Com uma câmera de 3.200 megapixels capaz de fotografar um grão de areia na Lua, o observatório chileno inicia uma missão de 10 anos para mapear bilhões de estrelas, detectar asteroides perigosos e procurar o misterioso Planeta Nove
Em uma estreia histórica, o supertelescópio Vera C Rubin, localizado no deserto do Chile, capturou suas primeiras imagens do universo com um poder de observação sem precedentes, revelando mais de 2 mil novos asteroides, milhares de galáxias e estruturas cósmicas invisíveis a outros instrumentos, marcando o início de um mapeamento contínuo da abóbada celeste por uma década.
As primeiras imagens revelam bilhões de estrelas, galáxias e regiões de formação estelar
A primeira série de imagens divulgadas mostra detalhes espetaculares da nebulosa Trífida e da nebulosa da Lagoa, localizadas a cerca de 9 mil anos-luz da Terra. As fotos capturadas pelo supertelescópio Vera C Rubin revelam aglomerados estelares, nuvens de gás coloridas e estruturas cósmicas jamais vistas com essa nitidez.
Entre os alvos registrados também está o vasto aglomerado de galáxias de Virgem, que contém milhões de sistemas estelares e inspirou, ainda na década de 1930, os primeiros estudos sobre a existência da matéria escura. Segundo os cientistas, o novo telescópio permitirá mapear até 20 bilhões de galáxias desconhecidas.
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Com imagens de altíssima resolução, que ocupariam 400 telas de TV 4K para exibição completa,, o supertelescópio Vera C. Rubin promete capturar uma nova foto a cada 40 segundos, durante cerca de 10 horas por noite, varrendo o céu do hemisfério sul a cada três ou quatro dias.
Objetivo do supertelescópio Vera C Rubin é estudar a matéria escura, monitorar o céu em tempo real e procurar o enigmático Planeta Nove
Entre os principais objetivos do projeto estão o estudo da matéria escura e da energia escura, que, juntas, compõem 95% do universo, além da investigação de supernovas, anãs marrons e eventos raros como colisões de estrelas. A repetição constante das imagens permitirá aos cientistas detectar qualquer mudança no céu em tempo real.
Em apenas 10 horas de observação inicial, o supertelescópio Vera C Rubin identificou 2.104 asteroides inéditos, incluindo sete que passam próximos à Terra. Embora nenhum represente ameaça imediata, a expectativa é que o telescópio descubra até 90 mil novos objetos próximos ao planeta ao longo da missão.
Outro objetivo é localizar o hipotético Planeta Nove, um corpo celeste ainda não confirmado que, segundo teorias, estaria a até 700 vezes a distância da Terra ao Sol. Caso exista, o Rubin pode ser o primeiro a identificá-lo, graças à sua sensibilidade extrema à luz fraca e objetos em movimento.
Estrutura tecnológica de ponta torna o Vera Rubin único no mundo
Instalado a 2.682 metros de altitude no Cerro Pachón, nos Andes chilenos, o observatório possui uma estrutura de 18 andares com um sistema óptico de três espelhos e uma câmera de 3.200 megapixels. A lente principal, com 8,4 metros de diâmetro, permite captar imagens extremamente amplas e detalhadas.
O equipamento é tão preciso que poderia registrar uma bola de golfe na superfície lunar. Toda a estrutura é mantida em condições rigorosas de escuridão, sem qualquer iluminação artificial, para preservar a pureza da luz capturada vinda de bilhões de anos no passado.
Os dados gerados, estimados em até 500 petabytes ao final da missão, serão processados por centros internacionais, incluindo um hub britânico responsável por decodificar os alertas diários. Serão cerca de 10 milhões de notificações por noite para cientistas do mundo inteiro.
Projeto do supertelescópio Vera C Rubin internacional envolve Reino Unido, Estados Unidos e dezenas de universidades
O supertelescópio Vera C Rubin é administrado por uma colaboração entre a Fundação Nacional de Ciência dos EUA (NSF), o Departamento de Energia dos EUA (DOE) e instituições científicas globais. O Reino Unido atua como um dos centros de análise e armazenamento dos dados obtidos.
Segundo a astrônoma Catherine Heymans, da Universidade de Edimburgo, “nunca vimos o universo dessa forma. É como assistir ao cosmos vivo, se transformando a cada noite”. O Rubin não apenas revela o que há, mas o que muda, oferecendo um novo olhar sobre o tempo e o espaço.
A construção do observatório levou mais de duas décadas e envolveu engenheiros, astrônomos e técnicos de diversas nacionalidades. A operação diária envolve manter a cúpula do telescópio absolutamente livre de poeira e interferências luminosas.