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Apesar de assinar dezenas de acordos de cooperação tecnológica, o Brasil só consegue transformar cerca de 4% das exportações manufatureiras em alta tecnologia, segundo Banco Mundial

Escrito por Valdemar Medeiros
Publicado em 15/09/2025 às 13:33
Apesar de assinar dezenas de acordos de cooperação tecnológica, o Brasil só consegue transformar cerca de 4% das exportações manufatureiras em alta tecnologia, segundo Banco Mundial
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Brasil assina dezenas de acordos de cooperação tecnológica, mas apenas 4% das exportações manufatureiras são de alta tecnologia, segundo Banco Mundial.

O Brasil mantém acordos de cooperação tecnológica com dezenas de países e instituições, numa rede que deveria servir de alavanca para a inovação e para a inserção em cadeias globais de valor. São tratados que envolvem áreas estratégicas como biotecnologia, semicondutores, energia renovável e inteligência artificial. Porém, os números revelados pelo Banco Mundial escancaram um paradoxo preocupante: em 2023, apenas 4,17% das exportações manufatureiras brasileiras puderam ser classificadas como de alta tecnologia.

O dado mostra uma lacuna entre discurso e prática e reforça a dificuldade histórica do Brasil em transformar ciência em riqueza.

O peso tímido da alta tecnologia nas exportações brasileiras

Segundo a série “High-technology exports (% of manufactured exports)” do Banco Mundial, o Brasil tem desempenho muito abaixo de outras economias emergentes.

Enquanto países como Coreia do Sul e China conseguem superar a marca de 25% a 30% de suas exportações de manufaturados em alta tecnologia, o Brasil patina na casa dos 4%.

Isso significa que, mesmo com avanços científicos em áreas como agricultura tropical, saúde e energia limpa, a capacidade de transformar conhecimento em produtos sofisticados para o mercado externo continua limitada.

A pauta exportadora brasileira segue dominada por commodities agrícolas e minerais, além de produtos industriais de baixo valor agregado.

A contradição dos acordos internacionais

O Itamaraty lista mais de 40 acordos bilaterais de cooperação em ciência, tecnologia e inovação firmados pelo Brasil com países da Europa, Ásia e Américas.

Esses tratados incluem intercâmbio de pesquisadores, projetos conjuntos de pesquisa e programas de capacitação. No papel, o país tem a base para ampliar sua inserção tecnológica no comércio global.

Mas, na prática, os resultados são modestos. Grande parte dos acordos fica restrita a trocas acadêmicas ou iniciativas pontuais, sem desdobramentos em escala industrial. O elo perdido entre ciência e mercado continua sendo um dos maiores desafios do sistema de inovação brasileiro.

Por que o Brasil não consegue decolar em exportações de alta tecnologia?

Especialistas apontam pelo menos quatro fatores que explicam a dificuldade brasileira:

Baixo investimento em P&D – O Brasil investe cerca de 1,2% do PIB em pesquisa e desenvolvimento, bem abaixo da média da OCDE (2,7%) e distante de líderes como Coreia do Sul (4,9%).

Falta de integração universidade-empresa – Grande parte da produção científica fica nas universidades e não chega ao setor produtivo.

Estrutura industrial defasada – A desindustrialização precoce reduziu a base de empresas capazes de competir globalmente em segmentos de ponta.

Ambiente regulatório e tributário hostil – A complexidade tributária e a burocracia dificultam a atração de investimentos em inovação.

Esses gargalos ajudam a explicar por que o Brasil segue exportando conhecimento científico de qualidade (em artigos e pesquisas), mas não consegue converter esse capital em produtos de alta tecnologia no mercado global.

Comparações que escancaram o atraso

Enquanto o Brasil permanece na casa dos 4%, países como:

  • China: 27% das exportações de manufaturados em 2023 eram de alta tecnologia.
  • Coreia do Sul: 30% no mesmo período.
  • México: cerca de 17%, puxado pelo setor automotivo e de eletrônicos.

A comparação mostra que o problema não é uma fatalidade de países emergentes, mas sim reflexo de escolhas estratégicas.

O México, por exemplo, aproveitou a proximidade com os EUA e os acordos do NAFTA/USMCA para se inserir em cadeias globais de alta tecnologia. O Brasil, por outro lado, manteve foco em commodities.

Consequências econômicas

A baixa participação de alta tecnologia nas exportações tem efeitos diretos:

  • Vulnerabilidade externa – O país depende do preço internacional de soja, minério e petróleo para equilibrar suas contas externas.
  • Baixa competitividade – Produtos com pouca sofisticação enfrentam concorrência feroz no mercado global e margens menores.
  • Desemprego qualificado – A falta de indústrias de ponta limita a absorção de mão de obra altamente qualificada.
  • Perda de protagonismo – Em um mundo guiado por transição digital e energética, o Brasil corre risco de se consolidar como mero fornecedor de insumos básicos.

Caminhos para mudar o cenário

Para especialistas, reverter esse quadro exige uma política consistente de inovação. Entre as medidas defendidas estão:

  • Ampliar investimentos em P&D – aproximando-se da média dos países desenvolvidos.
  • Fortalecer a integração universidade-empresa – com incentivos para transformar pesquisa em produto.
  • Estímulo à indústria de semicondutores, biotecnologia e energia limpa – setores estratégicos para o século XXI.
  • Inserção em cadeias globais de valor – buscando acordos comerciais que facilitem a participação do Brasil em segmentos tecnológicos.

Sem essas mudanças, o país continuará preso ao papel de exportador de commodities, desperdiçando o potencial científico acumulado ao longo de décadas.

O Brasil tem capital humano, conhecimento científico e recursos naturais para ser uma potência em inovação. Mas a realidade mostra que, enquanto outros emergentes avançam em alta tecnologia, o país mantém uma pauta exportadora concentrada em produtos básicos.

Um país que assina dezenas de acordos de cooperação tecnológica, mas só converte 4% das exportações manufatureiras em alta tecnologia, segundo Banco Mundial.

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Valdemar Medeiros

Formado em Jornalismo e Marketing, é autor de mais de 20 mil artigos que já alcançaram milhões de leitores no Brasil e no exterior. Já escreveu para marcas e veículos como 99, Natura, O Boticário, CPG – Click Petróleo e Gás, Agência Raccon e outros. Especialista em Indústria Automotiva, Tecnologia, Carreiras (empregabilidade e cursos), Economia e outros temas. Contato e sugestões de pauta: valdemarmedeiros4@gmail.com. Não aceitamos currículos!

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