Pesquisadores estão desenvolvendo chips capazes de suportar até 2.600 °C usando semicondutores como carboneto de silício e nitreto de gálio. Eles funcionam mesmo em reatores nucleares, vulcões e sondas espaciais. O futuro da eletrônica pode sobreviver ao impossível.
Imagine um chip eletrônico funcionando dentro de um reator nuclear, em pleno funcionamento, cercado por radiação e calor extremo. Ou embarcado em uma sonda espacial, atravessando as nuvens escaldantes de Vênus. Em ambientes como esses, chips convencionais de silício não durariam nem alguns segundos. Eles derretem, perdem eficiência e param de operar a pouco mais de 150 °C. Mas isso está mudando. Graças a avanços recentes em materiais semicondutores ultrarresistentes, cientistas já conseguem projetar chips capazes de operar a temperaturas que beiram os 2.600 °C, sem perder desempenho. Eles estão sendo desenvolvidos com carboneto de silício (SiC) e nitreto de gálio (GaN) — dois compostos que estão moldando o futuro da eletrônica em ambientes extremos.
O que é carboneto de silício (SiC) — e por que ele não derrete
O carboneto de silício, ou SiC, é um material semicondutor composto por átomos de silício e carbono, organizados em uma estrutura extremamente rígida. Ele é muito mais resistente ao calor, à tensão elétrica e à radiação do que o silício tradicional.
A principal característica do semicondutor? Ele permanece funcional em temperaturas de até 2.600 °C, enquanto o silício começa a falhar por volta de 150 °C.
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Além disso, o SiC:
- Suporta campos elétricos até 10 vezes maiores que o silício
- Dissipa calor com mais eficiência
- É mais resistente a choques térmicos e mecânicos
- Tolerante à radiação, sendo ideal para ambientes como reatores nucleares e espaço profundo
Por essas razões, o SiC está sendo cada vez mais usado em componentes aeroespaciais, veículos elétricos, aplicações militares e reatores nucleares.
Nitreto de gálio (GaN): o irmão futurista do SiC – semicondutores como carboneto de silício
Outro material revolucionário é o nitreto de gálio (GaN). Ele é mais leve, ainda mais eficiente na condução elétrica e suporta altas frequências com baixas perdas — ideal para transmissores de rádio, radares, satélites e sensores de energia.
Embora o GaN suporte temperaturas um pouco mais baixas que o SiC (cerca de 1.000 °C em operação contínua), ele ainda é muito mais resistente do que o silício, além de ser mais rápido e eficiente energeticamente.
Na prática, muitos sistemas de ponta estão combinando GaN em circuitos de comunicação e SiC em blocos de potência, formando conjuntos híbridos que podem operar em ambientes extremos e hostis sem refrigeração externa.
Onde um chip que resiste a 2.600 °C pode ser útil?
A ideia de chips funcionando em temperaturas extremas pode parecer exagero para o cotidiano humano. Mas em ambientes como vulcões ativos, motores de foguetes, sondas espaciais ou reatores nucleares, a eletrônica convencional simplesmente não sobrevive. A seguir, alguns exemplos onde esses chips já estão sendo testados:
Reatores nucleares
Em sistemas de controle e segurança dentro do núcleo de reatores, onde a temperatura e a radiação são mortais para circuitos tradicionais. Chips de SiC continuam operando mesmo em ambientes irradiados e superaquecidos, reduzindo a necessidade de longos cabos ou proteções mecânicas.
Exploração planetária
A NASA já estuda enviar sondas a Vênus, onde a superfície atinge 462 °C em média. Chips de silício convencional colapsam em minutos. Chips de SiC, por outro lado, já demonstraram capacidade de resistir por mais de 1.000 horas nessas condições, segundo o Glenn Research Center.
Motores de foguete e turbinas
Sistemas de monitoramento em turbinas de avião ou câmaras de propulsão requerem sensores que funcionem a altíssimas temperaturas. Chips de GaN e SiC estão sendo inseridos para medir pressão, vibração e composição de gases em tempo real — algo impossível com chips convencionais.
Ambientes industriais severos
Fornos de fundição, plantas petroquímicas, minas profundas e plataformas de petróleo são locais onde a eletrônica convencional precisa de proteção especial. Chips de alta temperatura eliminam a necessidade de blindagens complexas e refrigeradores artificiais.
Um salto tecnológico silencioso — mas monumental
Talvez você nunca tenha ouvido falar de SiC ou GaN, mas esses materiais já estão moldando o futuro invisível da tecnologia.
Chips que operam em ambientes extremos são chave para tornar a tecnologia verdadeiramente onipresente — do fundo dos oceanos ao espaço profundo. Eles eliminam a dependência de refrigeração pesada, simplificam projetos, aumentam a segurança e reduzem custos operacionais em ambientes críticos.
O avanço desses materiais também permite a criação de robôs exploradores, sensores inteligentes e sistemas autônomos que não precisam voltar à superfície ou parar para “descansar”.
O Brasil nessa corrida
Embora a maior parte da pesquisa de ponta venha de centros como NASA, DARPA, MIT, e universidades japonesas, há iniciativas brasileiras em semicondutores de alta resistência térmica, especialmente na UFMG, USP e Unicamp.
Pesquisadores nacionais já estudam aplicações de SiC em turbinas, veículos elétricos e sensores industriais, de olho na exportação de tecnologia e na autonomia energética nacional.
Enquanto nossos celulares superaqueçam após meia hora de jogo, um novo tipo de chip já é capaz de operar onde nenhuma máquina ousava antes: no calor insuportável, na radiação constante, no silêncio absoluto de planetas inabitáveis.
Com materiais como carboneto de silício (SiC) e nitreto de gálio (GaN), a tecnologia está ultrapassando o limite físico do silício e abrindo novas fronteiras para a ciência, a exploração e a indústria.
Chips que operam a 2.600 °C não são apenas uma curiosidade técnica. Eles são a fundação invisível da próxima era tecnológica.