Cientistas brasileiros desvendam o potencial de toxinas da aranha-armadeira e da caranguejeira, criando um gel inovador para disfunção erétil e uma nova frente contra a leucemia.
A ideia de que o veneno de aranha pode valer mais que um diamante e curar tanto o câncer quanto a disfunção erétil capturou a imaginação popular. No entanto, essa noção simplifica uma verdade científica ainda mais fascinante. Na realidade, trata-se de duas linhas de pesquisa distintas e inovadoras no Brasil. Uma delas resultou em um tratamento revolucionário para a disfunção erétil. A outra abriu um novo caminho promissor para a oncologia. Este artigo desvenda os fatos por trás dessas descobertas, baseando-se apenas em informações científicas consolidadas.
A pesquisa com a aranha-armadeira
A jornada começa com a Phoneutria nigriventer, a temida aranha-armadeira. Nativa do Brasil, ela é conhecida por sua postura agressiva e pela potência de seu veneno. Uma picada causa dor intensa, sudorese e alterações cardíacas. Contudo, um efeito colateral em homens despertou o interesse científico: o priapismo, uma ereção dolorosa e prolongada.
Essa observação clínica, feita há mais de 30 anos pelo médico Carlos Ribeiro Diniz, foi o ponto de partida. Ele questionou qual componente no veneno de aranha causava esse efeito. A partir daí, uma colaboração exemplar entre a Funed e a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), liderada pela professora Maria Elena de Lima, iniciou uma busca meticulosa pela molécula responsável.
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O gel que promete revolucionar o tratamento da disfunção erétil
Após décadas de pesquisa, os cientistas isolaram a toxina PnTx2-6. Ela era eficaz, mas muito tóxica para uso humano. A verdadeira inovação foi usar a bioinformática para criar uma versão sintética, menor e segura. Nasceu assim a BZ371A, uma molécula com apenas 19 aminoácidos, projetada em laboratório.
A BZ371A funciona de maneira diferente dos remédios atuais como a sildenafila. Em vez de agir no final do processo bioquímico, ela atua no início, estimulando a produção de óxido nítrico, a molécula que inicia a ereção. Isso a torna uma potencial solução para pacientes que não respondem aos tratamentos convencionais, como diabéticos graves e homens que removeram a próstata.
Administrada como um gel de aplicação local, a BZ371A demonstrou ser segura em ensaios de Fase 1. Os resultados da Fase 2, em pacientes com disfunção erétil severa pós-cirurgia de próstata, foram impressionantes. A combinação do gel com tadalafila (Cialis) mostrou-se quase dez vezes mais eficaz que o tratamento padrão sozinho. A expectativa é que o produto chegue ao mercado a partir de 2026.
Uma história de duas aranhas distintas
É crucial esclarecer: a molécula BZ371A não é um tratamento direto para o câncer. Sua ligação com a oncologia é indireta. O medo da disfunção erétil após a cirurgia de remoção da próstata faz com que muitos homens adiem o tratamento. Ao oferecer uma solução eficaz para a reabilitação sexual, a BZ371A pode encorajar mais homens a realizar a cirurgia, melhorando os resultados no combate ao câncer de próstata.
A pesquisa sobre um agente anticancerígeno direto vem de outra fonte: o veneno de aranha caranguejeira, a Vitalius wacketi. Uma colaboração entre o Instituto Butantan e o Hospital Albert Einstein, em São Paulo, identificou uma molécula sintética, baseada nesse veneno, capaz de eliminar células de leucemia em laboratório.
O grande diferencial dessa molécula é seu mecanismo de ação. Ela mata as células tumorais por apoptose, a “morte celular programada”. Este é um processo limpo, que não causa a inflamação severa associada à quimioterapia tradicional. Isso abre caminho para uma terapia potencialmente tão eficaz quanto as atuais, mas com muito menos efeitos colaterais.
O real valor da inovação brasileira
A comparação do valor do veneno de aranha com o de um diamante é uma metáfora. O verdadeiro valor não está na substância bruta, que é difícil de obter. Ele reside na informação contida na toxina e, principalmente, na propriedade intelectual que a protege.
A empresa Biozeus, que licenciou a molécula da UFMG, já garantiu 22 patentes internacionais para a BZ371A. Essas patentes são as verdadeiras joias. Elas protegem a inovação e garantem o monopólio de mercado. Considerando que o mercado global de disfunção erétil movimenta bilhões de dólares, o retorno financeiro de um produto inovador como este pode superar em muitas vezes o valor de um diamante.