O trem elétrico a baterias com autonomia ilimitada aproveita a geografia para gerar sua própria energia e percorrer mais de 600 km sem recarga
Imagine um trem de carga capaz de rodar mais de 600 km sem usar uma gota de combustível, nem parar em estações de recarga. Isso já é realidade na Austrália. A mineradora Fortescue iniciou os testes com um protótipo de trem 100% elétrico movido por regeneração de energia – e o projeto pode aposentar de vez as locomotivas a diesel, economizando mais de 82 milhões de litros de combustível por ano.
Como funciona o “trem infinito” sem recarga?
A engenhosidade do sistema está na topografia da região de Pilbara, no oeste australiano. Lá, os trens descem as serras carregados de minério rumo ao porto de Perth. Durante essa longa descida, o trem usa um sistema de frenagem regenerativa para converter o atrito em eletricidade, que é armazenada em baterias de alta capacidade. E quando ele retorna vazio para o ponto de partida, essa mesma energia acumulada o impulsiona de volta — sem recarregar, sem reabastecer, sem parar.
É como se fosse um carro elétrico com freios regenerativos, só que em escala industrial.
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O impacto ambiental e financeiro
Segundo a Fortescue, o novo trem poderá substituir todas as locomotivas a diesel da empresa, que hoje somam mais de 50 unidades espalhadas em 16 composições. Apenas com um único trem, a economia de combustível chega a dezenas de milhões de litros anuais. E mais do que isso: a tecnologia pode eliminar completamente as emissões de gases de efeito estufa no transporte ferroviário da empresa até 2030, tornando a operação carbono zero.
O projeto também reduz significativamente a complexidade logística, eliminando a necessidade de infraestruturas para recarga ou abastecimento. Isso representa economia direta para os operadores e redução de custos no longo prazo.
Tecnologia de ponta: da Fórmula E para a mineração
As baterias que alimentam o chamado Infinity Train foram desenvolvidas pela britânica Williams Advanced Engineering, conhecida por sua atuação na Fórmula E. A empresa foi comprada pela Fortescue em 2022, com o objetivo claro de acelerar a transição energética no setor de mineração.
Em entrevista recente, executivos da Fortescue destacaram que os testes em andamento são fundamentais para validar o desempenho e a confiabilidade do sistema em condições reais de operação, especialmente no ambiente severo do interior australiano.
Uma ideia que pode mudar o mundo
Embora o conceito de recuperar energia durante a descida já tenha sido aplicado antes — como no caminhão elétrico de mineração Komatsu 605-7, na Suíça — esta é a primeira vez que um trem inteiro de carga realiza uma operação completa sem depender de energia externa.
Especialistas apontam que a iniciativa australiana pode se tornar referência global para outros países com rotas ferroviárias similares, inclusive o Brasil, onde trechos longos de mineração com desnível acentuado também são comuns, como na Serra dos Carajás.