Decisão da Justiça do Trabalho que garante estabilidade mesmo sem afastamento do INSS gera forte reação nas redes: empresários apontam insegurança jurídica, enquanto trabalhadores relatam doenças, assédio e demissões em meio a tratamentos médicos
A decisão recente da Justiça do Trabalho, que reconhece o direito de estabilidade mesmo sem afastamento formal pelo INSS, continua repercutindo intensamente entre empresários e trabalhadores.
Desde que o entendimento passou a valer, a regra que antes exigia afastamento superior a 15 dias e o recebimento do benefício B91 deixou de ser o único critério para garantir 12 meses de estabilidade no emprego.
Agora, basta a comprovação do nexo entre a doença e o trabalho — mesmo que o diagnóstico venha após a demissão.
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Leitores expressaram sentimentos opostos: de um lado, empresários que veem na decisão um novo fardo e risco para quem gera empregos; de outro, trabalhadores que consideram o entendimento um avanço necessário diante de condições de trabalho precárias e doenças crescentes — físicas e mentais.
Empresários afirmam que a decisão amplia insegurança jurídica
Entre os leitores que se identificam com o setor empresarial, o sentimento predominante é de frustração.
Um deles afirmou que “fica difícil ser empresário no Brasil”, porque decisões como essa aumentariam o risco de processos e deixariam os empregadores em posição de vulnerabilidade.
Segundo ele, “o empresário virou o vilão da história, enquanto o governo é negligente e o INSS tenta se livrar das responsabilidades”.
O comentário, que recebeu apoio de outros leitores, argumenta que a Justiça estaria transferindo às empresas o peso de problemas estruturais do país, como a falta de educação e formação profissional.
“O Brasil investe em bolsas e impostos, mas não em capacitação. E sobra para o empresário pagar a conta”, escreveu o internauta, citando Japão, Coreia do Sul e Alemanha como exemplos de nações que evoluíram apostando em educação e tecnologia.
Essa visão revela uma preocupação mais ampla com o ambiente de negócios.
Para muitos, a nova regra pode levar empregadores a evitar contratações de profissionais com mais de 35 anos, temendo futuras ações trabalhistas. “Nenhuma empresa pequena vai querer contratar alguém que pode dar defeito depois dos 35”, disse outro leitor indignado. Ele classificou a decisão como “um incentivo para quem não quer trabalhar viver de benefício de quem tem pouco”.
Trabalhadores rebatem: “falta dignidade e sobra exploração”
As críticas do empresariado, porém, geraram fortes reações. Em resposta direta a um dos comentários, um leitor rebateu o argumento de que o problema seria o excesso de direitos.
Ele destacou que “atualmente o que não falta é vaga de emprego, mas quase 90% são precárias, com jornada 6×1 e salários em torno de um mínimo”.
Para esse grupo de leitores, a Justiça do Trabalho está apenas corrigindo uma distorção que por anos favoreceu as empresas.
“Os lucros são milionários, e o trabalhador continua se matando por migalhas”, escreveu um internauta.
Segundo ele, é incoerente culpar os programas sociais e defender cortes em auxílios, enquanto os políticos “vivem de privilégios, auxílios e supersalários”.
Outro ponto levantado foi o da dignidade mínima. “Reclamar de trabalhador doente que quer o básico é patético”, disse um dos leitores mais curtidos.
Para esse público, a decisão representa uma chance de equilíbrio entre capital e trabalho, garantindo proteção a quem adoece cumprindo metas ou sob pressão excessiva.
A voz de quem viveu o problema de perto
Entre os comentários mais comoventes, está o de uma leitora que relatou ter enfrentado uma demissão logo após adoecer. “Num momento difícil, em que as despesas aumentam e os olhares duvidosos caem em você, ainda é demitido”, escreveu.
Segundo ela, poucas pessoas compreendem o impacto psicológico da perda de emprego em meio à doença.
A leitora também destacou um aspecto pouco discutido: as doenças mentais relacionadas ao trabalho. “Falamos muito das doenças físicas, mas e as mentais? Quantos adoecem por cobranças descabidas, assédio e metas absurdas?”, questionou. Ela lembrou que o preconceito contra quem sofre de depressão ou ansiedade ainda é forte, e que muitos são tratados como “fracos” ou “preguiçosos”.
Esse tipo de relato reforça o argumento de que a nova interpretação da Justiça protege o elo mais vulnerável da relação: o trabalhador. “Ainda existem empregadores que acham que estão fazendo um favor ao dar emprego”, concluiu a leitora, em um comentário amplamente apoiado por outros usuários.
Preocupação com o colapso do sistema e a falta de fiscalização
Outros leitores, no entanto, tentaram adotar uma posição intermediária, criticando tanto a postura das empresas quanto a ineficiência do Estado.
Um deles escreveu que o problema não está apenas na Justiça, mas na falta de fiscalização e no mau funcionamento dos exames demissionais. “Qual o sentido de exigir um exame demissional se ele não serve pra nada?”, questionou.
Na opinião dele, o foco deveria estar na prevenção e no controle de qualidade dos exames feitos no momento da dispensa. “Se houvesse fiscalização séria, evitaríamos sobrecarregar a Justiça do Trabalho com mais processos. Mas tudo no Brasil é remendo sobre remendo”, completou.
Esse tipo de crítica revela a desconfiança generalizada em relação às instituições. Muitos usuários apontaram que o país vive um “balaio de gato jurídico”, onde as leis se contradizem e apenas poucos lucram com a insegurança — “os amigos do rei”, como descreveu um leitor.
Um retrato do país dividido entre direito e viabilidade
A avalanche de comentários mostra que a decisão da Justiça do Trabalho acendeu um debate muito mais amplo que o simples reconhecimento de estabilidade.
Ela toca em feridas sociais, econômicas e morais. Para uns, representa mais uma barreira à geração de empregos; para outros, uma chance de corrigir injustiças históricas.
De um lado, empresários pedem previsibilidade e reclamam de serem transformados em “seguros de saúde” do trabalhador. Do outro, empregados e cidadãos comuns veem a decisão como uma forma de proteção mínima em um mercado cada vez mais competitivo e exaustivo.
A polarização ficou evidente: enquanto uns culpam o Estado por transferir responsabilidades, outros o acusam de se omitir diante de abusos. Em comum, há a sensação de que o sistema está esgotado — e que a relação entre capital e trabalho continua sendo um campo de disputa permanente.
O que permanece claro após o debate
Ao final, a discussão entre leitores revelou mais do que divergências ideológicas: mostrou a falta de confiança mútua entre patrões, empregados e governo.
Empresários se dizem desamparados, trabalhadores se dizem explorados e todos concordam em um ponto — o Estado falha tanto na prevenção quanto na mediação.
Enquanto alguns pedem reformas e simplificação da legislação trabalhista, outros exigem mais rigor e responsabilidade social. Em ambos os casos, o recado é o mesmo: o modelo atual não satisfaz ninguém.
A nova jurisprudência da Justiça do Trabalho, que busca garantir estabilidade a quem adoece por causa do trabalho, acabou funcionando como espelho de um país em conflito. Um país onde se discute mais quem deve pagar a conta do que como evitar que a doença surja.
E no fim, como resumiu um dos leitores, “a Justiça tenta tapar buracos deixados por um sistema que nunca aprendeu a cuidar de quem produz — nem de quem emprega”.

 
                         
                        
                                             
                         
                         
                         
                        

 
                     
         
         
         
         
         
         
         
         
         
        
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