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O Rio invisível do Amazonas: o misterioso rio subterrâneo de mais de 6 mil km que corre sob o Amazonas

Escrito por Fabio Lucas Carvalho
Publicado em 11/06/2025 às 12:37
Amazonas, rio
Foto: Reprodução
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Pouca gente imagina, mas sob o maior rio do mundo corre outro gigante escondido a quilômetros de profundidade. Descoberto por uma pesquisadora brasileira, o Rio Hamza percorre uma extensão semelhante à do Amazonas, mas debaixo da terra, longe dos olhos humanos. A história dessa descoberta é marcada por dados surpreendentes, críticas da comunidade científica e o desafio de investigar um fluxo de água que ainda intriga estudiosos até hoje.

A região amazônica guarda segredos abaixo da superfície. Um deles chamou a atenção do mundo científico em 2010, quando a professora Elizabeth Pimentel descobriu, durante seu doutorado, a existência de um gigantesco rio subterrâneo que corre sob o Rio Amazonas. O nome dele é Rio Hamza.

A descoberta surpreendeu por indicar a presença de um fluxo de água com mais de seis mil quilômetros de extensão, escondido a milhares de metros de profundidade.

A pesquisa começou com dados de temperatura em poços perfurados pela Petrobras, durante buscas por petróleo na região amazônica. Mas os resultados levaram a uma revelação inesperada.

A descoberta surgiu de dados térmicos

Elizabeth analisava temperaturas registradas no fundo de poços isolados, nos quais só se encontrava água.

Seu objetivo era entender o comportamento geotérmico da região. No entanto, a professora percebeu algo fora do padrão: a área amazônica apresentava temperaturas mais frias em comparação com outras regiões.

Esse comportamento diferente serviu de motivação para aprofundar o estudo. Modelos de circulação de fluidos foram aplicados para interpretar os dados.

Um deles se encaixou perfeitamente. Isso levou à conclusão de que havia uma grande movimentação de água subterrânea, capaz de dissipar calor e manter o subsolo mais frio.

Segundo a pesquisadora, esse fluxo ocorre em profundidades que chegam a até quatro mil metros.

A água não voltaria para cima por conta da inclinação das placas tectônicas da região, que direcionam o fluxo dos Andes até o Oceano Atlântico. Assim como na superfície, o caminho da água subterrânea seguiria dos Andes até a foz do rio.

Movimento lento, mas contínuo

As análises mostraram que o fluxo não acontece como em rios com corredeiras, mas sim de forma lenta, entre as rochas. As bacias sedimentares entre o Acre e o Oceano Atlântico demonstraram uma queda de profundidade que reforça essa hipótese.

Segundo a professora, a água percorre esse caminho silencioso, a milhares de metros da superfície, por meio dos poros das rochas.

A extensão confirmada da presença de água subterrânea acompanha a do Rio Amazonas — mais de seis mil quilômetros. Contudo, a pesquisadora acredita que essa extensão pode ser ainda maior, pois a pesquisa abrangeu apenas áreas dentro do território brasileiro.

A homenagem ao seu orientador de doutorado deu nome ao rio: Hamza. E assim passou a ser conhecida essa descoberta que abriu uma nova visão sobre os recursos hídricos do Brasil.

Evidências e bolsões no oceano

Sem imagens ou registros diretos, a existência do Rio Hamza depende de evidências geofísicas. Mas a pesquisadora aponta fenômenos que reforçam sua tese, como a presença de bolsões de água doce em alto-mar.

Elizabeth afirma que pescadores já relataram encontrar água doce em regiões afastadas da costa. A explicação, segundo ela, seria o fluxo de rios subterrâneos como o Hamza, que seguem até o oceano e acabam liberando essa água doce no mar, mesmo a grandes distâncias da costa.

Para a pesquisadora, esse fenômeno reforça a ideia de que a água subterrânea percorre grandes distâncias em profundidade e emerge em pontos específicos, o que sustentaria a existência de um rio subterrâneo com as características descritas em sua pesquisa.

Reações da comunidade científica

A repercussão foi imediata, mas também dividida. A professora lembra que, ao divulgar os dados, recebeu diversas críticas, especialmente de geólogos. Segundo ela, parte da resistência veio da diferença de abordagem entre geólogos e geofísicos.

Enquanto geólogos tendem a exigir amostras físicas para validar teorias, os geofísicos utilizam evidências indiretas, como as medidas de temperatura, para fazer inferências e prospecções. Foi com base nesse segundo método que o Rio Hamza foi descrito.

Outro ponto de discordância é sobre a comunicação entre as bacias sedimentares. A pesquisa de Elizabeth indica que elas são conectadas por meio do fluxo de água, enquanto geólogos costumam considerá-las compartimentos isolados, separados por estruturas como arcos geológicos.

Segundo a professora, o modelo adotado por ela mostra que há um fluxo contínuo entre as bacias, com a água se movendo pelos poros das rochas.

Isso gera uma circulação ampla, o que seria a base da existência do rio subterrâneo.

Pesquisa interrompida por falta de apoio

Após a conclusão da pesquisa em 2013, Elizabeth conseguiu publicar dois artigos internacionais. Porém, ela precisou retomar seu trabalho na Universidade Federal do Amazonas, o que a impediu de continuar com os estudos em ritmo acelerado.

A continuidade da pesquisa esbarrou em dificuldades. Segundo a professora, seriam necessários equipamentos sofisticados e um alto investimento financeiro para coletar novos dados em profundidade. Recursos que ela não conseguiu obter na época.

Mais tarde, em 2018, Elizabeth conseguiu aprovar um projeto na Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) para coletas em áreas mais rasas. As coletas foram feitas em Manaus e em Humaitá, onde ela reside atualmente.

Essas novas análises detectaram alterações climáticas ao longo do último milênio, mas não trouxeram novos dados profundos sobre o Rio Hamza. A limitação técnica e orçamentária ainda impede o avanço do estudo em profundidade.

Potencial futuro do reservatório

Mesmo com a paralisação das pesquisas profundas, a professora acredita que o Rio Hamza representa uma grande descoberta. Segundo ela, o fluxo indica a existência de um reservatório de água em subsuperfície, que pode vir a ser útil no futuro.

Ela ressalta que, além dos aquíferos já conhecidos, há ainda outras reservas hídricas em camadas mais profundas do solo. E essa água, possivelmente potável, pode se tornar um recurso estratégico.

Para Elizabeth, o Rio Hamza representa uma garantia de que o subsolo da Amazônia guarda um potencial hídrico ainda pouco explorado, que pode servir como alternativa em cenários futuros de escassez.

A professora finaliza afirmando que, embora o trabalho sobre o Rio Hamza não tenha avançado nos últimos anos, a descoberta permanece válida.

E acredita que, com novas tecnologias e apoio adequado, será possível continuar explorando esse fenômeno e revelar ainda mais sobre o que corre abaixo do maior rio do mundo.

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Fabio Lucas Carvalho

Jornalista especializado em uma ampla variedade de temas, como carros, tecnologia, política, indústria naval, geopolítica, energia renovável e economia. Atuo desde 2015 com publicações de destaque em grandes portais de notícias. Minha formação em Gestão em Tecnologia da Informação pela Faculdade de Petrolina (Facape) agrega uma perspectiva técnica única às minhas análises e reportagens. Com mais de 10 mil artigos publicados em veículos de renome, busco sempre trazer informações detalhadas e percepções relevantes para o leitor. Para sugestões de pauta ou qualquer dúvida, entre em contato pelo e-mail flclucas@hotmail.com.

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