Brasil e China firmaram um protocolo que abre o mercado chinês ao sorgo brasileiro. Os primeiros embarques são esperados a partir de 2026, criando uma nova frente para o agro nacional.
O Brasil deu um passo estratégico para diversificar a pauta do agro, o governo chinês aprovou o protocolo que permite a importação de sorgo (Sorghum bicolor) produzido aqui. É uma virada de chave para uma cultura que, até agora, tinha destino quase totalmente doméstico.
Na prática, trata-se da abertura de um mercado gigantesco e exigente, com regras sanitárias e fitossanitárias específicas, cadastro de plantas beneficiadoras e validações junto às autoridades de ambos os países. O objetivo é garantir padrão e segurança desde a origem até o desembarque no porto chinês.
O cronograma operacional aponta para embarques em 2026, período necessário para finalizar registros, padronizar controles de qualidade e ajustar a logística. Em agosto de 2025, uma missão da GACC (alfândega chinesa) esteve no Brasil justamente para avançar nesses trâmites, um sinal claro de que o processo anda.
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Exportação de sorgo para a China, protocolos, prazos e o que muda
O Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) publicou as regras oficiais do “Protocolo sobre os Requisitos Sanitários e Fitossanitários para Exportação de Sorgo do Brasil para a China”, incluindo NCM 1007.90.00, instruções para registro no CGC/MAPA (SIPEAGRO) e etapas de habilitação de plantas beneficiadoras.
Para algumas etapas, o próprio MAPA indica prazos administrativos — por exemplo, até 120 dias para efetivar cadastros após a aprovação brasileira. Cumprir o check-list documental e os padrões de limpeza, rastreabilidade e controle de pragas é condição para participar.
Além disso, a página técnica do MAPA para a China lista o protocolo específico do sorgo e o manejo integrado de pragas exigido pelo Artigo 2 — diretrizes que orientam produtores, armazéns e exportadores sobre o que fazer na origem para evitar não conformidades no destino. Ou seja: é um mercado aberto, mas regulado.
Para acelerar a parte prática, a GACC enviou uma delegação ao Brasil no início de agosto, com reuniões no MAPA e visitas técnicas a unidades de beneficiamento em Minas Gerais. O foco foi revisar procedimentos, padrões de qualidade e monitoramento de cargas, etapa típica antes da primeira safra exportadora.
Demanda chinesa por sorgo tem potencial de 7,9 milhões de toneladas anualmente
A China é o maior importador global de sorgo e, segundo o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), tende a seguir comprando volumes elevados. O último Grain & Feed Update do USDA projeta 4,7 milhões t importadas em 2024/25 e 5,0 milhões t em 2025/26 — um mercado estável e relevante para quem busca fornecedor alternativo.
Reportagem do Agro Estadão reforça o teto de potencial: a China pode importar até 7,9 milhões de toneladas por ano, o que representa cerca de 81% das compras mundiais de sorgo — número também atribuído ao USDA. É precisamente esse apetite chinês que torna o acordo com o Brasil tão promissor e explica a expectativa de embarques a partir de 2026.
No tabuleiro global, os Estados Unidos lideram as exportações, seguidos por Austrália e Argentina. Com as tensões comerciais recentres e ajustes de área nos EUA, analistas veem espaço para novos fornecedores — e o Brasil entra nessa conta com vantagem agronômica em regiões quentes e com menor disponibilidade hídrica.
Produção de sorgo no Brasil 2024/25, safrinha, ração e biocombustíveis
O sorgo vem se consolidando como cultura de segunda safra (safrinha) — alternativa ao milho quando a janela de plantio aperta — e com uso majoritário em ração animal, além de aplicações crescentes em etanol. De acordo com o USDA/FAS (Post Brasília), o Brasil é o 3º maior produtor mundial, com produção estimada em ~5 milhões t e área de 1,5 milhão ha em 2024/25, avanço de ~12% sobre o ciclo anterior. A resiliência ao estresse hídrico explica parte desse salto.
Historicamente, quase tudo fica no mercado interno. Em 2024, o país exportou cerca de 180 mil t de sorgo, 94% destinadas à África do Sul e 5% à Espanha — números que dimensionam o ponto de partida antes da China. Abrir a porta chinesa pode mudar essa geografia, sem impedir que o grão siga competitivo na nutrição animal e na matriz de biocombustíveis.
A Conab relata um cenário de produtividade acima do esperado em vários estados e ganho de área na cultura nesta safra, com lavouras em boas condições, especialmente onde houve manejo e clima favoráveis. São indícios importantes de capacidade de oferta para uma futura agenda exportadora.
Competitividade do sorgo brasileiro e logística para a China
Do lado do custo, estudos do USDA apontam que o preço do sorgo costuma ficar em 80%–85% do milho, enquanto o custo de produção pode ser 20%–30% menor — combinação que ajuda a fechar conta na safrinha e a manter rentabilidade. Para mercados externos, custo é vantagem competitiva.
Na logística, cada hora economizada conta. Em 2025 foi inaugurada uma rota marítima direta entre portos do Brasil e da China que reduz o tempo de viagem em até 30 dias e pode cortar custos logísticos em mais de 30%. Embora criada com foco em frutas, a mesma navegação abre uma alternativa de corredor para cargas brasileiras rumo ao mercado chinês, com benefício potencial para grãos e rações.
Com o protocolo vigente e a rota mais ágil, o próximo passo é padronizar classificação, limpeza e rastreabilidade do sorgo exportado. Cumprir especificações desde a colheita, passando por secagem, beneficiamento e armazenagem, reduz risco de não conformidade na GACC e evita devoluções custosas.