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Navio hospitalar chinês com helicóptero, 389 tripulantes e 60 cirurgias diárias quer atracar no Brasil, mas militares brasileiros veem gesto com desconfiança

Escrito por Alisson Ficher
Publicado em 03/11/2025 às 23:45
Navio hospitalar chinês Ark Silk Road quer atracar no Rio em 2026, e pedido causa cautela entre diplomatas e militares brasileiros.
Navio hospitalar chinês Ark Silk Road quer atracar no Rio em 2026, e pedido causa cautela entre diplomatas e militares brasileiros.
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Em missão humanitária internacional, embarcação chinesa Ark Silk Road pede autorização para atracar no Rio de Janeiro em 2026, mas o gesto causa desconforto entre autoridades brasileiras e levanta debates sobre presença naval e diplomacia no Atlântico Sul.

A Embaixada da China no Brasil pediu ao Itamaraty autorização para que o navio hospitalar Ark Silk Road, da Marinha do Exército Popular de Libertação, atraque no Porto do Rio de Janeiro entre 6 e 13 de janeiro de 2026.

O pedido foi feito por meio de nota verbal datada de 15 de setembro de 2025 e provocou desconforto interno em setores do Ministério das Relações Exteriores e da Marinha, segundo fontes ouvidas pela reportagem.

O documento diplomático não detalha o motivo da parada e apenas informa que não estão previstas atividades de pesquisa ou uso de equipamentos de radiotransmissão.

Missão humanitária e omissão sobre a parada no Brasil

O Ark Silk Road participa da Harmony Mission 2025, missão humanitária internacional lançada pela China em setembro, com duração estimada de 220 dias e escalas em 12 países.

É a primeira vez que uma operação desse tipo é conduzida por Pequim fora da Ásia-Pacífico.

Apesar de o itinerário ser público, a nota encaminhada ao governo brasileiro não cita o programa humanitário.

Essa ausência, segundo interlocutores do Itamaraty, causou dúvidas sobre o propósito da visita.

Questionados, o Ministério das Relações Exteriores e o Ministério da Defesa informaram que não comentariam o caso.

A Marinha declarou que sua análise se restringe aos aspectos técnicos e logísticos, como segurança da navegação, profundidade do canal, capacidade do porto e suprimentos necessários.

Navio hospitalar chinês Ark Silk Road quer atracar no Rio em 2026, e pedido causa cautela entre diplomatas e militares brasileiros.
Navio hospitalar chinês Ark Silk Road quer atracar no Rio em 2026, e pedido causa cautela entre diplomatas e militares brasileiros.

Rota e países previstos na Harmony Mission 2025

Informações oficiais do governo chinês indicam que o navio já passou por Nauru, Fiji e Tonga, com próximas escalas em México, Jamaica, Barbados, Brasil, Peru, Chile e Papua-Nova Guiné.

O próximo destino confirmado é a Nicarágua, onde a embarcação ficará ancorada no Porto de Corinto durante o mês de novembro de 2025.

Entre os países visitados, Brasil e México são os únicos que não integram formalmente a Iniciativa Cinturão e Rota, principal estratégia internacional de investimento da China.

O governo brasileiro mantém postura de cooperação comercial, mas sem adesão formal ao projeto.

Estrutura hospitalar e equipe médica

O Ark Silk Road possui 14 departamentos clínicos, 7 unidades auxiliares de diagnóstico e capacidade para realizar mais de 60 tipos de cirurgias, abrangendo áreas como ortopedia, ginecologia e oftalmologia.

O navio também conta com helicóptero próprio para transporte de pacientes e evacuação médica.

A tripulação é composta por 389 militares e profissionais de saúde, em sua maioria pertencentes à Marinha do Teatro Sul, com apoio da Força Conjunta de Apoio Logístico, da Marinha do Teatro Norte e da Universidade Médica Naval da China.

Segundo dados oficiais divulgados por Pequim, a missão já realizou milhares de atendimentos e cirurgias no Pacífico Sul, além de promover ações de capacitação em hospitais e escolas locais.

O governo chinês descreve a embarcação como um “navio da esperança e enviado da paz”.

Pedido chinês gera cautela entre militares

Fontes militares relataram que o pedido de ancoragem foi recebido com cautela porque o documento diplomático não menciona explicitamente que a visita faz parte da Harmony Mission.

“Há um certo mal-estar porque o pedido não explicita que se trata da Harmony Mission. Isso gerou dúvidas sobre o objetivo real da visita”, afirmou uma fonte sob anonimato.

A Marinha reforçou que, até o momento, não há impedimentos técnicos identificados e que a decisão final caberá ao Itamaraty, responsável por avaliar aspectos políticos e diplomáticos do pedido.

Especialistas avaliam dilema diplomático

Para o cientista político Maurício Santoro, colaborador do Centro de Estudos Político-Estratégicos da Marinha do Brasil, o caso coloca o país em uma situação diplomática delicada.

Segundo ele, o Brasil possui capacidade própria para operações humanitárias por meio do Navio-Aeródromo Multipropósito Atlântico, e visitas desse tipo são mais comuns em nações com estruturas hospitalares menos desenvolvidas ou atingidas por emergências.

Santoro explica que recusar a visita poderia ser interpretado como um gesto de desconfiança, enquanto aceitá-la exigiria equilíbrio político.

“O Brasil não quer simplesmente dizer não. A China é um parceiro econômico relevante e sensível em termos estratégicos”, afirmou o especialista.

Contexto geopolítico e presença naval da China

Navio hospitalar chinês Ark Silk Road quer atracar no Rio em 2026, e pedido causa cautela entre diplomatas e militares brasileiros.
Navio hospitalar chinês Ark Silk Road quer atracar no Rio em 2026, e pedido causa cautela entre diplomatas e militares brasileiros.

Analistas em defesa e relações internacionais avaliam que a Harmony Mission 2025 tem também um componente estratégico.

A presença do Ark Silk Road no Atlântico Sul e no Caribe reforça a ampliação do alcance marítimo chinês em regiões historicamente sob influência norte-americana.

Segundo esses especialistas, o envio de um navio-hospital sinaliza capacidade logística e intenção de projetar poder brando (soft power).

Paralelamente, os Estados Unidos mantêm operações navais no Caribe dentro de programas de combate ao narcotráfico.

As ações incluem exercícios com Trinidad e Tobago e monitoramento de embarcações na área próxima à Venezuela.

Washington também acompanha o avanço chinês na América Latina, especialmente após o início das operações do megaporto de Chancay, no Peru, investimento estimado em US$ 3,4 bilhões, liderado pela estatal Cosco Shipping Company.

Brasil tenta equilibrar relação com potências

A possível escala do Ark Silk Road no Rio deve coincidir com a visita do navio de pesquisa oceanográfica norte-americano NOAA Ronald H. Brown, autorizado a operar no Porto de Suape (PE) entre 14 e 21 de janeiro de 2026, segundo despacho publicado no Diário Oficial da União.

A presença quase simultânea de embarcações da China e dos Estados Unidos em portos brasileiros é interpretada por diplomatas como um teste de equilíbrio nas relações externas do Brasil.

Fontes ligadas ao Itamaraty afirmam que a decisão será conduzida com discrição e avaliação estratégica, levando em conta tanto a cooperação técnica quanto a repercussão política internacional.

Segundo diplomatas ouvidos, o objetivo é manter neutralidade e evitar que o país seja percebido como alinhado a um dos lados em um contexto de disputa por influência no Atlântico Sul.

Aspectos técnicos e próximos passos

Na esfera operacional, cabe à Marinha examinar fatores como profundidade do porto, segurança de manobras, suprimento de energia e abastecimento de água.

Depois dessa etapa, o parecer técnico será encaminhado ao Ministério das Relações Exteriores, responsável pela decisão política.

De acordo com analistas, o Brasil historicamente recebe navios estrangeiros em missões científicas, humanitárias ou de instrução.

No entanto, o contexto atual, marcado pela competição entre potências, torna o episódio mais sensível.

Com o Ark Silk Road na rota do Atlântico e o Ronald H. Brown previsto para o litoral nordestino, a gestão simultânea dessas visitas será um novo teste da diplomacia brasileira: como manter a neutralidade sem comprometer os laços com seus principais parceiros estratégicos?

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Alisson Ficher

Jornalista formado desde 2017 e atuante na área desde 2015, com seis anos de experiência em revista impressa, passagens por canais de TV aberta e mais de 12 mil publicações online. Especialista em política, empregos, economia, cursos, entre outros temas e também editor do portal CPG. Registro profissional: 0087134/SP. Se você tiver alguma dúvida, quiser reportar um erro ou sugerir uma pauta sobre os temas tratados no site, entre em contato pelo e-mail: alisson.hficher@outlook.com. Não aceitamos currículos!

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