Inovações que vão da iluminação de redes à robótica avançada oferecem novas esperanças para proteger a vida marinha de equipamentos de pesca perdidos.
A pesca fantasma, causada por equipamentos de pesca perdidos ou abandonados, é uma ameaça silenciosa que mata milhões de animais marinhos anualmente. Em resposta a essa crise global, uma nova geração de tecnologia surge como uma poderosa aliada. No mundo, luzes de LED salvam tartarugas de redes invisíveis, enquanto no Japão, robôs submarinos realizam a limpeza de precisão no fundo do mar, demonstrando caminhos inovadores para proteger os ecossistemas oceânicos.
O que é a pesca fantasma e por que ela é um perigo?
A pesca fantasma é a captura contínua de vida marinha por equipamentos de pesca que foram abandonados, perdidos ou descartados nos oceanos. Essas redes, linhas e armadilhas, feitas de plásticos ultra-resistentes como o nylon, podem continuar pescando sozinhas por décadas ou até séculos. O material pode levar de 450 a 600 anos para se decompor.
O mecanismo é cruel e autoperpetuante. Um animal preso morre e serve de isca para outros, que também ficam presos, criando uma armadilha mortal sem fim. Estima-se que até 800.000 toneladas de equipamentos de pesca sejam perdidas nos oceanos a cada ano, compondo uma parcela significativa de todo o lixo plástico marinho. No Brasil, o cenário é igualmente alarmante, com estimativas de que milhares de animais marinhos sejam impactados diariamente.
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A tecnologia LED que reduz a captura acidental
Uma das soluções mais promissoras para evitar que animais fiquem presos é uma tecnologia de prevenção: a iluminação de redes com luzes de LED. O princípio é simples e genial. Tartarugas marinhas, aves e pequenos cetáceos possuem uma sensibilidade visual que lhes permite enxergar as luzes e desviar das redes, que de outra forma seriam invisíveis.
Essa tecnologia não afasta as espécies de peixes comerciais, permitindo que a pesca continue de forma eficiente. Estudos rigorosos conduzidos no Peru e no México comprovaram a eficácia do método. Nesses locais, o uso de LEDs verdes reduziu a captura acidental de tartarugas marinhas em mais de 63% e a de pequenos golfinhos em mais de 66%. Além disso, a tecnologia gera vantagens econômicas, pois reduz o tempo que os pescadores gastam para remover animais indesejados das redes.
A luta contra a pesca fantasma no sul do país
Embora a tecnologia LED seja uma ferramenta poderosa, sua aplicação em larga escala ainda não foi documentada no Sul do Brasil. Contudo, a região é um polo de importantes iniciativas de combate à pesca fantasma, com foco em estratégias adaptadas à realidade local.
Universidades de referência, como a Federal do Rio Grande (FURG) e a do Vale do Itajaí (UNIVALI), lideram pesquisas para monitorar os impactos da pesca na fauna. Na linha de frente, ONGs como a R3 Animal resgatam e reabilitam animais emaranhados. A inovação também vem da economia circular. Projetos como o “Redes do Bem” (SC) e a marca Oiamo (RS) capacitam artesãs para transformar redes de pesca descartadas em produtos de design, gerando renda e conscientização.
Como robôs submarinos japoneses mapeiam e removem redes perdidas
Se a prevenção falha, a tecnologia de remediação entra em cena. O Japão é um líder global no uso de robótica submarina para encontrar e remover redes fantasmas. O primeiro passo é localizar o equipamento perdido no vasto leito do oceano, uma tarefa que utiliza sonares de alta precisão e Inteligência Artificial para analisar as imagens e distinguir as redes de outros objetos.
Uma vez mapeado o local, robôs são enviados para a remoção. Veículos Operados Remotamente (ROVs), controlados da superfície por cabos, usam braços mecânicos e ferramentas de corte para retirar as redes. Essa liderança japonesa é fruto de um ecossistema de inovação que une o governo, através de agências como a JAMSTEC, e o setor privado, com empresas e startups de tecnologia marinha.
A importância de tecnologia e soluções integradas
O combate à pesca fantasma exige mais do que uma única solução. A vitória contra essa ameaça invisível depende da integração de múltiplas abordagens. A tecnologia é um pilar central, abrangendo desde a prevenção até a remediação.
Além dos LEDs e dos robôs, outras inovações promissoras incluem o desenvolvimento de equipamentos de pesca biodegradáveis e o uso de boias inteligentes com GPS para rastrear redes em tempo real. Contudo, nenhuma tecnologia funciona isoladamente. O sucesso depende da colaboração global entre governos, que devem criar políticas de fiscalização; da indústria, que deve adotar melhores práticas; e de ONGs e centros de pesquisa, que geram o conhecimento necessário para guiar as ações. Somente com essa união de esforços será possível construir um futuro mais seguro para a vida nos oceanos.