Descaso das empresas atinge SP, MG e RJ com mais intensidade; 1,6 milhão de empregadores deixaram de cumprir a obrigação trabalhista, afetando planos de casa própria e aposentadoria de milhões
Milhões de brasileiros com carteira assinada estão vivendo um verdadeiro pesadelo financeiro ao perceberem a ausência de depósitos no Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). O rombo já chega a R$ 10 bilhões em todo o país e afeta diretamente 9,5 milhões de trabalhadores. A informação foi divulgada em reportagem do Jornal Nacional, com base em dados oficiais do Ministério do Trabalho.
O problema não se restringe a pequenas localidades, mas está concentrado principalmente em São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, estados que lideram o ranking de empregados prejudicados pela falta de pagamento. Ao todo, 1,6 milhão de empresas no Brasil estão em atraso ou sequer realizam os depósitos obrigatórios do FGTS.
Esse cenário coloca em risco a segurança financeira de milhões de famílias que contam com o fundo como proteção em casos de demissão sem justa causa, doenças graves, aposentadoria ou até mesmo para realizar o sonho da casa própria.
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Histórias reais que revelam a gravidade da situação
O lanterneiro Ronaldo de Souza Dias, por exemplo, trabalhou mais de três anos em uma empresa e recebeu apenas três depósitos no FGTS. Ele só descobriu a irregularidade quando os salários começaram a atrasar. “Quando começaram a atrasar o salário, tive curiosidade de verificar as outras obrigações da empresa. Se a principal, que é pagar em dia, não estava sendo cumprida, imagine as demais. E percebi que nada estava em ordem”, relatou Ronaldo.
Casos como o dele não são exceção. O técnico em automação industrial João Vitor Silva Amorim, morador de Belo Horizonte, passou por situação semelhante ao ser demitido. Ao acessar o aplicativo do FGTS, constatou que o valor disponível era menor do que deveria. Esse detalhe aparentemente burocrático teve um impacto devastador: adiou o sonho da casa própria. “No momento da rescisão, a gente conta com esse dinheiro, faz planos, mas quando percebe que não pode utilizá-lo, todo o planejamento financeiro desmorona”, afirmou João Vitor.
Essas histórias mostram que a falta de depósitos não é apenas uma irregularidade administrativa. Trata-se de um problema social que atinge diretamente a estabilidade de milhões de brasileiros.
A posição da lei e as ações do Ministério do Trabalho
Segundo o advogado trabalhista Gabriel Brum de Moraes, a ausência de depósitos do FGTS configura uma “falta gravíssima” por parte das empresas, podendo gerar até a rescisão indireta do contrato de trabalho. Nesses casos, o empregado pode sair da empresa com todos os direitos garantidos, como se fosse uma demissão sem justa causa.
O Ministério do Trabalho afirma estar atuando no processo de cobrança. De acordo com Marcelo Nargele, coordenador-geral de Gestão e Fiscalização do FGTS, inicialmente é feita uma tentativa de negociação amigável. Se a empresa não responde, pode ser fiscalizada, autuada e multada. No entanto, até que essas medidas sejam concluídas, os trabalhadores continuam acumulando prejuízos e incertezas sobre o futuro.
O que está em jogo para os trabalhadores brasileiros
O FGTS é um dos principais mecanismos de proteção social no Brasil, criado para garantir segurança em momentos críticos da vida profissional. No entanto, com um déficit de R$ 10 bilhões, a credibilidade do sistema fica comprometida. Especialistas alertam que, se o cenário persistir, milhões de brasileiros podem ter sua aposentadoria prejudicada ou enfrentar dificuldades ainda maiores na hora de adquirir a casa própria.
Além disso, a ausência dos depósitos também impacta a economia nacional. Como o FGTS é usado em programas de habitação, infraestrutura e saneamento, o rombo bilionário compromete investimentos que beneficiariam toda a sociedade.
Diante dessa realidade, fica claro que a fiscalização precisa ser intensificada e que os trabalhadores devem estar cada vez mais atentos, monitorando suas contas regularmente pelo aplicativo oficial da Caixa. Essa prática pode evitar surpresas desagradáveis em momentos decisivos da vida.
A necessidade de mais responsabilidade e fiscalização
A falta de depósitos do FGTS é mais do que um problema contábil — é uma questão de justiça social que ameaça milhões de famílias brasileiras. As histórias de Ronaldo e João Vitor são apenas a ponta de um iceberg que afeta 42 milhões de cidadãos com direito ao fundo.
Enquanto o governo busca meios de intensificar a cobrança e punir empresas inadimplentes, cabe ao trabalhador acompanhar de perto sua conta e denunciar irregularidades. Afinal, o FGTS não é apenas um direito trabalhista: é a garantia de um futuro mais seguro, planejado e digno para quem dedica anos de sua vida ao trabalho.