1. Início
  2. / Logística e Transporte
  3. / O corredor ferroviário de R$ 25 bilhões com 933 km de extensão que promete acelerar a exportação de minérios brasileiros pelo Arco Norte
Tempo de leitura 5 min de leitura Comentários 0 comentários

O corredor ferroviário de R$ 25 bilhões com 933 km de extensão que promete acelerar a exportação de minérios brasileiros pelo Arco Norte

Escrito por Valdemar Medeiros
Publicado em 01/07/2025 às 20:05
O novo corredor ferroviário de R$ 25 bilhões com 933 km de extensão que promete acelerar a exportação de minérios brasileiros pelo Arco Norte
O novo corredor ferroviário de R$ 25 bilhões com 933 km de extensão que promete acelerar a exportação de minérios brasileiros pelo Arco Norte
Seja o primeiro a reagir!
Reagir ao artigo

Com 933 km e investimento de R$ 20 bilhões, a Ferrogrão quer transformar a logística de minérios e grãos no Brasil. Mas o projeto esbarra em disputas ambientais e decisões do STF que podem mudar tudo.

Um traçado de quase mil quilômetros cortando a Amazônia, bilhões em investimentos privados e uma promessa ambiciosa: redefinir a logística de exportação do Brasil para que ela deixe de ser refém dos portos do Sudeste. A Ferrogrão (EF-170), projeto de corredor ferroviário de 933 km entre Sinop (MT) e Miritituba (PA), desponta como um dos empreendimentos mais estratégicos do país — e também um dos mais controversos. Orçada em R$ 20 bilhões, a ferrovia visa escoar minérios, grãos, fertilizantes e etanol por uma nova rota chamada Arco Norte, considerada mais curta, econômica e eficiente para atender à crescente demanda internacional por commodities brasileiras — especialmente com a valorização dos minérios estratégicos em tempos de guerra e transição energética.

Mas a ferrovia que interessa à Vale, à VLI, à Amaggi e a gigantes do agro também corta áreas indígenas e zonas ambientais sensíveis, reacendendo o embate entre desenvolvimento e preservação.

O que é a Ferrogrão e por que ela importa tanto

A EF-170, batizada de Ferrogrão, foi idealizada como uma solução logística para o escoamento do agronegócio e da mineração pelo norte do país. Ela conectará Sinop (MT), um dos polos de produção de grãos mais importantes do Brasil, ao porto de Miritituba, em Itaituba (PA).

Pai e filho sorrindo ao fundo de arte promocional da Shopee para o Dia dos Pais, com produtos e caixas flutuantes em cenário laranja vibrante.
Celebre o Dia dos Pais com ofertas incríveis na Shopee!
Ícone de link VEJA AS OFERTAS!

A escolha desse traçado não é casual: ele encurta o caminho dos produtos até o mercado externo via rios amazônicos e portos do Arco Norte, em vez de depender do porto de Santos ou Paranaguá, no Sul e Sudeste.

YouTube Video

Essa mudança pode reduzir entre 30% e 40% os custos logísticos de produtores de grãos e minérios, segundo dados da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil). Atualmente, a logística pesada afeta a competitividade do Brasil no cenário global.

A Ferrogrão aparece como resposta a essa limitação — uma ferrovia moderna, com vocação para transporte de alto volume e menor impacto ambiental que o transporte rodoviário tradicional.

E há mais: a participação do Arco Norte nas exportações de grãos do Brasil saltou de 8% para mais de 20% em menos de uma década. A tendência é de crescimento, e a Ferrogrão pode ampliar ainda mais esse protagonismo.

Minérios em alta e o interesse da cadeia extrativa Arco Norte

Embora o foco midiático esteja no escoamento de grãos, a cadeia mineral é um dos grandes interessados na Ferrogrão. O traçado tem ramais planejados para Santarenzinho e Itapacurá — regiões próximas a projetos de exploração de bauxita, cobre e até ouro. Além disso, o eixo Mato Grosso-Pará poderá integrar futuras rotas de escoamento de ferro, manganês, fertilizantes fosfatados e outros minerais essenciais, conectando centros extrativistas ao mercado internacional de forma mais rápida e barata.

O momento geopolítico também contribui. Com a guerra no Leste Europeu, as cadeias globais de suprimento de minerais estratégicos estão sendo reestruturadas. O Brasil é visto como fornecedor confiável e com reservas relevantes, mas precisa de infraestrutura para competir com países que já oferecem acesso ferroviário aos portos.

Não à toa, empresas como VLI (logística da Vale), Amaggi, Cargill, ADM e Bunge participam ativamente dos estudos e das articulações para tirar a Ferrogrão do papel.

Um projeto de bilhões, travado no Supremo

Apesar do apoio de gigantes do agronegócio e da mineração, o projeto enfrenta forte resistência judicial, ambiental e social. Em 2021, o Supremo Tribunal Federal (STF) suspendeu o andamento da Ferrogrão, alegando que a ferrovia atravessa o Parque Nacional do Jamanxim, unidade de conservação protegida por lei, sem as devidas previsões legais e sem consulta prévia às populações tradicionais.

Além disso, o traçado intercepta terras indígenas e áreas de floresta densa da Amazônia Legal, o que gerou reações de povos kayapó, ONGs socioambientais e até mobilizações internacionais. As críticas giram em torno do risco de desmatamento indireto, pressão sobre territórios protegidos e expansão de atividades ilegais como mineração clandestina e grilagem de terras.

O impasse judicial ainda não foi resolvido. Estão sendo conduzidos novos estudos ambientais, com a tentativa de reformular o projeto para mitigar impactos e destravar os licenciamentos. O governo estuda usar o regime de autorização previsto na MP 1065/21, o que facilitaria o início da construção via leilões ou concessões por blocos.

Quem vai bancar os trilhos? O modelo híbrido e o apetite privado

O modelo de financiamento da Ferrogrão é híbrido, com estruturação via PPI (Programa de Parcerias de Investimentos), suporte técnico da EPL (Empresa de Planejamento e Logística) e aporte majoritariamente privado. A estimativa atual é de investimento entre R$ 20 bilhões e R$ 21,5 bilhões, diluídos ao longo de quase 10 anos de implantação, operação e manutenção.

A expectativa do governo é realizar licitações em blocos, com estímulo à competição e flexibilização regulatória. A VLI, braço logístico da Vale, já manifestou interesse em participar como investidora, operadora ou consorciada — o que reforça a leitura de que a ferrovia pode ser vital não apenas para a soja, mas também para o ferro.

YouTube Video

Empresas estrangeiras também estão de olho. Com o cenário geopolítico instável, investidores dos Estados Unidos e da Europa buscam alternativas a cadeias dominadas por rotas chinesas. Nesse contexto, a Ferrogrão se apresenta como parte de uma cadeia atlântica alternativa, ligando o Brasil diretamente aos mercados globais por vias menos congestionadas e com potencial multimodal.

O dilema do progresso: entre o desenvolvimento e a floresta

A Ferrogrão talvez seja o exemplo mais emblemático de um dilema que acompanha o Brasil há décadas: como crescer sem destruir. De um lado, temos uma demanda real por infraestrutura de escoamento. O país perde bilhões por ano com ineficiência logística, e as regiões produtoras carecem de acesso competitivo ao mercado internacional. De outro, a Amazônia é um bioma sensível, fundamental para o equilíbrio climático e a preservação da biodiversidade mundial.

O que está em jogo não é apenas uma ferrovia, mas o modelo de desenvolvimento que o Brasil quer adotar nos próximos 30 anos. A decisão entre manter o projeto parado ou ajustá-lo com responsabilidade ambiental e consulta aos povos afetados definirá o futuro de empreendimentos similares, que hoje estão no papel, mas dependem do desfecho da EF-170.

Inscreva-se
Notificar de
guest
0 Comentários
Mais recente
Mais antigos Mais votado
Feedbacks
Visualizar todos comentários
Valdemar Medeiros

Jornalista em formação, especialista na criação de conteúdos com foco em ações de SEO. Escreve sobre Indústria Automotiva, Energias Renováveis e Ciência e Tecnologia

Compartilhar em aplicativos
0
Adoraríamos sua opnião sobre esse assunto, comente!x