EUA acumulam 90 mil toneladas de lixo nuclear em 39 estados enquanto solução definitiva segue indefinida após décadas de impasse político
A quantidade de lixo nuclear acumulado nos Estados Unidos ultrapassa 90.000 toneladas.
Esse material está espalhado por mais de 100 locais em 39 estados, guardado em diferentes tipos de estruturas.
A busca por uma solução definitiva se arrasta há décadas, mas ainda não existe um destino fixo para esse tipo de resíduo. Enquanto isso, os reatores continuam produzindo mais lixo, aumentando o desafio.
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A tentativa frustrada de criar um local definitivo
Em 1987, uma lei federal apontou Yucca Mountain, em Nevada, como local permanente para descarte de resíduos nucleares.
No entanto, disputas políticas e jurídicas frearam a construção. Quando as obras mal haviam começado, o Congresso suspendeu totalmente o financiamento em 2011.
Desde então, a questão continua sem resposta. Em março de 2025, a Suprema Corte dos EUA analisou um processo sobre o possível armazenamento temporário desses resíduos. 3
A decisão está prevista para o final de junho, mas mesmo assim, o impasse deve continuar por muitos anos.
O que compõe o lixo nuclear dos EUA
Existem dois tipos principais de lixo radioativo nos EUA. O primeiro é o resíduo das armas nucleares produzidas durante a Guerra Fria.
O segundo vem da geração de eletricidade nas usinas nucleares. Há ainda pequenas quantidades ligadas a tratamentos médicos, mas em escala muito menor.
No caso dos resíduos militares, o material é derretido com vidro e armazenado em contêineres de aço inoxidável.
Esses recipientes têm cerca de 3 metros de altura, 60 centímetros de diâmetro e chegam a pesar 2.260 quilos quando cheios.
Hoje, a maior parte desses resíduos está armazenada em tanques subterrâneos de aço. Os principais locais são Hanford, em Washington, e Savannah River, na Carolina do Sul. Em Savannah, uma parte já foi tratada com vidro, mas muito ainda está sem qualquer tipo de processamento.
Em ambos os locais, já ocorreram vazamentos para o solo. As autoridades afirmam que não há riscos para a saúde humana. Os esforços hoje se concentram em proteger os tanques contra corrosão e rachaduras para evitar novos vazamentos.
O lixo das usinas de energia nuclear
A maior parte do lixo nuclear do país vem das usinas de geração de energia. Esse resíduo é o combustível utilizado dentro dos reatores.
Antes de ser usado, o material aparece em forma de pastilhas de óxido de urânio, seladas em tubos de zircônio e agrupadas em feixes.
Cada feixe pode ter entre 3,6 e 5,8 metros de comprimento e entre 13 e 20 centímetros de diâmetro. Eles são inseridos nos reatores, onde ocorrem reações de fissão nuclear.
Esse processo gera calor, que é transformado em vapor ou água quente para movimentar turbinas e produzir eletricidade.
Depois de três a cinco anos, a fissão diminui, mas o material ainda é altamente radioativo. Nesse momento, os feixes são removidos do reator e levados para uma piscina de resfriamento com água, dentro do próprio terreno da usina.
Após cerca de cinco anos, os feixes são secos e lacrados em contêineres de aço inoxidável. Esses contêineres permanecem radioativos e precisam continuar sendo resfriados.
Por isso, ficam armazenados em câmaras de concreto, também nas dependências da usina, sobre uma base de concreto.
Essas câmaras têm aberturas para garantir a circulação de ar, o que permite o resfriamento constante dos recipientes. Até dezembro de 2024, já havia mais de 315.000 feixes de combustível usados e mais de 3.800 tonéis de armazenamento seco espalhados pelo país.
Mesmo usinas que já foram desativadas e demolidas continuam mantendo esses resíduos. A responsabilidade por sua guarda continua com as empresas de energia.
Um problema chamado corrosão
As usinas nucleares precisam estar perto da água, seja para gerar vapor, seja para resfriar o reator. Por isso, muitas estão localizadas próximas a rios ou ao mar. Nove delas estão a menos de 3 quilômetros do oceano.
Esse fator representa uma ameaça: a corrosão. A água salgada do mar se transforma em névoa que atinge estruturas metálicas. Com o tempo, o sal acumulado nessas superfícies pode causar a corrosão dos contêineres.
Embora o aço inoxidável seja resistente à corrosão, certos ambientes podem formar cavidades e rachaduras. Isso já foi constatado em testes financiados pelo Departamento de Energia dos EUA.
Ainda assim, um vazamento radioativo exigiria não só a corrosão do contêiner, mas também das barras de zircônio e do combustível em seu interior. Por isso, os especialistas consideram improvável que isso ocorra nesses sistemas.
Encontrar uma solução definitiva para o lixo nuclear americano ainda parece algo distante.
Qualquer local de armazenamento a longo prazo precisa ser geologicamente estável por milhares de anos, politicamente aceito pela população e viável para o transporte dos resíduos.
Até lá, a única alternativa continua sendo manter os resíduos nos locais onde foram produzidos. Mesmo que a Suprema Corte aprove um local temporário ainda este ano, a busca por um destino permanente seguirá indefinida.