Diante da tarifa de até 50% imposta pelos EUA, o governo brasileiro reativou as negociações Mercosul–Canadá e enviou missão empresarial ao México para abrir rotas de exportação e investimento em curto prazo.
Desde 2 de abril de 2025, quando a Casa Branca editou a Ordem Executiva 14257 e instituiu uma tarifa de 10% sobre importações, o comércio bilateral Brasil – EUA entrou em fase de incerteza. O quadro piorou em 30 de julho, com a adoção de um adicional de 40% para a maior parte dos bens brasileiros, elevando a incidência total para até 50%, com efeitos práticos a partir da primeira semana de agosto.
Embora setores como veículos, aeronaves e alguns itens de energia e metais tenham ficado fora da sobretaxa, o impacto sobre a pauta exportadora é significativo. Para amortecer o choque no curto prazo, o governo brasileiro anunciou compras públicas de produtos afetados, como açaí, água de coco, castanhas e pescado, com preços de referência capazes de sustentar renda e escoar a produção.
Ao mesmo tempo, Brasília combina ações na OMC, diálogo político e acompanhamento de disputas judiciais nos Estados Unidos sobre o alcance do IEEPA. Essas contestações ainda não têm desfecho e, até lá, o ambiente tarifário segue pressionando margens e preços.
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Diante desse cenário, o Brasil acionou duas frentes para diversificar mercados e reduzir a exposição ao tarifaço. De um lado, a retomada das negociações Mercosul–Canadá, com nova rodada entre chefes negociadores prevista para outubro. De outro, a missão empresarial ao México liderada pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, focada em abrir novas oportunidades em indústria, agronegócio e saúde.
Mercosul–Canadá, retomada do acordo de livre comércio e oportunidades no agro
Após quase quatro anos sem avanços, Mercosul e Canadá anunciaram a retomada formal das negociações para um Acordo de Livre Comércio, em reunião realizada em Brasília em 25 de agosto. Os governos programaram nova rodada entre chefes negociadores em outubro, sinalizando prioridade política.
A visita ao Brasil do ministro canadense Maninder Sidhu, de 25 a 28 de agosto, reforçou a agenda de comércio, investimentos e cooperação em energia e mineração. Segundo comunicados oficiais, Ottawa e Brasília veem o acordo como instrumento para reduzir tarifas, facilitar serviços e dar previsibilidade regulatória ancorada na OMC.
Para o agronegócio, o potencial é expressivo. Estudo da CNA estima até US$ 7,8 bilhões por ano em receita adicional nas exportações com um acordo Mercosul–Canadá, com destaque para carnes, cereais, frutas e complexo soja. Essa projeção serve de referência para orientar concessões e aberturas sensíveis na nova rodada.
O Brasil já vinha aumentando vendas ao mercado canadense em 2025, o que cria base para ganhos adicionais quando houver eliminação significativa de tarifas. Dados oficiais e de entidades empresariais registram recordes no semestre e maior apetite por commodities e manufaturados brasileiros.
Brasil e México, missão de Alckmin, ACE-53 e acordos setoriais
Em 27 e 28 de agosto, o vice-presidente Geraldo Alckmin lidera missão empresarial à Cidade do México para “abrir novas frentes de comércio e investimento” em indústria, agro e saúde, com participação de ApexBrasil, Itamaraty, Anvisa e Conab, além de dezenas de empresas. A agenda incluiu encontro com a Presidência mexicana e fóruns com o setor privado.
A leitura de governo e empresas é pragmática. Em vez de iniciar um FTA amplo, Brasil e México devem atualizar e expandir acordos setoriais já existentes ao longo dos próximos 12 meses, aproveitando o arcabouço do ACE-53, que desde 2002 concede preferências tarifárias a cerca de 800 posições e reduz barreiras não tarifárias.
O ACE-53 tem texto e histórico detalhados em documentos da ALADI e do governo brasileiro. Ele é o caminho mais rápido para destravar fluxos em áreas onde já há preferências e onde um “upgrade regulatório” pode reduzir custo, tempo e incerteza para exportadores brasileiros. Setores como bioenergia, baterias e defesa entraram na pauta recente das reuniões.
O México também abriu espaço prático para produtos brasileiros em 2025 segundo a Reuters. Autoridades locais se preparam para ampliar habilitações de frigoríficos do Brasil e, neste mês, o país ultrapassou os EUA como segundo maior comprador de carne bovina brasileira, movimento acelerado pelo tarifaço. Isso fortalece a ideia de diversificação de destinos no curto prazo.
Novas reuniões, acordos e rotas de exportação para produtos brasileiros
No eixo Canadá, a agenda de outubro entre chefes negociadores deve detalhar escopo, prazos e listas de ofertas. A expectativa é avançar em eliminação de tarifas, serviços e regras de facilitação de comércio, com foco em setores de maior tração exportadora.
No México, os próximos comunicados devem especificar acordos setoriais e atualizações do ACE-53, incluindo capítulos técnicos como sanitário e fitossanitário, compras públicas e regras de origem. O objetivo declarado é reduzir o impacto das novas barreiras dos EUA, redirecionando parte da oferta.
Diversificar mercados e aproveitar preferências já vigentes são as estratégias de menor custo de transição. Canadá e México aparecem como parceiros prioritários neste redesenho, com respaldo de dados, atos oficiais e calendário de negociações.
O q não mata fortalece 💪
Só agora de depois do tarifaco dos EUA ,o Brasil está começando a diversificar o comércio?
Desculpe, mas não foi só depois do tarifaco, a reportagem mostra que desde o primeiro trimestre começaram as tratativas. O que pode ser verificado pelos resultados de exportações de carne bovina ao México no total de 58 milhões de dólares, entre 1 a 25 de agosto, no mesmo período as exportações deste produto aos EUA somaram 43 milhões de dólares e em comparação ao mesmo período de 2024 apresenta um crescimento de 26%. Como já exportação muitos produtos ao Canadá eles foram “turbinados”, e isso sem contar as exportações de diversos itens para a Ásia que também foram incrementadas.
Ofender é o único argumento do ignorante.
O segundo é processar.