Uber testa modelo que permite a motoristas e entregadores realizar tarefas digitais pagas pelo app, como enviar fotos e gravar áudios, enquanto aguardam novas corridas. Projeto-piloto começa nos Estados Unidos e envolve o grupo interno de IA da empresa.
A Uber vai começar a oferecer tarefas digitais pagas dentro do próprio aplicativo, permitindo que motoristas e entregadores ganhem uma renda adicional nos intervalos entre corridas e entregas.
O projeto, conduzido pelo grupo interno de Soluções de IA, estreia como piloto nos Estados Unidos e incorpora atividades rápidas voltadas ao treinamento de modelos de inteligência artificial, como gravar trechos de voz, enviar fotos e submeter documentos em idiomas específicos.
A iniciativa foi anunciada pelo CEO, Dara Khosrowshahi, como parte do plano de transformar a plataforma no “melhor ambiente para trabalho flexível”.
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Como vai funcionar no app do motorista
Dentro do aplicativo de quem já dirige ou faz entregas, surgirá uma nova categoria chamada Digital Tasks.
Ali, o trabalhador poderá ver quais tarefas estão disponíveis, com pagamento atrelado ao tempo e à complexidade de cada atividade.
Segundo a empresa, são microtarefas que se concluem em poucos minutos e que podem ser realizadas no próprio celular.
Entre os exemplos divulgados estão gravação de áudios em determinados idiomas ou sotaques, captura e envio de imagens sob orientação e submissão de documentos em outros idiomas.
Em algumas instruções, o app pode pedir que o motorista registre a própria voz falando frases específicas, ou que fotografe objetos conforme descrições pré-definidas.
Há também pedidos de upload de cardápios ou materiais em outras línguas, que alimentam bases de dados linguísticas.
Um exemplo citado pela imprensa especializada é o envio de um menu em espanhol, remunerado em até US$ 1 por item.
Os valores variam conforme a tarefa, e a empresa não informa uma média de ganho por hora.
Objetivo e escopo do piloto
A Uber afirma que a proposta atende a uma demanda recorrente de quem usa a plataforma para trabalhar: mais maneiras de ganhar quando a demanda por corridas ou entregas está baixa.
O piloto nasce nos Estados Unidos e foi precedido por testes na Índia, onde motoristas já vinham respondendo a prompts no aplicativo para tarefas semelhantes.
O desenvolvimento e a operação das atividades ficam sob responsabilidade do Uber AI Solutions Group, a área que reúne processos de “humano no loop” para treinar modelos.
Ao abrir essa frente, a companhia se posiciona também no mercado de rotulagem e geração de dados para IA, hoje dominado por empresas como Scale AI e plataformas de microtarefas.
A aposta é usar a base de motoristas e entregadores já cadastrados para executar missões curtas e distribuídas, com verificação de identidade e mecanismos nativos do app.
Relatos publicados por veículos de tecnologia indicam que a estratégia coloca a Uber em rota de competição com serviços como o Amazon Mechanical Turk, porém com a vantagem de uma rede ativa e geograficamente ampla de trabalhadores.
O que a empresa diz sobre remuneração e proteção
Embora a Uber destaque que os pagamentos são transparentes antes da execução e proporcionais à complexidade da tarefa, não há divulgação de uma tabela pública de valores ou de uma estimativa de ganho por hora.
A companhia reforça que as Digital Tasks são opcionais e que o trabalhador poderá alternar entre corridas, entregas e tarefas conforme a sua rotina.
Em paralelo ao piloto, a empresa anunciou ajustes no cartão de oferta de viagens, novo heatmap para indicar áreas com menor tempo de espera e funções de segurança e controle adicionais, como preferências para corridas com passageiras mulheres e ajuste do rating mínimo de passageiros.
Essas mudanças aparecem no pacote “Only on Uber 2025”, divulgado em evento em Washington, e fazem parte do argumento de que a plataforma vem ampliando ferramentas de renda, transparência e proteção.
A companhia também vem revisando regras de desativação, prevendo instâncias em que o acesso do motorista não é bloqueado por completo e permitindo que ele apresente sua versão antes de uma decisão final.
Relação com a onda de IA e o futuro do trabalho por aplicativo
No anúncio, a Uber amarra o piloto a uma visão mais ampla de trabalho sob demanda, em que tarefas digitais convivem com atividades de mobilidade e entrega.
Ao usar a própria rede para gerar dados de treinamento, a empresa busca reduzir custos, escalar volume e oferecer renda complementar em períodos ociosos.
Essa movimentação acontece enquanto executivos do setor admitem que a automação deve avançar nos próximos anos e reconfigurar parte das oportunidades tradicionais de direção.
Por isso, a Uber alega estar expandindo novos tipos de trabalho dentro do seu ecossistema.
A imprensa especializada observa que, se a adesão for alta, a Uber pode disputar contratos com empresas que precisam de dados anotados e verificados para treinar modelos de IA generativa e de visão computacional.
O volume global da base de motoristas e entregadores, somado a instrumentos antifraude do app, é um ativo que a empresa explora para validar o conteúdo enviado.
Ainda assim, aspectos como quais clientes contratam as tarefas, como os dados são armazenados e quais salvaguardas de privacidade se aplicam não foram detalhados publicamente até o momento.
Diferenças em relação a outras plataformas de microtarefas
A comparação com serviços tradicionais de microtarefas é inevitável.
Plataformas como o Mechanical Turk conectam empresas a trabalhadores remotos que executam pequenos jobs de anotação e validação de dados.
No caso da Uber, a intermediação ocorre dentro do app do motorista, visível somente para quem já está cadastrado e ativo no ecossistema da companhia.
Essa barreira de entrada, segundo analistas, pode reduzir problemas clássicos de identidade, qualidade e pagamento que afetam mercados abertos, embora também limite o alcance a quem não integra a base da Uber.
O que falta saber
A Uber confirmou o início do piloto nos EUA, a origem do programa nos testes na Índia e a gestão pela área de Soluções de IA.
Também há exemplos de tarefas e indicativos de remuneração por item, como o envio de cardápio remunerado em até US$ 1.
Permanecem sem divulgação oficial a média de ganhos por hora, a política de direitos autorais para conteúdos enviados e a lista de setores atendidos pelos dados coletados.
Esses pontos serão centrais para avaliar a adesão dos motoristas, a qualidade do material gerado e o impacto na renda de quem depende do aplicativo no dia a dia.
Enquanto o piloto avança, motoristas e entregadores vão testar a novidade para ver se vale a pena ocupar os minutos de espera com tarefas digitais.
A pergunta que surge, diante desse novo arranjo de trabalho por aplicativo, é direta: você toparia transformar o tempo parado entre corridas em microtarefas de IA para reforçar a renda?