Nova unidade da Great Wall Motors em Iracemápolis inicia produção com foco em híbridos e plug-in, prevendo expansão, nacionalização de peças e milhares de empregos, além de parceria tecnológica para desenvolver motor híbrido flex com a Bosch.
O Brasil ganhou nesta sexta-feira (15) uma nova fábrica de automóveis. A chinesa Great Wall Motors (GWM) inaugurou sua unidade em Iracemápolis (SP), em cerimônia com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do vice Geraldo Alckmin.
O plano industrial prevê investimentos de R$ 10 bilhões até 2032, foco em híbridos e híbridos plug-in e a ambição de chegar, em etapas, a 100 mil veículos por ano.
A planta foi adquirida da Mercedes-Benz em 2021 e passa a operar com produção inicial entre 20 mil e 30 mil carros/ano, preparada para 50 mil unidades em três anos.
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A expansão para 100 mil veículos dependerá do avanço da nacionalização e da demanda.
A montadora afirma que o projeto deve gerar de 800 a 1.000 empregos até o fim de 2025; hoje, há cerca de 400 contratados.
Produção começa com o Haval H6
A primeira fase mira o SUV Haval H6, com versões híbrida e híbrida plug-in.
A montagem parte de componentes importados, mas com conteúdo local desde o início, incluindo pneus, vidros, rodas, bancos e chicotes elétricos.
A pintura será feita no próprio complexo paulista.
A GWM trabalha para, em três anos, atingir 60% de nacionalização, patamar que permitiria ampliar o fornecimento à região.
No evento, a empresa reiterou que modelos 100% elétricos terão cronograma posterior.
Antes disso, chegarão à linha a picape Poer e o SUV Haval H9, inicialmente com motorização a diesel enquanto a unidade avança na curva de aprendizado produtiva.
Indústria local e fornecedores
O plano inclui nomeação de uma dezena de fornecedores nacionais já na largada, após rodadas com mais de 100 autopeceiros nos últimos meses.
A empresa diz que o programa de localização seguirá por etapas, com contratos de confidencialidade, análises de capacidade e fechamento comercial.
“O Brasil é o headquarter da GWM na América Latina e tem o papel de intensificar nossa presença na região”, afirmou Ricardo Bastos, diretor de Assuntos Institucionais.
A estratégia de conteúdo local atende ao Programa Mobilidade Verde e Inovação (MoVer), política federal que condiciona benefícios fiscais a metas de eficiência, inovação e sustentabilidade.
A GWM afirma que sua engenharia local trabalhará junto às equipes globais para cumprir os requisitos técnicos e de emissões previstos no programa.
Híbrido flex em desenvolvimento com a Bosch
Para adaptar a oferta ao mercado brasileiro, a montadora planeja versões híbridas flex — capazes de rodar com etanol ou gasolina — a partir de 2026.
“A Bosch do Brasil já está desenvolvendo o motor híbrido flex para nossos veículos”, disse Bastos.
Segundo o executivo, engenheiros chineses participam do projeto para absorver o conhecimento sobre biocombustíveis.
“Nossa engenharia não domina ainda o flex, e é muito positivo que, a partir do Brasil, a gente agregue tecnologia e conhecimento lá na China”, completou.
Empregos e ritmo de ramp-up
A produção começa em um turno e, conforme a empresa, pode alcançar 50 mil veículos/ano “rapidamente” com ganho de escala.
A abertura de um segundo turno está no horizonte de 2026, dependendo do avanço das contratações e da base de fornecedores.
Além dos empregos diretos, a GWM projeta efeito multiplicador na cadeia de autopeças, logística e serviços.
A capacidade instalada na largada fica próxima das vendas atuais da marca no Brasil, sustentadas pelo próprio Haval H6 importado.
A transição será gradual: a produção local abastecerá as concessionárias à medida que os estoques importados forem sendo escoados.
Exportações e regras de origem
Além do mercado interno, a GWM mira exportações para países com acordos comerciais com o Brasil, como Argentina e México, assim que cumprir os requisitos de origem aplicáveis aos produtos automotivos.
O objetivo de 60% de conteúdo local em três anos é apontado pela empresa como passo necessário para viabilizar esse movimento, em linha com as exigências regionais e dos tratados vigentes.
Ambiente regulatório: MoVer e kits de montagem
A inauguração ocorre em meio a mudanças no ambiente regulatório.
O MoVer elevou metas de eficiência e inovação e ajustou critérios de tributação conforme o desempenho ambiental dos veículos.
Em paralelo, o governo autorizou, por prazo limitado, a importação de kits CKD e SKD para eletrificados com alíquota zero de importação, dentro de cotas financeiras definidas.
A medida busca destravar o início de operações e acelerar a nacionalização subsequente.
A GWM avalia essas alternativas logísticas ao mesmo tempo em que estrutura sua rede de fornecedores no país.
Contexto competitivo: presença chinesa em expansão
O avanço da GWM integra a nova onda de investimentos de montadoras chinesas no Brasil.
BYD, por exemplo, avança em Camaçari (BA) com testes de montagem de Dolphin Mini e Song Pro, enquanto conclui licenças para inauguração plena.
O reforço de players asiáticos acirra a concorrência em segmentos de SUVs, picapes e veículos eletrificados, com foco crescente em tecnologia, eficiência energética e custos.
Autoridades e bastidores
Além de Lula e Alckmin, participaram autoridades federais e estaduais ligadas à indústria e ao trabalho.
O governador Tarcísio de Freitas foi convidado, mas não compareceu.
A cerimônia serviu também para apresentar ao governo a agenda de P&D, qualificação técnica e projetos de mobilidade de baixa emissão conectados ao ecossistema paulista.
Próximos passos
Até o fim do ano, a GWM pretende ampliar o mix nacional com novos modelos, manter a rampa de nacionalização e detalhar parcerias com fabricantes de baterias e componentes estratégicos.
O Haval H6 seguirá como carro-chefe na transição do portfólio importado para o produzido em Iracemápolis, enquanto os projetos de híbrido flex e de expansão de capacidade ganham maturidade.
No médio prazo, o plano industrial prevê consolidar a irradiação para a América Latina, desde que as metas técnicas e de conteúdo local sejam cumpridas.
Ao inaugurar mais uma fábrica de carros no país e apostar em híbridos plug-in com perspectiva de motor flex desenvolvido em parceria com a Bosch, a GWM se compromete a um ciclo de investimento longo, com metas explícitas de emprego e nacionalização.
Diante desse cenário, qual será o ritmo real da indústria brasileira para transformar esse impulso em escala competitiva e exportações sustentáveis?