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Metade do oxigênio da Terra em risco: cientistas revelam redução drástica do fitoplâncton e apontam aquecimento global como principal vilão

Escrito por Felipe Alves da Silva
Publicado em 11/11/2025 às 11:35
Fitoplâncton microscópico é essencial para metade do oxigênio produzido no planeta e pode estar diminuindo com o aquecimento global.
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Um estudo internacional publicado na Science Advances revela que o fitoplâncton, responsável por cerca de 50% do oxigênio do planeta, está diminuindo 1,78% ao ano nas águas costeiras — um sinal de que o aquecimento global pode estar sufocando a base da vida marinha

Um novo estudo publicado na revista Science Advances acendeu um alerta global: a população de fitoplâncton — os microrganismos responsáveis por produzir metade do oxigênio da Terra — pode estar em declínio contínuo. Esses seres microscópicos, que flutuam livremente nos oceanos, são o alicerce da cadeia alimentar marinha e fundamentais para a estabilidade climática do planeta.

De acordo com pesquisadores das Universidades de Tsinghua (China), Bangor (Reino Unido) e Pensilvânia (EUA), análises de imagens de satélite e dados coletados por bóias flutuantes entre 2001 e 2023 indicam que a concentração de clorofila A, pigmento responsável pela fotossíntese, diminuiu cerca de 1,78% por ano em águas costeiras. Essa tendência sugere uma redução preocupante na abundância de fitoplâncton — um fenômeno com impactos potenciais sobre todo o ecossistema oceânico e sobre a própria respiração humana.

Créditos: Imagem ilustrativa criada por IA – uso editorial.

Os cientistas utilizaram algoritmos de deep learning para corrigir falhas e preencher lacunas em regiões com cobertura de nuvens, ampliando a precisão do levantamento. Ainda assim, a comunidade científica segue dividida quanto à interpretação dos resultados.

Aquecimento global e a escassez de nutrientes

Segundo os pesquisadores, o aquecimento global é o principal fator por trás do fenômeno. Isso ocorre porque o aumento da temperatura dos oceanos intensifica a estratificação das águas — separando as camadas quentes e superficiais das camadas frias e profundas. Em condições normais, a movimentação vertical da água — conhecida como upwelling ou afloramento — traz nutrientes das profundezas para a superfície, sustentando a vida microscópica que realiza fotossíntese.

No entanto, com a elevação das temperaturas, essa troca se torna mais difícil. As águas superficiais ficam mais quentes e menos densas, impedindo a mistura com as camadas frias e ricas em nutrientes. O resultado é uma escassez nutricional severa, que compromete diretamente o desenvolvimento do fitoplâncton e, por consequência, afeta toda a cadeia alimentar marinha, do zooplâncton aos grandes predadores.

A informação foi divulgada por revistagalileu, com base no artigo original da Science Advances, e reforça o alerta de que as mudanças climáticas estão alterando processos vitais para a manutenção da vida no planeta.

O papel do fitoplâncton na produção de oxigênio

Os oceanos cobrem 71% da superfície da Terra e são responsáveis por cerca de metade da produção de oxigênio atmosférico. O fitoplâncton, através da fotossíntese, converte CO₂ em oxigênio, funcionando como os “pulmões invisíveis” do planeta. Além disso, ele alimenta o zooplâncton, que serve de comida para pequenos peixes e, posteriormente, para predadores maiores — sustentando a base da vida marinha.

O professor Frederico Brandini, do Instituto Oceanográfico da USP, destaca que o fitoplâncton cumpre, sozinho, o papel que uma floresta inteira desempenha em terra firme. “No ambiente marinho, uma única célula faz tudo o que uma árvore inteira faz”, explica. “Essas microalgas formam um gramado tridimensional planetário que, há 3,5 bilhões de anos, começou a liberar oxigênio livre na atmosfera terrestre.”

Segundo o estudo, 40% das regiões costeiras analisadas apresentaram declínio de fitoplâncton, enquanto apenas 12,5% mostraram aumento — concentradas, sobretudo, no norte da costa brasileira, onde a poluição e a atividade humana podem estar enriquecendo a água com nutrientes. Essa diferença acentuada demonstra que os efeitos do aquecimento global não são uniformes e dependem das características locais de cada ecossistema.

O que o novo estudo ignora — e as críticas da comunidade científica

Apesar da relevância dos resultados, especialistas alertam que a redução da clorofila A pode não refletir, de fato, uma queda proporcional na biomassa de fitoplâncton. O professor Frederico Brandini, da USP, afirma que a clorofila é apenas um indicador de abundância, mas não equivale à massa total de carbono — que é o parâmetro mais importante para medir o volume real de organismos vivos.

“Existe uma razão carbono-clorofila que varia de 20 a 200”, explica Brandini. “Um miligrama de clorofila pode representar entre 20 e 200 miligramas de carbono. E é o carbono que realmente importa. A redução de 1,78% pode parecer grande, mas na prática equivale a 0,00035 miligrama de clorofila por metro cúbico em um oceano que cobre 361 milhões de km². É uma diferença mínima.”

Além disso, ele destaca um fator frequentemente negligenciado: o papel do zooplâncton. O aumento da temperatura das águas eleva o metabolismo desses organismos, que se alimentam mais ativamente do fitoplâncton. Assim, parte da queda observada na clorofila pode ser consequência de herbivoria natural, e não necessariamente do colapso da fotossíntese oceânica.

Brandini enfatiza que, se a diminuição estiver relacionada à alimentação do zooplâncton, o ciclo do carbono ainda se mantém — o CO₂ continua sendo absorvido, apenas transferido para outro elo da cadeia. “Nesse caso, não há uma perda real para o clima, e até pode haver crescimento na população de peixes, o que favoreceria a pesca”, observa.

Um alerta que vai além dos números

Apesar das divergências, o estudo reforça uma tendência preocupante: o oceano está mudando de forma acelerada. A estratificação das águas, mencionada no artigo, tem se intensificado nas últimas décadas, criando uma barreira física que limita a reciclagem de nutrientes essenciais. Segundo o texto da Science Advances, esse processo “provavelmente está enfraquecendo o transporte vertical de nutrientes, limitando o crescimento do fitoplâncton na camada superior do oceano”.

Essas mudanças não afetam apenas os microrganismos, mas toda a teia alimentar. Menos fitoplâncton significa menos alimento para o zooplâncton, o que impacta peixes, aves e mamíferos marinhos. Por consequência, a produtividade pesqueira e o equilíbrio ecológico das zonas costeiras podem ser comprometidos — algo que já vem sendo observado em partes do Pacífico e do Atlântico tropical.

De acordo com Brandini, no entanto, a queda da biomassa fitoplanctônica não é o problema ambiental mais urgente. Ele lembra que a poluição dos mares, o descarte de metais pesados, a sobrepesca e a destruição dos manguezais representam ameaças mais diretas e imediatas à sobrevivência humana. “Antes de ser afetado pela queda do fitoplâncton, o homem vai sofrer com esses fatores”, alerta o oceanógrafo.

Divergências e o papel da ciência no futuro dos oceanos

O estudo da Science Advances não é o primeiro a abordar o tema. Pesquisas anteriores, como uma publicada na Nature em 2023, indicaram justamente o contrário: um possível aumento da população de fitoplâncton em algumas regiões. Essa discrepância, segundo Michael Mann, diretor do Centro Penn para Ciência, Sustentabilidade e Mídia da Universidade da Pensilvânia e coautor do novo estudo, se deve à metodologia. Ele argumenta que trabalhos anteriores se basearam apenas em imagens de satélite, sem levar em conta dados diretos de sensores oceânicos.

“Estamos confiantes de que nosso resultado é o mais preciso”, declarou Mann ao site Inside Climate News. “Os aumentos de estratificação dos oceanos, documentados nas últimas décadas, já sugeriam que algo estava limitando a fotossíntese marinha. Nossos dados apenas confirmam essa tendência.”

Ainda que o debate continue aberto, o consenso é que o oceano está em transformação profunda. O fitoplâncton, invisível a olho nu, é um termômetro biológico dessas mudanças. Se ele sofre, todo o planeta sente — da regulação do clima à respiração de cada ser vivo. Entender e proteger essa camada microscópica de vida pode ser decisivo para o futuro da Terra.

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Felipe Alves da Silva

Sou Felipe Alves, com experiência na produção de conteúdo sobre segurança nacional, geopolítica, tecnologia e temas estratégicos que impactam diretamente o cenário contemporâneo. Ao longo da minha trajetória, busco oferecer análises claras, confiáveis e atualizadas, voltadas a especialistas, entusiastas e profissionais da área de segurança e geopolítica. Meu compromisso é contribuir para uma compreensão acessível e qualificada dos desafios e transformações no campo estratégico global. Sugestões de pauta, dúvidas ou contato institucional: fa06279@gmail.com

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