Comercialização incompleta e entraves logísticos revelam gargalo inédito às vésperas do plantio da safra 2025
A crise de crédito no agronegócio brasileiro chegou a um novo patamar crítico em setembro de 2025.
O impacto atinge diretamente a comercialização e entrega de fertilizantes.
Segundo Eduardo Monteiro, country manager da Mosaic e presidente da Anda (Associação Nacional para Difusão de Adubos), 10% dos fertilizantes esperados para a safra de soja ainda não foram vendidos.
O plantio da soja já começou em diversas regiões do país.
O principal entrave continua sendo o crédito não aprovado para milhares de agricultores.
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Muitos produtores tentam negociar diretamente com bancos e distribuidoras.
Grande parte dos produtores está tendo crédito negado.
Esse bloqueio trava o ciclo financeiro e prejudica os repasses no campo.
Rio Grande do Sul concentra os maiores atrasos
O cenário mais preocupante está no Rio Grande do Sul.
Lá, produtores ainda enfrentam reflexos das renegociações de safras passadas.
Problemas climáticos severos agravam esses atrasos.
Os produtores da região ainda não comercializaram entre 30% e 35% dos fertilizantes.
Esse percentual está completamente fora do padrão para o mês de setembro.
A estimativa inicial da Anda para 2025 era de 49 milhões de toneladas.
Contudo, com o atual ritmo de crédito e logística,
a projeção caiu para 47 a 48 milhões de toneladas.
O risco, segundo Monteiro, é o agricultor aplicar menos tecnologia por falta de insumos.
Isso pode reduzir a produtividade da lavoura.
Estoques nos portos e armazéns continuam travados
Apesar do setor industrial já ter se organizado para abastecer setembro,
A empresa ainda não liberou a carga acumulada de agosto e julho para o interior.
A Mosaic alerta que há risco de engarrafamento logístico.
Esse gargalo pode ocorrer devido à concentração de entregas em curto espaço de tempo.
Os fertilizantes importados continuam chegando aos portos brasileiros.
Contudo, os estoques seguem represados nos armazéns.
Eles aguardam a formalização de garantias e aprovação de crédito para financiamento.
A indústria, segundo Monteiro, já operava em sua capacidade máxima.
A rigidez dos bancos e distribuidores impede o fluxo normal de liberação dos produtos.
Safrinha de milho também pode sofrer impactos
O analista Jefferson Souza, da Agrinvest Commodities, destaca um novo problema. Além disso, ele revela que 55% das vendas de fertilizantes para a safrinha ainda não foram fechadas.
Esse número expõe um risco significativo. Por esse motivo, a aversão dos bancos ao risco rural está crescendo de forma preocupante.
Esse temor, aliás, foi acentuado por recuperações judiciais recentes no setor agrícola. Além disso, a crise nas revendas tem exercido pressão adicional sobre o crédito disponível.
Durante o congresso da Anda, realizado em São Paulo, em 2 de setembro de 2025, Jefferson Souza apresentou um alerta relevante sobre a restrição ao financiamento rural.
No evento, ele questionou se o represamento de crédito impediria as vendas. Ainda assim, ele acredita que o agricultor só desistirá da tecnologia se não houver crédito acessível.
Mesmo diante desses desafios, a expectativa de demanda segue positiva. Isso se deve, principalmente, à expansão contínua do etanol de milho no Brasil, que mantém o otimismo do setor.
Expectativa de demanda se mantém, mas decisão de compra é adiada
Monteiro afirma, com segurança, que não há sinais de retração na demanda total. No entanto, por outro lado, o produtor tem adiado decisões importantes de compra.
Isso ocorre porque há uma expectativa concreta de melhora nos preços do milho. Contudo, esses preços permanecem abaixo dos patamares registrados em 2024.
Diante disso, o cenário atual impacta diretamente o planejamento da próxima safra. Ainda assim, o atraso na liberação do crédito segue como o principal gargalo enfrentado.
Além disso, o problema atinge simultaneamente a soja e o milho. Enquanto isso, distribuidoras e tradings continuam postergando as entregas, aguardando formalizações que talvez não ocorram a tempo.
Com esse impasse, o risco de gargalos logísticos e baixa aplicação de tecnologia nas lavouras cresce rapidamente. Por consequência, os resultados da safra de 2025 podem ser comprometidos de forma significativa.