O ensino de matemática nunca mais será o mesmo: novo decreto do MEC leva verba, capacitação e metas claras para transformar o aprendizado no Brasil.
Durante anos, o ensino da matemática no Brasil tem sido um dos grandes pontos fracos da educação básica. Os números não mentem: milhões de estudantes terminam o ensino fundamental sem dominar conceitos simples de lógica e cálculo. Agora, com o novo decreto do MEC, o governo federal tenta mudar esse cenário com o Compromisso Nacional Toda Matemática, uma iniciativa que promete unir redes de ensino, capacitar professores e distribuir recursos para melhorar o aprendizado de ponta a ponta.
Um retrato preocupante da matemática no Brasil
Segundo dados do Pisa 2022, 73% dos alunos brasileiros de 15 anos apresentaram desempenho insuficiente em matemática. Isso significa que sete em cada dez jovens não conseguem resolver problemas básicos do cotidiano.
O resultado coloca o país bem abaixo da média da OCDE, atrás de vizinhos latino-americanos como Chile e Uruguai.
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E o problema não é novo. No Saeb 2023, uma parcela expressiva dos alunos ainda aparece nos níveis mais baixos de proficiência.
Segundo levantamento da Agência Brasil, mais da metade dos estudantes brasileiros do 4º e 8º ano não tem domínio nem das noções mais elementares da disciplina.
Além disso, o Censo Escolar 2023 mostrou que a falta de infraestrutura e de recursos didáticos ainda é um obstáculo diário para professores e gestores.
Esses dados ajudam a entender por que o MEC decidiu agir. “Estamos lançando o Compromisso Toda Matemática para apoiar a formação de professores e impulsionar o aprendizado em todas as redes de ensino”, disse o ministro Camilo Santana durante a cerimônia da 19ª OBMEP, em 2025.
O que muda com o novo decreto do MEC
O decreto, publicado no Diário Oficial da União, estabelece uma política pública nacional para fortalecer o ensino da matemática na educação básica.
A ideia é oferecer apoio técnico e financeiro às redes que aderirem voluntariamente ao programa, com ações divididas em cinco grandes eixos.
1. Governança e gestão: a engrenagem da mudança
Para garantir que o projeto funcione em escala nacional, o MEC criou estruturas de acompanhamento e apoio, como o Comitê Nacional Gestor (Comat) e a Rede Nacional de Ancoragem (Renamat).
Esses organismos vão coordenar políticas, monitorar resultados e apoiar os estados na implementação das ações.
Segundo nota divulgada pelo Ministério da Educação, o objetivo é integrar as diferentes redes, evitar duplicidades e criar uma governança capaz de medir o impacto real das políticas públicas na aprendizagem.
2. Formação dos profissionais da educação
A formação docente é o coração do Compromisso Nacional Toda Matemática. O MEC vai oferecer cursos e recursos voltados para capacitar professores e gestores com base em evidências pedagógicas, priorizando práticas comprovadamente eficazes.
Também está prevista a revisão dos cursos de licenciatura em Pedagogia e Matemática, com o intuito de reforçar tanto o domínio do conteúdo quanto as metodologias de ensino.
A meta é transformar o modo como a matemática é ensinada, tornando-a mais prática, conectada à realidade dos alunos e menos abstrata.
Em março de 2025, o ministério lançou a Escuta Nacional de Professores que Ensinam Matemática, um levantamento que ouviu educadores de todo o país para identificar as principais dificuldades no ensino da disciplina. “Queremos ouvir quem está na ponta, dentro da sala de aula”, afirmou Camilo Santana à imprensa.
3. Currículo e recursos pedagógicos mais modernos
O decreto propõe diretrizes nacionais para o ensino da matemática, alinhadas à Base Nacional Comum Curricular (BNCC). I
sso inclui o fornecimento de materiais didáticos suplementares, recursos digitais e metodologias inovadoras que possam facilitar a progressão curricular e tornar as aulas mais dinâmicas.
A proposta também envolve a integração de tecnologias educacionais, como jogos e plataformas interativas.
Em 2024, por exemplo, o Porvir destacou que escolas que utilizam recursos digitais e práticas colaborativas têm conseguido aumentar o interesse dos alunos e melhorar o desempenho em matemática.
4. Avaliação contínua e metas de aprendizado
Um dos pontos fortes do novo decreto é a criação de um sistema de avaliação integrada, que combina avaliações formativas feitas pelas próprias escolas e testes em larga escala, como o Saeb, aplicado pelo Inep.
Esses dados servirão para definir metas anuais, medir o avanço dos estudantes e orientar políticas públicas futuras. O foco não é punir, mas diagnosticar e ajustar estratégias pedagógicas.
A partir de 2026, segundo o MEC, essas avaliações também deverão ser usadas para definir as escolas que receberão apoio financeiro prioritário, com base em indicadores de desempenho.
5. Reconhecimento e difusão de boas práticas
Outro ponto interessante do programa é o incentivo à valorização das boas práticas. Professores, gestores e escolas que se destacarem poderão participar de mostras pedagógicas, concursos e olimpíadas específicas para docentes de matemática.
O ministério quer transformar essas experiências de sucesso em modelos replicáveis. Além disso, a OBMEP, organizada pelo IMPA, continuará a ser uma das principais vitrines para reconhecer talentos e incentivar o aprendizado da disciplina entre os jovens.
Orçamento inicial previsto para o programa é de R$ 70 milhões em 2025
A participação das redes de ensino no Compromisso Toda Matemática será voluntária, mas com benefícios claros para quem aderir. O MEC vai priorizar o atendimento conforme três critérios principais:
- O número de estudantes com aprendizado abaixo do nível adequado;
- As condições socioeconômicas e diversidade racial e de gênero das redes;
- A presença de alunos da educação especial e da educação bilíngue de surdos.
O orçamento inicial previsto para o programa é de R$ 70 milhões em 2025, sendo R$ 20 milhões destinados diretamente às escolas via PDDE Toda Matemática, e R$ 50 milhões provenientes de programas complementares como o Escola das Adolescências e Recomposição das Aprendizagens.
De acordo com o MEC, o recurso será aplicado na formação de professores, compra de materiais didáticos e incentivo a clubes de letramento e matemática, voltados para os anos finais do ensino fundamental.
O impacto do novo decreto do MEC esperado nas salas de aula
Com a execução do novo decreto do MEC, espera-se uma mudança real no cotidiano escolar. A meta é que os professores tenham acesso a formações práticas e que as escolas possam adotar metodologias mais atrativas.
Segundo a professora Kátia Smole, do Instituto Reúna, a mudança precisa ir além das provas: “É preciso trabalhar a compreensão, o raciocínio e a aplicação da matemática na vida real. O aluno precisa entender para que serve o que aprende”.
Na prática, isso significa que os estudantes devem ter contato com desafios mais concretos, como problemas de lógica financeira, estatística e leitura de gráficos — habilidades úteis tanto para o mercado de trabalho quanto para a vida cotidiana.
Desafios que ainda precisam ser superados
Embora o decreto represente um avanço importante, há desafios consideráveis no caminho. Entre eles:
- Desigualdade regional: nem todas as redes de ensino têm a mesma capacidade técnica e estrutura para implementar o programa;
- Formação docente: o processo de atualização e capacitação é lento e depende de adesão massiva;
- Financiamento: o valor inicial pode ser insuficiente para sustentar a transformação de longo prazo;
- Avaliação e cobrança: se mal conduzidas, as avaliações podem se transformar em instrumentos de pressão e não de melhoria.
Especialistas como Mozart Neves Ramos, ex-secretário de Educação de Pernambuco, já alertaram que “o sucesso de qualquer política pública em educação depende da continuidade e do envolvimento das redes locais”. (Folha de S.Paulo)
Um passo para recuperar a confiança na educação
O Compromisso Nacional Toda Matemática nasce como uma resposta direta ao fracasso histórico do Brasil nas avaliações de matemática. Mais que números, trata-se de reconstruir a confiança dos estudantes na própria capacidade de aprender.
O MEC aposta na combinação entre formação docente, recursos tecnológicos e governança colaborativa para atingir resultados duradouros. E, se bem aplicado, o novo decreto do MEC pode inaugurar um novo tempo para o ensino de matemática, menos baseado em fórmulas decoradas e mais voltado ao raciocínio, à prática e à compreensão real.
Um decreto que precisa sair do papel
O decreto que cria o Compromisso Nacional Toda Matemática é, sem dúvida, um marco para a educação brasileira. Ele representa uma tentativa de corrigir um dos maiores gargalos da aprendizagem no país, colocando a matemática como prioridade estratégica.
Mas, como em toda boa equação, o resultado depende das variáveis certas: vontade política, gestão eficiente e engajamento de professores e alunos. O Brasil precisa que esse compromisso vire prática — e não apenas discurso.
E você, o que acha dessa nova política do MEC? Acredita que o decreto vai realmente melhorar o ensino da matemática no Brasil? Deixe sua opinião nos comentários e compartilhe esta publicação para que mais pessoas conheçam essa iniciativa que pode mudar o futuro da educação.