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Moeda do Brics é aposta de Brasil, China e aliados e pode abalar o dólar e transformar o sistema financeiro global em até 5 anos, aponta ex-Fórum Econômico Mundial

Escrito por Alisson Ficher
Publicado em 12/10/2025 às 16:54
Moeda do Brics pode reduzir o poder do dólar e mudar o sistema financeiro global em até cinco anos, segundo ex-diretor do Fórum Econômico Mundial.
Moeda do Brics pode reduzir o poder do dólar e mudar o sistema financeiro global em até cinco anos, segundo ex-diretor do Fórum Econômico Mundial.
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Especialistas apontam que a criação de uma moeda comum entre os países do Brics pode redesenhar o sistema financeiro global, reduzir a dependência do dólar e alterar o equilíbrio econômico internacional nos próximos anos.

A criação de uma moeda comum entre os países do Brics — hoje um grupo de 11 membros — pode alterar o equilíbrio do sistema financeiro internacional e reduzir o peso do dólar, segundo avaliação do alemão Frank-Jürgen Richter, ex-diretor do Fórum Econômico Mundial.

Em entrevista, ele afirmou que a ideia só avançará se China e Índia resolverem divergências, mas, “se isso acontecer, em quatro ou cinco anos, será um grande choque para a economia americana”.

Disputa monetária e janela de tempo

Para Richter, a adoção de uma unidade de conta compartilhada entre os membros do Brics não se dará rapidamente.

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Primeiro, seria indispensável um entendimento entre Pequim e Nova Délhi, as duas maiores economias emergentes do bloco e rivais em temas geopolíticos e fronteiriços.

Apenas depois desse acerto a proposta poderia ganhar tração técnica e política.

Nas palavras dele, não é “da noite para o dia”, mas, superado o impasse, o impacto seria sentido em poucos anos, com potencial de reprecificar contratos e reservas e reordenar fluxos financeiros.

Moeda do Brics pode reduzir o poder do dólar e mudar o sistema financeiro global em até cinco anos, segundo ex-diretor do Fórum Econômico Mundial.
Moeda do Brics pode reduzir o poder do dólar e mudar o sistema financeiro global em até cinco anos, segundo ex-diretor do Fórum Econômico Mundial.

Ainda que a coordenação diplomática seja complexa, a discussão ganhou fôlego com a ampliação recente do Brics.

O grupo, que foi formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, passou a contar também com Egito, Etiópia, Indonésia, Irã, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos.

A diversidade econômica aumenta o alcance potencial da moeda, mas também amplia a heterogeneidade de políticas cambiais e fiscais, um desafio para qualquer arranjo comum.

Pressões dos Estados Unidos e efeito dólar

O ex-diretor do FEM avaliou que uma moeda do Brics e o avanço de pagamentos fora do dólar atingiriam interesses centrais dos Estados Unidos, hoje beneficiados pelo papel do dólar como moeda de reserva e unidade de precificação de petróleo e outras commodities.

Ele citou a preocupação do ex-presidente Donald Trump com essa possibilidade.

Em janeiro, o republicano ameaçou tarifar em até 100% países do Brics que busquem alternativas ao dólar; desde então, a retórica protecionista se intensificou em meio a novos atritos comerciais com a China.

Na análise de Richter, uma perda de relevância do dólar poderia pressionar o custo de financiamento dos EUA, que se apoiam em larga emissão de títulos públicos.

Ele argumenta que uma parcela significativa da força da moeda americana decorre da confiança e da liquidez de seus mercados, fatores que poderiam ser parcialmente erodidos se grandes economias se alinhassem em um sistema concorrente de liquidação e reservas.

China e Índia no centro da equação

Apesar do interesse de países como Rússia, Irã e Brasil, a convergência entre China e Índia continua a ser o fator decisivo.

Os dois vizinhos convivem com disputas de fronteira e agendas estratégicas distintas, embora mantenham interdependência comercial relevante.

Sem um acordo de governança, pesos e contrapesos entre as duas potências, a proposta de moeda comum tende a permanecer no plano das declarações políticas e de estudos técnicos.

Além do cálculo geopolítico, há questões operacionais.

Uma moeda do Brics exigiria regras sobre emissão, lastro, política monetária, partilha de riscos e infraestrutura de pagamentos.

Modelos possíveis vão desde uma moeda escritural, usada apenas para compensação entre bancos centrais e bancos comerciais, até um arranjo mais profundo, inspirado em uniões monetárias, o que demandaria níveis de integração fiscal que hoje não existem no bloco.

Resistências internas no Brasil e prioridades do bloco

No Brasil, a ideia enfrenta resistência de parte do meio empresarial e de formuladores de política econômica.

Integrantes do Conselho Empresarial do BRICS+ dizem que o debate é antigo, mas raramente entra na agenda oficial como prioridade.

Segundo essa visão, o foco imediato está em integração comercial, uso de moedas locais nas transações e no fortalecimento do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), o banco do bloco, como fonte de financiamento multilateral.

Os críticos apontam riscos de contágio em crises, assimetria de poder entre os membros e volatilidade cambial.

Para eles, uma moeda comum só faria sentido com mecanismos robustos de estabilização e um regime claro de compartilhamento de perdas, algo considerado distante do atual estágio de cooperação.

“Pix do Brics”: pagamentos, não moeda

Enquanto a moeda comum permanece como horizonte, avançam discussões sobre um sistema digital de pagamentos, o chamado Brics Pay, que busca interoperabilidade entre plataformas nacionais — como o Pix, na versão brasileira, e sistemas equivalentes em outros países — e, em perspectiva, uma alternativa parcial ao Swift.

A proposta tem sido descrita como uma plataforma para facilitar liquidações transfronteiriças, e não como uma nova moeda.

Testes e protótipos vêm sendo tocados com liderança russa e participação de demais membros, mas ainda não há um cronograma público e definitivo de operação plena.

A leitura de empresários e técnicos é que esse caminho incremental tende a reduzir custos e dependência do dólar no comércio entre os países, sem exigir as concessões políticas de uma união monetária.

Mesmo assim, persistem barreiras técnicas, regulatórias e de compliance que demandarão harmonização entre bancos centrais e supervisores.

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Horasis em São Paulo e o debate estratégico

Richter esteve no Brasil para o décimo encontro global do Horasis, organização que fundou após deixar o FEM, realizado em São Paulo com a Universidade de São Paulo (USP) como coanfitriã.

O evento reuniu pesquisadores, executivos e autoridades de vários países para discutir cooperação internacional e tendências de longo prazo da economia.

Em painéis dedicados a finanças e geopolítica, a moeda do Brics e o desenho de um novo ecossistema de pagamentos voltaram ao centro das atenções, refletindo o interesse do empresariado em mitigar riscos cambiais e ampliar rotas de financiamento.

Segundo o fundador do Horasis, a reação norte-americana à reorganização dos fluxos financeiros será um elemento chave do tabuleiro.

“O dólar americano é a principal moeda, a moeda de reserva mundial. Os principais contratos de petróleo e outras commodities são firmados em dólar”, disse ele, ao reforçar que eventual criação de uma moeda do Brics mexeria em uma das âncoras do comércio global.

O que vem a seguir

No curto prazo, a agenda do Brics deve seguir concentrada em pagamentos, moedas locais e no NDB, com a moeda comum tratada de forma exploratória.

Em paralelo, a escalada de medidas tarifárias e controles de exportação entre grandes economias tende a acelerar iniciativas regionais de desdolarização parcial.

O ritmo, porém, continuará condicionado à capacidade de coordenação política do bloco e à busca de soluções técnicas que preservem a estabilidade financeira de países com realidades macroeconômicas muito diferentes.

Se o projeto de moeda comum avançar com um acordo entre China e Índia, como sustenta Richter, a janela de quatro a cinco anos para provocar abalos no papel do dólar colocaria governos, bancos e empresas diante de uma transição acelerada.

Nesse contexto, a pergunta que se impõe é: quais passos concretos os países do Brics estão dispostos a dar agora para transformar ambição em infraestrutura viável sem comprometer a segurança macroeconômica do bloco?

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Alisson Ficher

Jornalista formado desde 2017 e atuante na área desde 2015, com seis anos de experiência em revista impressa, passagens por canais de TV aberta e mais de 12 mil publicações online. Especialista em política, empregos, economia, cursos, entre outros temas. Registro profissional: 0087134/SP. Se você tiver alguma dúvida, quiser reportar um erro ou sugerir uma pauta sobre os temas tratados no site, entre em contato pelo e-mail: alisson.hficher@outlook.com. Não aceitamos currículos!

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