Descoberta inédita revela como partículas solares intensas transformaram Marte em um planeta árido e sem vida, lançando nova luz sobre processos que moldaram a atmosfera marciana bilhões de anos atrás.
Logo no início, a mensagem é clara: partículas solares intensas foram responsáveis pelo processo que fez Marte perder sua água.
Pesquisadores identificaram que, há bilhões de anos, Marte perdeu seu campo magnético, ficando exposto ao vento solar — uma corrente de partículas carregadas emitidas pelo Sol.
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Com isso, parte significativa da atmosfera foi arrancada, tornando impossível a estabilidade da água líquida na superfície.
Quando o escudo desapareceu, o planeta ficou vulnerável a tempestades solares que “espetavam” a atmosfera como se fossem balas de canhão, segundo Shannon Curry, pesquisadora principal da missão MAVEN.
O impacto dessas partículas ionizadas foi medido diretamente.
Pela primeira vez, a configuração de três instrumentos da sonda – analisador de íons do vento solar, espectrômetro de massa de íons e gás neutro e magnetômetro – captou, simultaneamente, o evento de sputtering.
Com isso, a NASA criou um mapa tridimensional do argônio sendo ejetado, registrando o fenômeno em tempo real.
A pesquisa constatou que o efeito é até quatro vezes mais intenso do que estimado anteriormente, especialmente em momentos de tempestade solar.
A taxa de escape de argônio aumentou significativamente nas regiões com maior concentração de íons solares, sinalizando forte atividade de sputtering.
O que é pulverização catódica em Marte
Quando íons pesados do vento solar atingem a atmosfera, chocam-se com moléculas neutras, impulsionando-as para o espaço – é a essência da pulverização catódica.
Estudos pré‑MAVEN já haviam detectado frações menores de argônio‑36 (o isótopo mais leve), indicativo de que esse processo ocorria remotamente.
A diferença agora foi poder “ver o fogo”, não só as cinzas — ou seja, observar em tempo real os átomos arrastados.
Modelos revelam que o mecanismo opera principalmente a altitudes superiores a 350 km e é regulado por tempestades solares e o campo elétrico do vento solar.
Essa combinação potencializou a perda de argônio em até 100 vezes durante eventos extremos.
Impacto na água marciana
Segundo Curry e colaboradores, a frenagem histórica da atmosfera reduziu drasticamente a pressão em superfície.
Sem pressão suficiente, a água líquida evapora, tornando possível sua perda para o espaço.
A observação de sputtering resolve uma das peças faltantes desse quebra-cabeça, comprovando um mecanismo essencial da transição do planeta de úmido para árido.
O estudo, publicado na revista Science Advances, reforça a relevância do modelo.
A MAVEN, lançada em 2013 e em órbita de Marte desde 2014, reuniu dados entre 2014 e 2024 para analisar os fenômenos nos hemisférios +E (campo elétrico afastado) e –E (campo elétrico apontado para Marte), demonstrando maiores concentrações de argônio no hemisfério –E acima de 350 km.
Por que a descoberta é importante para a ciência
A pesquisa fornece evidência empírica de que o sputtering foi um fator crítico na perda da atmosfera marciana.
A análise ajuda a estimar as condições climáticas e atmosféricas de Marte ao longo de sua história, especialmente quando o Sol era mais ativo.
Compreender essa dinâmica é essencial para avaliar a habitabilidade marciana — não apenas no passado, mas para planejar futuras missões tripuladas.
Ainda que a NASA planeje encerrar a MAVEN em 2026 por restrições orçamentárias, os cientistas esperam continuar extraindo dados valiosos até lá.
Após isso, a dependência dos dados obtidos poderá limitar pesquisas futuras sobre fenômenos similares.
Se a pulverização catódica foi tão eficiente em tornar Marte seco e inóspito, será que fenômenos semelhantes podem comprometer a habitabilidade de outros planetas no universo?