O papel das baratas na transição energética
Pesquisadores da USP e da UFRJ investigam, desde 2023, como o sistema digestivo das baratas pode ser usado como modelo para a produção de bioenergia.
Embora muitas vezes vistas como pragas urbanas, as baratas, especialmente a espécie Periplaneta americana, possuem um sistema digestivo altamente adaptável.
Esse mecanismo permite a degradação eficiente de fibras vegetais e resíduos orgânicos, o que desperta interesse científico e industrial.
Assim, compreender esse processo pode ser um passo essencial para uma matriz energética mais limpa e sustentável.
O estudo sobre a digestão eficiente das baratas
Ao longo de milhões de anos, esses insetos desenvolveram uma digestão extremamente eficaz para aproveitar diferentes fontes de alimento.
Em 2024, Marcos Buckeridge, professor do Instituto de Biociências da USP, e Ednildo Machado, entomólogo da UFRJ, detalharam no periódico BioEnergy Research como o intestino das baratas funciona.
O processo funciona como uma linha de produção natural.
Nesse sistema, cada parte do trato digestivo atua triturando, degradando e aproveitando ao máximo a biomassa vegetal.
A pesquisa destaca que a replicação desse processo poderia reduzir custos de produção de etanol e aumentar a eficiência industrial.
O potencial da biomimética aplicada à energia
A partir da biomimética, conceito baseado na observação da natureza, os cientistas acreditam que o estudo das baratas pode inspirar soluções industriais.
Isso inclui o aproveitamento do bagaço de cana-de-açúcar de forma mais eficiente.
Os pesquisadores acreditam que a aplicação do processo em escala industrial aumentará a degradação da biomassa e impulsionará a produção de etanol no Brasil.
A estratégia pode contribuir para menor uso de terras agrícolas e maior preservação de áreas florestais.
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Caminhos sustentáveis para o bioetanol
Os estudos publicados em 2024 reforçam que o objetivo não é criar usinas repletas de baratas.
A meta é entender seus mecanismos digestivos e replicá-los com tecnologia.
Dessa forma, seria possível produzir bioetanol sem recorrer a processos químicos agressivos, reduzindo impactos ambientais.
Além disso, a adaptação da indústria aos modelos naturais pode acelerar a transição energética.
Novas enzimas e microorganismos inspirados no sistema digestivo desses insetos podem ser aplicados para otimizar a produção em larga escala.
Próximos passos da pesquisa
Segundo Buckeridge e Machado, a investigação seguirá com o estudo de outros insetos, como cupins e tenébrios. Além disso, essas espécies apresentam maior capacidade de degradar celulose.
Como resultado dos testes realizados, foi possível observar que essas espécies conseguem quebrar até 90% da biomassa. Esse desempenho abre espaço para novas aplicações industriais.
Ao mesmo tempo, a ciência avança rumo a soluções bioenergéticas que sejam mais limpas, acessíveis e eficazes para enfrentar os desafios energéticos atuais.
Por esse motivo, a biotecnologia baseada em insetos se apresenta como uma alternativa promissora para transformar a matriz energética brasileira nos próximos anos.
Portanto, espera-se que os próximos estudos fortaleçam ainda mais o papel desses organismos na transição para fontes renováveis de energia.