Queda nas vendas pressiona e acelera busca por novas fontes de receita, um cenário desafiador para a Ford, que aposta no futuro elétrico com a necessidade urgente de gerar resultados financeiros
A Ford vive um dos capítulos mais desafiadores de sua trajetória recente. Pressionada por resultados negativos em sua divisão elétrica, a montadora decidiu adotar uma estratégia ousada: transformar a produção de baterias elétricas em um novo negócio, abrindo espaço para a venda a terceiros.
A aposta ganhou forma em Glendale, Kentucky, onde a BlueOval SK – joint venture entre a Ford e a sul-coreana SK On – inaugurou oficialmente sua fábrica de baterias. O primeiro destino será a picape elétrica F-150 Lightning, um dos modelos mais icônicos da empresa. Mas os planos vão além.
Em entrevista à Bloomberg, Michael Adams, CEO da BlueOval SK, deixou claro o novo horizonte:
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“Nossos parceiros estão buscando oportunidades para novos negócios.”
A fala traduz o reposicionamento da companhia: não se trata apenas de fabricar carros elétricos, mas de atuar como fornecedora em um setor que cresce em importância na transição energética global.
Queda nas vendas pressiona e acelera busca por novas fontes de receita
O movimento ocorre em um momento delicado. Entre janeiro e julho de 2025, as vendas de veículos elétricos da Ford caíram quase 10% em relação ao mesmo período do ano anterior. Essa queda nas vendas pressiona e acelera a busca por novas fontes de receita, fazendo da venda de baterias uma alternativa concreta para reforçar o caixa.
A situação se agrava com o fim do crédito fiscal de US$ 7.500, válido até setembro, que garantiu competitividade de preços para os elétricos nos Estados Unidos. Sem esse incentivo, a Ford terá de disputar espaço em um mercado ainda mais acirrado.
O histórico também pesa:
Em 2024, a divisão Model e, responsável pelos elétricos, acumulou prejuízo de US$ 5,1 bilhões. Os números reforçam a urgência de novas soluções. Nesse cenário, as baterias elétricas podem se tornar não apenas um produto estratégico, mas uma alavanca para garantir a sobrevivência da montadora na corrida global por energia limpa.
Vale lembrar que a tendência não é exclusiva da Ford. A Toyota já anunciou planos para fornecer baterias aos veículos híbridos da Honda a partir de 2026. O setor caminha para uma nova fase, em que até rivais diretos podem se tornar clientes.
Ajustes de rota: menos fábricas, mais eficiência no plano elétrico
A expansão, porém, não ocorre sem cortes. A fábrica da BlueOval SK em Kentucky, que originalmente deveria empregar 2.500 pessoas, terá agora apenas 1.450 trabalhadores. Outra unidade no estado teve sua produção suspensa, refletindo a postura mais cautelosa da Ford.
Ainda assim, a terceira fábrica, no Tennessee, segue nos planos, com previsão de início em 2027. A diferença é que a picape elétrica de nova geração, que utilizaria essas baterias, foi adiada para 2028, em um claro redesenho de prioridades.
Plataforma EV e baterias acessíveis: a grande aposta para 2027
Paralelamente ao enxugamento de custos, a Ford aposta em um trunfo que pode destravar o mercado: a Ford EV Universal Platform. Essa nova arquitetura permitirá padronizar componentes e reduzir custos de produção, viabilizando veículos elétricos mais acessíveis.
O primeiro modelo já tem previsão: uma picape elétrica de porte médio, com preço inicial em torno de US$ 30 mil, programada para chegar ao mercado em 2027. A estratégia é clara: tornar os elétricos atrativos não apenas para consumidores de alto poder aquisitivo, mas para um público mais amplo.
Para reduzir os custos, a empresa utilizará baterias de lítio-ferro-fosfato (LFP), conhecidas por sua durabilidade e menor preço. A produção será feita em Michigan, com tecnologia licenciada da gigante chinesa CATL.
Essa decisão mostra pragmatismo: ao adotar soluções mais baratas e confiáveis, a Ford cria condições para competir em preço e, ao mesmo tempo, abrir uma frente de negócios promissora com a venda de baterias elétricas a outras empresas.
A disputa, porém, é acirrada. Tesla segue como líder em rentabilidade, enquanto empresas chinesas como a BYD avançam com agressividade.
Para competir, a Ford precisa provar não apenas que sabe construir carros, mas que pode oferecer energia confiável, em escala, para todo um ecossistema.
Se for bem-sucedida, a companhia poderá inaugurar uma nova era: unir sua tradição de mais de um século a uma visão de futuro em que a eletrificação não é apenas produto, mas também serviço e fornecimento estratégico.