Investigações revelam que navios fantasmas russos seguem trazendo petróleo e combustível ao Brasil, mesmo sob sanções internacionais.
Navios russos classificados como parte da chamada “frota fantasma” seguem chegando ao Brasil com petróleo e combustível desde 17 de agosto de 2022, data da primeira atracação registrada em Santos.
A prática ocorre mesmo após sanções impostas pelos Estados Unidos, União Europeia e Reino Unido contra essas embarcações, que ganharam notoriedade durante a Guerra Rússia-Ucrânia.
A investigação conduzida pela BBC News Brasil, divulgada em setembro de 2025, revelou que ao menos 36 navios russos dessa frota operaram em portos brasileiros entre fevereiro de 2022 e julho de 2025.
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Eles desembarcaram combustíveis em terminais como Paranaguá (PR) e Santos (SP), aproveitando o fato de o Brasil não ter aderido às sanções internacionais.
O que é a “frota fantasma” de Putin
O termo “navio fantasma” é usado por especialistas para identificar petroleiros que navegam com o sistema automático de identificação (AIS) desligado, dificultando seu rastreamento.
Além disso, essas embarcações costumam mudar de bandeira, nome e proprietário com frequência, tornando quase impossível responsabilizar seus donos em caso de acidentes ambientais.
Segundo Alexander Turra, professor do Instituto de Oceanografia da USP:
“Os navios da frota fantasma são mais antigos, muitas vezes sem seguros adequados, e em caso de acidente seria extremamente difícil cobrar pelos prejuízos.”
Essa rede de navios surgiu após o teto de preço de US$ 60 por barril imposto pelo G7 ao petróleo russo em 2022.
Para driblar a medida, Moscou passou a usar petroleiros de bandeiras de conveniência e de empresas registradas em paraísos fiscais, direcionando combustíveis para países que não aderiram às sanções, como Brasil, Índia, Turquia e China.
O Brasil como porto seguro
Entre 2022 e 2025, a Rússia se consolidou como o maior fornecedor de diesel para o Brasil, respondendo por cerca de 60% das importações.
O movimento começou ainda no governo de Jair Bolsonaro, que em junho de 2022 anunciou publicamente negociações com Vladimir Putin para trazer combustível mais barato ao país, em meio à alta dos preços.
O volume importado saltou de US$ 100 milhões em 2022 para US$ 5,4 bilhões em 2024, de acordo com a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq). Em 2025, até julho, já eram US$ 3,07 bilhões em combustíveis russos.
No governo Lula, o fluxo se intensificou. Em visita a Moscou, em maio de 2025, o presidente reafirmou a importância estratégica da parceria energética com a Rússia.
Riscos diplomáticos, econômicos e ambientais
Especialistas alertam que a permanência desses navios russos no Brasil pode gerar consequências graves. Do ponto de vista ambiental, os riscos envolvem vazamentos de petróleo ou acidentes de grandes proporções.
No campo diplomático, o Brasil pode ser alvo de represálias. O pesquisador Benjamin Schmitt, da Universidade da Pensilvânia, afirmou:
“Qualquer empresa que estiver fazendo negócios com essas embarcações está financiando a invasão ilegal da Rússia. Isso pode transformar o Brasil em alvo de sanções secundárias dos Estados Unidos.”
Casos semelhantes já ocorreram em outros países, como a Índia, que foi sancionada em agosto de 2025 por manter negócios com combustíveis russos fora do teto de preços.
Navios russos sancionados operando no Brasil
Apesar das proibições internacionais, ao menos seis navios sancionados descarregaram combustível em portos brasileiros após 2024.
Entre eles está o Manta, embarcação que trocou de bandeira seis vezes desde 2022 e que desembarcou 17,2 mil toneladas de diesel em Suape (PE) em julho de 2025.
Outro exemplo é o NS Pride, navio citado por Bolsonaro em 2022 ao anunciar a chegada de 35 milhões de litros de diesel. Rebatizado como Prosperity, ele foi incluído nas listas de sanções do Tesouro dos EUA e da União Europeia em 2024.
O dilema brasileiro
Autoridades como a Marinha, Receita Federal e Antaq afirmam não terem recebido orientações para barrar navios russos da frota fantasma.
Juristas, como a professora Ingrid Zanella (UFPE), defendem que, se a documentação estiver regular, não há base legal para impedir a entrada dessas embarcações.
Por outro lado, especialistas em energia e meio ambiente insistem que os riscos vão além da legalidade, atingindo a imagem diplomática do Brasil e expondo o país a sanções internacionais.