direitos indígenas, Giovana Mandulão, pede que a empresa não divulgue os mapas com localização de sítios até que haja alinhamento com órgãos competentes.

A resposta da OpenAI

À Folha, a empresa disse que o concurso foi criado com apoio de acadêmicos e tem como objetivo estimular “pesquisa genuína”.

Afirmou ainda que os participantes só usarão dados públicos e que os trabalhos não serão aproveitados para treinar modelos de inteligência artificial.

A OpenAI também prometeu diálogo com instituições brasileiras e reafirmou que seguirá a legislação nacional.

Críticas da comunidade científica

A Sociedade de Arqueologia Brasileira (SAB) reagiu negativamente à iniciativa. Em nota, criticou a ausência de consulta a indígenas, quilombolas e povos tradicionais. Também afirmou que a referência à cidade Z pode reforçar desinformação na região.

A vice-presidente da entidade, Bruna Cigaran da Rocha, disse que realizar uma competição sem a concordância dessas populações é “altamente antiético”.

Segundo ela, o Brasil já construiu parâmetros sólidos sobre como o patrimônio arqueológico deve ser estudado.

A SAB lembra ainda que a Convenção da Organização Internacional do Trabalho (OIT) garante aos povos indígenas o direito de “consulta livre, prévia e informada” sobre qualquer pesquisa em seus territórios.

Preocupações do Iphan

O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) também manifestou ressalvas. O órgão teme que o desafio resulte em efeitos práticos indesejáveis, como identificação incorreta de sítios arqueológicos ou acesso irregular a áreas já estudadas por especialistas.

Além disso, a possibilidade de divulgação pública de dados sensíveis poderia facilitar o acesso de pessoas não autorizadas a locais que exigem controle rígido.

Apoio com ressalvas

Apesar das críticas, alguns pesquisadores veem valor na iniciativa. O arqueólogo Francisco Pugliese, da Universidade de Brasília, afirmou à Folha que se inscreveu no concurso com um projeto desenvolvido no sudoeste amazônico.

Para ele, as novas tecnologias permitem organizar grandes volumes de dados e abrem um cenário promissor de pesquisa. Pugliese, no entanto, reforça que a participação de indígenas deve ser garantida.

Se não tomarmos as rédeas desse processo, serão os arqueólogos que farão uma ciência predatória. É nosso papel mostrar que essas ferramentas devem ser usadas com ética”, disse.

Debate em aberto

O caso expôs um debate crescente: como equilibrar inovação tecnológica e respeito às comunidades locais. De um lado, o desafio pode acelerar descobertas e dar visibilidade à arqueologia amazônica.

De outro, levanta dúvidas jurídicas, éticas e sociais que o governo brasileiro quer esclarecer antes que qualquer resultado seja divulgado.

Com informações de Olhar Digital.

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Romário Pereira de Carvalho

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