País tem 238 milhões de bovinos e recordes na produção de ovos, leite e aves, mas alimentos básicos como carne e ovos continuam pesando no bolso da população, revela o IBGE
O Brasil tem 12% mais bois do que habitantes, um rebanho que soma mais de 238 milhões de cabeças. Mesmo assim, a população continua sofrendo com a carne cara e o encarecimento de itens essenciais como leite e ovos, segundo dados de 2024 do IBGE divulgados pelo G1.
Apesar do avanço produtivo e de recordes em várias frentes do agronegócio, milhões de brasileiros enfrentam insegurança alimentar, convivendo com um paradoxo: sobra gado nos campos, mas falta carne no prato.
Rebanhos gigantes não significam comida barata
Segundo a Pesquisa da Pecuária Municipal de 2024, o Brasil registrou recordes na criação de galinhas e na produção de leite e ovos, além de manter um dos maiores rebanhos bovinos do mundo.
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Em números absolutos, foram 1,6 bilhão de aves, 277,5 milhões de galinhas e 5,4 bilhões de dúzias de ovos.
Mesmo assim, o brasileiro come menos carne do que há 10 anos.
O alto custo no varejo e a disparidade entre a produção e o consumo têm raiz em questões estruturais, como exportações massivas, custo logístico elevado e concentração de mercado nas mãos de poucos frigoríficos.
Ter mais bois do que gente não garante acesso à proteína animal, especialmente quando o foco da cadeia é atender o mercado externo.
Em São Félix do Xingu, no Pará, por exemplo, está o maior rebanho do país, mas o índice de pobreza na região segue alto.
Ovos e leite batem recordes, mas continuam pesando no bolso
Outro dado curioso é que cada brasileiro teria, em média, 305 ovos disponíveis por ano, mas o preço do alimento segue alto nos supermercados.
Santa Maria de Jetibá, no Espírito Santo, lidera a produção e é conhecida como a “capital do ovo”, mas até lá o custo por dúzia subiu.
Com o leite, a situação é semelhante. A produção nacional alcançou 35,7 bilhões de litros, novo recorde histórico.
No entanto, o número de vacas ordenhadas caiu para o menor nível desde 1979, mostrando que o aumento da produtividade não significa redução de preços para o consumidor final.
A cadeia produtiva se tornou mais eficiente, mas os ganhos não chegam à mesa da população.
Questões como transporte, impostos e margens de revenda seguem elevando os preços dos alimentos básicos, principalmente em regiões periféricas e no Norte e Nordeste do país.
Pecuária avança, mas insegurança alimentar persiste
Além dos bovinos e aves, o Brasil também bateu recordes com suínos (43,9 milhões), caprinos (13,3 milhões), ovinos (21,9 milhões) e até na produção de mel de abelha (67,3 milhões de quilos).
A aquicultura também cresceu, com destaque para a tilápia.
Apesar da abundância, o país voltou ao mapa da fome da ONU, com mais de 33 milhões de pessoas em insegurança alimentar grave, segundo estimativas recentes.
O contraste entre os dados do IBGE e a realidade social revela uma distância alarmante entre o campo e o prato.
Fatores como exportação de cortes nobres, dólar valorizado e baixa política de estoques reguladores ajudam a explicar por que a carne continua sendo um item de luxo para milhões de famílias brasileiras.
Em vez de fartura, a população encara gôndolas vazias e preços impraticáveis.
Onde está o problema: campo, indústria ou governo?
A discussão sobre os preços dos alimentos essenciais vai além da produção. O Brasil produz muito, mas distribui mal e cobra caro.
A falta de uma política alimentar integrada — que articule produção, abastecimento e acessibilidade — agrava o cenário.
Enquanto o agronegócio comemora exportações bilionárias, o consumidor médio se pergunta por que paga tão caro por um quilo de carne ou uma dúzia de ovos.
A cadeia produtiva está voltada para fora, enquanto internamente faltam mecanismos para regular o mercado e proteger o consumidor.
A realidade é contraditória: há excesso de oferta no campo, mas escassez na mesa.
O IBGE mostra que a produtividade aumentou, mas a população ainda sente o impacto da inflação alimentar e da falta de renda.
Você sente que a comida ficou mais cara, mesmo com recordes na produção? Acha justo que um país com mais bois do que pessoas ainda enfrente dificuldades para garantir carne no prato? O que acha que o governo pode fazer para melhorar essa situação? Deixe sua opinião nos comentários — queremos ouvir quem vive isso na prática.