Imagine um projeto de engenharia tão grandioso que, literalmente, fez o deserto florescer. Um megaprojeto que não apenas levou água às regiões mais áridas de Israel, mas também redefiniu a infraestrutura hídrica do país, enfrentando desafios geográficos e climáticos em uma escala épica. A “Transportadora Nacional de Água” é a obra que não só mudou o destino de Israel, mas colocou o país no mapa das soluções hídricas inovadoras do mundo.
A realidade era desafiadora: um país com apenas alguns meses de chuva por ano, sendo a maioria no norte, onde garantir água para todos os cantos era crucial para a sobrevivência. E foi essa necessidade que impulsionou o megaprojeto de engenharia mais revolucionário do século XX, o National Water Carrier, um sistema que transformou áreas desérticas em terras férteis e tornou possível o crescimento sustentável de Israel.
O megaprojeto National Water Carrier começou a ser construído na década de 1950, em um período onde Israel enfrentava um crescimento populacional acelerado e o desafio de tornar o deserto do Negev habitável. A ideia era simples, mas a execução, incrivelmente complexa: captar água do Mar da Galileia, no norte, e transportá-la para o sul, atravessando montanhas e desertos.
Megaprojeto em Israel passa túneis escavados nas montanhas
A jornada da água inicia a 209 metros abaixo do nível do mar, no Mar da Galileia, onde é bombeada para uma altitude de 44 metros acima do nível do mar, utilizando uma estação de bombeamento equipada com três bombas gigantescas de 30.000 HP. Este avanço permitiu que a água percorresse uma rede de mais de 130 quilômetros, enfrentando a gravidade e as variações do terreno acidentado. Em seu caminho, essa obra de engenharia passa por túneis escavados nas montanhas, sifões que vencem profundos vales e reservatórios que garantem o abastecimento contínuo para o país.
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Os números são tão impressionantes quanto o projeto em si. As tubulações principais, que chegam a medir 3,6 metros de diâmetro, transportam milhões de metros cúbicos de água anualmente, abastecendo áreas agrícolas e centros urbanos em todo o território israelense. A água é distribuída em três linhas principais, cada uma com uma função estratégica: uma transporta água potável de alta qualidade, outra cuida das águas mais salobras e a terceira é dedicada à água reciclada para a agricultura, fornecendo 140 milhões de metros cúbicos de água anualmente para a irrigação do deserto do Neguev.
Irrigação por gotejamento
O megaprojeto não só garantiu água para milhões de israelenses, mas também impulsionou o desenvolvimento de novas tecnologias, como a irrigação por gotejamento, que hoje permite que Israel produza 95% de seus alimentos e exporte mais de 2,5 bilhões de dólares em produtos agrícolas anualmente. Além disso, o país foi capaz de recuperar aquíferos contaminados e reflorestar grandes áreas, fazendo de Israel um dos poucos países do mundo que terminou o século XX com mais árvores do que começou.
Esse feito inspirador não ficou isolado. Muitos países, como o Brasil e a China, se inspiraram no megaprojeto israelense para criar seus próprios sistemas de abastecimento e tratamento de água. No Brasil, a transposição do Rio São Francisco se apresenta como um dos maiores projetos hídricos da América Latina, movendo grandes volumes de água por centenas de quilômetros. Já o projeto chinês de transferência de água Sul-Norte leva bilhões de metros cúbicos de água ao norte do país, enfrentando desafios e incorporando tecnologias similares às pioneiras em Israel.
Em uma época onde a escassez de água é um problema global crescente, o National Water Carrier destaca-se como um modelo de sustentabilidade, inovação e eficiência. Israel conseguiu o que muitos acreditavam impossível: transformar uma das regiões mais áridas do planeta em uma nação moderna, próspera e autossuficiente em termos de recursos hídricos. Esse megaprojeto é um símbolo de como a engenharia, quando unida à determinação e ao planejamento estratégico, pode superar até os obstáculos mais intransponíveis.