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O país vizinho do Brasil que cultiva batatas sem trator, sem veneno e sem irrigação há séculos — e poderia salvar lavouras por aqui

Escrito por Valdemar Medeiros
Publicado em 23/06/2025 às 19:30
Atualizado em 24/06/2025 às 19:41
O país vizinho do Brasil que cultiva batatas sem trator, sem veneno e sem irrigação há séculos — e poderia salvar lavouras por aqui
Foto: técnica waru waru/Reprodução
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Uma tecnologia agrícola ancestral usada no Peru permite o cultivo de batatas sem trator, veneno ou irrigação — mesmo em altitudes congelantes. O método, que resiste ao tempo e ao clima, pode ser uma resposta para a estiagem no Brasil.

O Brasil enfrenta estiagens cada vez mais severas, com agricultores perdendo lavouras inteiras por falta de chuva, insumos caros e tecnologias inadequadas ao novo clima. Mas a solução pode estar logo ao lado, nas montanhas do Peru, onde, há séculos, comunidades indígenas cultivam batatas sem trator, sem agrotóxicos e sem irrigação — em altitudes de até 4 mil metros. Esse feito impressionante só é possível graças a uma tecnologia agrícola ancestral chamada “waru waru”, ou “campos elevados”, uma das tecnologias agrícolas mais engenhosas da história pré-colombiana — e que hoje volta a ser estudada por cientistas do mundo todo como uma ferramenta eficaz de adaptação climática e resiliência agrícola.

O que são os “waru waru”? E como funciona essa tecnologia agrícola ancestral

Os waru waru são sistemas de plantio em terrenos elevados, cercados por canais d’água rasos que retêm calor durante o dia e o liberam à noite, protegendo as plantas das geadas que ocorrem em altitudes elevadas.

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Essa estrutura não só protege do frio, mas também acumula água da chuva, evita erosão, e mantém o solo fértil e úmido por muito mais tempo — mesmo sem irrigação direta. É como se o solo se auto-hidratasse com as reservas naturais acumuladas.

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Além disso, o design dos waru waru previne alagamentos e mantém os campos aerados, criando um microclima ideal para o cultivo de tubérculos como a batata, um dos alimentos mais importantes da dieta andina.

Tecnologia agrícola ancestral com eficiência moderna

Estudos realizados por universidades do Peru e da Bolívia mostram que a produtividade dos waru waru pode superar em até 70% as lavouras convencionais em climas semelhantes, mesmo com menos insumos.

E mais: por não depender de irrigação ou máquinas pesadas, a técnica é mais barata, mais sustentável e mais acessível para pequenos agricultores.

Durante séculos, os povos indígenas da região do Lago Titicaca cultivaram não só batatas, mas também quinoa, cevada e outras culturas nos waru waru — mantendo uma produção estável mesmo diante de secas, enchentes ou ondas de frio.

Por que o Brasil deveria prestar atenção nisso?

A resposta está nas mudanças climáticas que afetam fortemente o setor agrícola brasileiro. Estados como São Paulo, Mato Grosso do Sul e Goiás já sofrem com períodos prolongados de estiagem, que reduzem drasticamente a produtividade de culturas como milho, feijão e batata.

Em paralelo, o custo de insumos agrícolas (fertilizantes, agrotóxicos, energia elétrica para irrigação) aumentou exponencialmente. Em muitos casos, pequenos agricultores simplesmente não conseguem mais sustentar o modelo atual de produção.

Trazer a lógica dos campos elevados andinos para o Brasil — especialmente em regiões de clima seco e solo pobre — pode ser a chave para manter a produção mesmo em anos de clima imprevisível.

Exemplo de eficiência ancestral: o cultivo de batatas

O Peru é conhecido por abrigar mais de 4 mil variedades de batata, muitas delas nativas e adaptadas a solos ácidos, frios e pobres em nutrientes. Grande parte dessas variedades é cultivada sem nenhum tipo de maquinário ou insumo químico.

Os agricultores da região de Puno, por exemplo, ainda usam sementes crioulas e técnicas transmitidas de geração em geração. A seleção é feita manualmente, a terra é preparada com ferramentas simples, e o plantio segue os ciclos lunares.

Mesmo com essas práticas aparentemente “rústicas”, os rendimentos são estáveis, e os produtos possuem alto valor nutricional e resiliência genética — algo cada vez mais valorizado em tempos de escassez hídrica.

Reconhecimento internacional e resgate da técnica

Com o avanço da desertificação e da crise climática, organizações internacionais como a FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) e centros de pesquisa como o CIP (Centro Internacional da Batata) passaram a estudar os waru waru como modelo de agricultura adaptativa.

Em 2021, um projeto piloto em parceria com universidades do Equador e do México conseguiu replicar com sucesso o sistema waru waru em altitudes médias, com bons resultados de produção e redução drástica no uso de água.

O Brasil, especialmente nas regiões do Cerrado e semiárido, tem potencial de adaptar o modelo com pequenas modificações, utilizando barragens de contenção, sistemas agroflorestais e culturas nativas resistentes à seca.

O que falta para aplicar no Brasil?

Apesar da eficiência comprovada, a adoção de técnicas como os waru waru no Brasil esbarra em falta de políticas públicas específicas, carência de extensão rural adaptada à agricultura tradicional, e desconhecimento técnico por parte dos produtores.

Hoje, o foco do agronegócio está voltado a grandes monoculturas mecanizadas. Mas a introdução de sistemas tradicionais como esse poderia:

  • Aumentar a segurança alimentar em comunidades rurais e assentamentos
  • Reduzir a dependência de agrotóxicos e irrigação cara
  • Fortalecer o uso de sementes crioulas e a preservação da biodiversidade agrícola
  • Tornar pequenas propriedades mais resilientes à crise climática

A história do cultivo de batata no Peru é a prova viva de que a inovação nem sempre está nas máquinas ou nos laboratórios — mas nos saberes esquecidos. O sistema waru waru, que protege plantações sem veneno, sem trator e sem irrigação, mostra como o conhecimento tradicional pode ser a base para um futuro mais sustentável.

Enquanto os campos brasileiros sofrem com calor, pragas e estiagem, talvez seja hora de olhar para nossos vizinhos andinos. No alto dos Andes, o segredo da resiliência já é cultivado há séculos — e está pronto para nos ensinar como colher em tempos difíceis.

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Marcia Faria
Marcia Faria
25/06/2025 22:07

Excelente matéria! esse povo sempre foi mais inteligente que nós, até hj cuidam bem da terra e das águas produzindo alimento saudável sem arrasar com seus biomas, e aqui estamos no caminho inverso! o RS agora terá que conviver com as tragédias relacionadas inundações e movimentos de massa, pois permitiram que o agronegócio da soja arrasasse com os Pampas…resultado: solos compactados, envenenados e rios sem capacidade de drenagem para a lagoa/oceano

Dener JR Chaves
Dener JR Chaves
24/06/2025 21:51

Oque falta é **** dos nossos governantes que está deixando desmatar todo o Brasil desequilibrando nosso regime de chuvas e condenando nossas terras virarem deserto.

Gean Leonardo Richter
Gean Leonardo Richter
24/06/2025 18:01

Olá Valdemar, tive que comentar, quando for fazer uma notícia assim, por favor se informe com alguém da área para não falar bobagem como essas. Primeiro esse cultivo tem irrigação, pois os canais são considerados irrigação por manter o solo próximo a capacidade de campo. Segundo, você largaria seu emprego para colher batatas? Por que é a coisa mais difícil na agricultura é encontrar funcionários, assim que a mecanização entra para auxiliar. Entre outras gafes.

Ricardo Verran
Ricardo Verran
Em resposta a  Gean Leonardo Richter
25/06/2025 12:16

Questão de mentalidade. Para ti só o modelo do agronegócio é válido, já para aquele povo e muitos agicultotes brasileiros, a agroecologia pode ser mais interessante.

Valdemar Medeiros

Jornalista em formação, especialista na criação de conteúdos com foco em ações de SEO. Escreve sobre Indústria Automotiva, Energias Renováveis e Ciência e Tecnologia

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