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O grito de Ano Bom chega a Brasília: ilha africana pede socorro ao Brasil contra violações de direitos humanos

Escrito por Caio Aviz
Publicado em 10/09/2025 às 22:59
Comunidade de Ano Bom ergue bandeiras em ato de independência simbólica e pede apoio ao Brasil contra repressão da Guiné Equatorial
Habitantes de Ano Bom em manifestação de independência, destacando a luta cultural e o apelo ao Brasil por ajuda humanitária
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Comunidade que fala a língua Fá d’Ambô vê no Brasil a única esperança contra o apagamento cultural e político.

A ilha de Ano Bom, também chamada de Annobón, é um pequeno território de apenas 17 km², localizado ao sul de São Tomé e Príncipe, no Golfo da Guiné. Com alguns milhares de habitantes, a ilha é marcada por praias de origem vulcânica, pesca artesanal e plantações de subsistência. Por isso, sua população preserva a língua crioula Fá d’Ambô e tradições católicas arcaicas, tornando-a um espaço único de resistência cultural no Atlântico.

Uma trajetória de séculos até a Guiné Equatorial

Primeiramente, a ilha foi descoberta por Portugal entre 1473 e 1501. Em seguida, em 1778, passou para a Espanha pelo Tratado de El Pardo. Posteriormente, em 1968, durante o processo de independência da Guiné Equatorial, foi incorporada ao novo país, mesmo contra a vontade de sua população. Assim, a identidade linguística e cultural diferenciada manteve a comunidade isolada, de acordo com historiadores e linguistas.

Lavanderia em Annobón. Ilha na Guiné Equatorial quer se anexar à Argentina — Foto: Reprodução

Língua e fé como resistência

Apesar disso, os habitantes conservaram a Fá d’Ambô, um crioulo de base portuguesa que sobreviveu ao longo dos séculos. Além disso, pesquisadores como Hagemeijer e Zamora (2016) apontam semelhanças com crioulos de São Tomé e Príncipe, reforçando vínculos históricos. Do mesmo modo, a fé católica local, preservada desde o período colonial, mantém características arcaicas, bem diferentes das práticas africanas mais recentes. Portanto, a língua e a religião tornaram-se instrumentos de preservação identitária.

Denúncias internacionais e abandono político

Ao longo das décadas, denúncias de abusos chamaram a atenção da comunidade internacional. Em 1988, ONGs e médicos alertaram sobre planos de transformar Ano Bom em depósito de resíduos tóxicos, o que teria causado danos ambientais severos. Logo depois, em 1993, relatórios da Amnesty International registraram prisões, tortura e execuções após protestos da população. Mais recentemente, em 2024, organizações civis denunciaram apagões de internet e detenções arbitrárias, ampliando a sensação de isolamento.

Apesar dessas acusações, nenhuma medida efetiva foi tomada pela comunidade internacional. Desse modo, para os anobonenses, essa omissão representa um risco direto de apagamento cultural e físico.

A busca por apoio e o apelo ao Brasil

Em 2022, liderados por Orlando Cartagena Lagar, os habitantes proclamaram a independência simbólica da República de Ano Bom. Contudo, sem reconhecimento internacional, eles passaram a enviar cartas e pedidos de ajuda à CPLP, à ONU e a diversos países lusófonos. Entretanto, a maioria dos apelos não obteve resposta.

Nesse contexto, o Brasil passou a ser visto como a única esperança. De acordo com Lagar, Brasília poderia propor um acordo com São Tomé e Príncipe e intermediar a retirada das tropas da Guiné Equatorial, oferecendo garantias contra retaliações. Além disso, a Marinha do Brasil poderia prestar apoio humanitário temporário, garantindo água, medicamentos e segurança à população. Assim, o Brasil se tornaria o elo entre dois povos irmãos.

Segundo o líder exilado, o Brasil reúne legitimidade histórica, cultural e linguística para assumir esse papel. Ele também ressalta que a integração com São Tomé e Príncipe só seria viável com a mediação brasileira, capaz de unir povos separados por séculos de decisões políticas externas.

Linha do tempo da luta de Ano Bom

  • 1473–1501 — Descoberta portuguesa no Golfo da Guiné.
  • 1778 — Tratado de El Pardo transfere a ilha para a Espanha.
  • 1968 — Incorporação à Guiné Equatorial.
  • 1988 — Denúncias sobre resíduos tóxicos em território da ilha.
  • 1993 — Protestos seguidos de repressão violenta documentada.
  • 2006 — Guiné Equatorial torna-se observadora na CPLP.
  • 2010/2011 — Oficialização do português como idioma nacional.
  • 2014 — Adesão plena do país à CPLP.
  • 2022 — Proclamação simbólica da independência de Ano Bom.
  • 2024 — Denúncias de apagões digitais e prisões arbitrárias.
  • 2025 — Apelo direto ao Brasil como última esperança de sobrevivência.

O papel que o Brasil pode desempenhar

Portanto, os habitantes de Ano Bom enxergam no Brasil um aliado estratégico não apenas pela língua, mas também pelo peso diplomático na CPLP e pela capacidade de mobilização regional. Além disso, acreditam que a intervenção brasileira significaria não só ajuda humanitária imediata, mas também a preservação de séculos de história e cultura.

Diante disso, a pergunta que ecoa entre os anobonenses é clara: o Brasil aceitará a responsabilidade histórica de ajudar um povo irmão ou permitirá que a ilha seja apagada para sempre?

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Caio Aviz

Escrevo sobre o mercado offshore, petróleo e gás, vagas de emprego, energias renováveis, mineração, economia, inovação e curiosidades, tecnologia, geopolítica, governo, entre outros temas. Buscando sempre atualizações diárias e assuntos relevantes, exponho um conteúdo rico, considerável e significativo. Para sugestões de pauta e feedbacks, faça contato no e-mail: avizzcaio12@gmail.com.

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