1. Início
  2. / Construção
  3. / Nova opção de concreto capaz de se regenerar sozinho já começa a aposentar as manutenções em pontes e prédios, aumenta em até 200% a durabilidade das estruturas e pode revolucionar a engenharia civil mundial, conheça o ‘concreto biológico’
Tempo de leitura 6 min de leitura Comentários 0 comentários

Nova opção de concreto capaz de se regenerar sozinho já começa a aposentar as manutenções em pontes e prédios, aumenta em até 200% a durabilidade das estruturas e pode revolucionar a engenharia civil mundial, conheça o ‘concreto biológico’

Escrito por Valdemar Medeiros
Publicado em 10/11/2025 às 07:52
Nova opção de concreto capaz de se regenerar sozinho já começa a aposentar as manutenções em pontes e prédios
Nova opção de concreto capaz de se regenerar sozinho já começa a aposentar as manutenções em pontes e prédios
Seja o primeiro a reagir!
Reagir ao artigo

Nova geração de concreto biológico com bactérias desenvolvida na Holanda se regenera sozinha, dobra a durabilidade das obras e promete revolucionar a engenharia civil mundial.

Durante mais de um século, o concreto foi considerado o material mais confiável e indispensável da engenharia civil. Presente em pontes, arranha-céus, barragens e túneis, ele sustenta o mundo moderno. Mas também carrega um problema antigo: fissuras e rachaduras inevitáveis com o passar do tempo, que comprometem sua durabilidade e exigem altos custos de reparo. Agora, uma inovação saída dos laboratórios da Delft University of Technology (Holanda) está prestes a mudar essa realidade. Cientistas desenvolveram uma nova geração de concreto capaz de se regenerar sozinho, usando bactérias microscópicas que “cicatrizam” as fissuras internas quando entram em contato com a umidade.

A tecnologia, já em fase de aplicação real em pontes e túneis europeus, pode aumentar em até 200% a vida útil de estruturas de concreto e reduzir em bilhões os custos anuais com manutenção.

O concreto que se cura sozinho

A ideia do chamado “concreto biológico” nasceu da observação da natureza. O professor Henk Jonkers, microbiologista e pesquisador da Delft University, percebeu que algumas espécies de bactérias têm a capacidade de precipitar carbonato de cálcio (CaCO₃), o mesmo composto mineral presente nas rochas calcárias e conchas marinhas. Essa característica inspirou a criação de um concreto que se “cura” sem intervenção humana.

O processo funciona assim: durante a fabricação do concreto, são adicionadas bactérias da espécie Bacillus pseudofirmus e microcápsulas de lactato de cálcio, que servem de alimento para elas.

Quando a estrutura sofre uma microfissura e a água infiltra, essas bactérias “despertam” do estado de dormência e iniciam uma reação química que produz calcita. Essa substância preenche as rachaduras de dentro para fora, restaurando a impermeabilidade e a integridade estrutural do material.

O professor Jonkers explica:

“Essas bactérias podem permanecer adormecidas por até 200 anos. Quando a água penetra uma fissura, elas se reativam e começam a produzir calcário, selando o concreto naturalmente. É como se o material tivesse um sistema imunológico próprio.”

Resultados que impressionam engenheiros

Os primeiros testes de campo foram realizados em 2019, em pontes e passarelas nos Países Baixos, e os resultados foram animadores. O concreto regenerativo selou completamente fissuras de até 0,8 milímetro de espessura em apenas 28 dias, mesmo sob variações de temperatura e umidade.

Estudos publicados na revista ScienceDirect e no portal Engineering Structures mostram que o concreto biológico aumenta em 150% a resistência à compressão e à permeabilidade em comparação com concretos convencionais. Além disso, ele reduz drasticamente a penetração de cloretos, uma das principais causas da corrosão de armaduras metálicas em pontes e viadutos.

Reprodução: nsdrafter

Na prática, isso significa que estruturas expostas ao tempo podem durar duas vezes mais sem grandes intervenções, reduzindo gastos públicos com manutenção e prolongando a vida útil de obras críticas de infraestrutura.

Aplicações em escala real na Europa

A tecnologia já ultrapassou a fase de laboratório. Em 2023, o material foi utilizado no reforço da ponte Scharsterbrug, na província de Frísia, e em seções de túneis de drenagem na Bélgica e na Alemanha. Em todos os casos, o concreto autossanável apresentou selamento completo das microfissuras em menos de um mês, mesmo sob exposição direta à chuva e vibrações intensas.

YouTube Video

Empresas de engenharia como Basilisk Self-Healing Concrete e Heijmans NV agora produzem o material em escala comercial, com o apoio do governo holandês e de fundos europeus de inovação. Segundo dados da European Concrete Platform, o uso do concreto biológico pode reduzir em até 50% os custos de manutenção em obras de infraestrutura nos próximos 20 anos.

O engenheiro estrutural Mark van Tittelboom, da Universidade de Ghent (Bélgica), que também participou dos estudos, destaca a importância da inovação:

“Essa tecnologia é uma virada de página para a engenharia civil. Estamos diante do primeiro material de construção com comportamento verdadeiramente biológico.”

Economia, sustentabilidade e impacto ambiental

Além da durabilidade, o concreto autossanável traz uma vantagem ambiental significativa. Estima-se que o setor de construção civil seja responsável por cerca de 8% das emissões globais de CO₂, em grande parte devido à produção de cimento e às manutenções frequentes.

Com a nova tecnologia, menos concreto precisará ser substituído, o que representa uma redução direta na pegada de carbono. Um relatório da Carbon Leadership Forum (2024) calcula que, se 20% do concreto mundial adotasse o modelo regenerativo, as emissões anuais de CO₂ do setor cairiam em mais de 400 milhões de toneladas, o equivalente ao impacto de 90 milhões de automóveis a menos circulando no planeta.

Nova opção de concreto capaz de se regenerar sozinho já começa a aposentar as manutenções em pontes e prédios
Foto: Nova opção de concreto capaz de se regenerar sozinho já começa a aposentar as manutenções em pontes e prédios

Além disso, como o material é baseado em processos biológicos naturais, não há risco tóxico ou impacto ambiental negativo. As bactérias usadas são seguras, inativas até o contato com a umidade, e morrem após o selamento das fissuras.

O desafio: custo e escalabilidade

Apesar das vantagens, o concreto biológico ainda enfrenta desafios para adoção em larga escala. Atualmente, o custo é entre 25% e 35% maior que o concreto comum, devido ao processo de encapsulamento das bactérias e ao uso de aditivos minerais especiais.

No entanto, especialistas apontam que o retorno sobre investimento é rápido, já que as economias em manutenção compensam o valor inicial em poucos anos. Segundo um estudo da TU Delft, uma ponte construída com concreto autossanável pode ter seu custo de ciclo de vida reduzido em até 40%.

O engenheiro Jonkers afirma que a equipe já trabalha para tornar o produto mais acessível:

“Estamos desenvolvendo versões mais baratas e adaptadas para diferentes climas. Em breve, será possível usar o concreto biológico até em países tropicais, com a mesma eficiência.”

O futuro do material inteligente

Pesquisas paralelas estão explorando variantes ainda mais sofisticadas da tecnologia. Cientistas da University of Colorado Boulder (EUA) criaram um tipo de concreto “vivo” que utiliza cianobactérias fotossintéticas para capturar CO₂ do ar e formar novas ligações minerais.

Já a Universidade de Bath (Reino Unido) estuda a incorporação de microcápsulas de polímeros autorreparadores, capazes de liberar resina selante ao detectar pressão interna.

Esses avanços fazem parte de uma tendência global chamada “engenharia bioadaptativa”, que busca criar materiais capazes de reagir e se ajustar ao ambiente, imitando processos naturais.

Uma revolução silenciosa nas estruturas

O concreto regenerativo representa uma nova era da construção civil, uma era em que as estruturas cuidam de si mesmas, economizam recursos e resistem ao tempo sem depender de intervenções constantes.

Pontes, viadutos e edifícios construídos com essa tecnologia poderão durar mais de 200 anos, tornando-se ícones de sustentabilidade e engenharia inteligente. O que antes parecia ficção científica está agora em fase de expansão comercial e promete redefinir o modo como o mundo constrói e preserva seu patrimônio.

Em um planeta que busca equilibrar desenvolvimento e sustentabilidade, o concreto que se cura sozinho não é apenas uma inovação: é um passo concreto rumo ao futuro.

Banner quadrado em fundo preto com gradiente, destacando a frase “Acesse o CPG Click Petróleo e Gás com menos anúncios” em letras brancas e vermelhas. Abaixo, texto informativo: “App leve, notícias personalizadas, comentários, currículos e muito mais”. No rodapé, ícones da Google Play e App Store indicam a disponibilidade do aplicativo.
Inscreva-se
Notificar de
guest
0 Comentários
Mais recente
Mais antigos Mais votado
Feedbacks
Visualizar todos comentários
Valdemar Medeiros

Formado em Jornalismo e Marketing, é autor de mais de 20 mil artigos que já alcançaram milhões de leitores no Brasil e no exterior. Já escreveu para marcas e veículos como 99, Natura, O Boticário, CPG – Click Petróleo e Gás, Agência Raccon e outros. Especialista em Indústria Automotiva, Tecnologia, Carreiras (empregabilidade e cursos), Economia e outros temas. Contato e sugestões de pauta: valdemarmedeiros4@gmail.com. Não aceitamos currículos!

Compartilhar em aplicativos
0
Adoraríamos sua opnião sobre esse assunto, comente!x