Brasil assina dezenas de acordos de cooperação tecnológica, mas apenas 4% das exportações manufatureiras são de alta tecnologia, segundo Banco Mundial.
O Brasil mantém acordos de cooperação tecnológica com dezenas de países e instituições, numa rede que deveria servir de alavanca para a inovação e para a inserção em cadeias globais de valor. São tratados que envolvem áreas estratégicas como biotecnologia, semicondutores, energia renovável e inteligência artificial. Porém, os números revelados pelo Banco Mundial escancaram um paradoxo preocupante: em 2023, apenas 4,17% das exportações manufatureiras brasileiras puderam ser classificadas como de alta tecnologia.
O dado mostra uma lacuna entre discurso e prática e reforça a dificuldade histórica do Brasil em transformar ciência em riqueza.
O peso tímido da alta tecnologia nas exportações brasileiras
Segundo a série “High-technology exports (% of manufactured exports)” do Banco Mundial, o Brasil tem desempenho muito abaixo de outras economias emergentes.
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Enquanto países como Coreia do Sul e China conseguem superar a marca de 25% a 30% de suas exportações de manufaturados em alta tecnologia, o Brasil patina na casa dos 4%.
Isso significa que, mesmo com avanços científicos em áreas como agricultura tropical, saúde e energia limpa, a capacidade de transformar conhecimento em produtos sofisticados para o mercado externo continua limitada.
A pauta exportadora brasileira segue dominada por commodities agrícolas e minerais, além de produtos industriais de baixo valor agregado.
A contradição dos acordos internacionais
O Itamaraty lista mais de 40 acordos bilaterais de cooperação em ciência, tecnologia e inovação firmados pelo Brasil com países da Europa, Ásia e Américas.
Esses tratados incluem intercâmbio de pesquisadores, projetos conjuntos de pesquisa e programas de capacitação. No papel, o país tem a base para ampliar sua inserção tecnológica no comércio global.
Mas, na prática, os resultados são modestos. Grande parte dos acordos fica restrita a trocas acadêmicas ou iniciativas pontuais, sem desdobramentos em escala industrial. O elo perdido entre ciência e mercado continua sendo um dos maiores desafios do sistema de inovação brasileiro.
Por que o Brasil não consegue decolar em exportações de alta tecnologia?
Especialistas apontam pelo menos quatro fatores que explicam a dificuldade brasileira:
Baixo investimento em P&D – O Brasil investe cerca de 1,2% do PIB em pesquisa e desenvolvimento, bem abaixo da média da OCDE (2,7%) e distante de líderes como Coreia do Sul (4,9%).
Falta de integração universidade-empresa – Grande parte da produção científica fica nas universidades e não chega ao setor produtivo.
Estrutura industrial defasada – A desindustrialização precoce reduziu a base de empresas capazes de competir globalmente em segmentos de ponta.
Ambiente regulatório e tributário hostil – A complexidade tributária e a burocracia dificultam a atração de investimentos em inovação.
Esses gargalos ajudam a explicar por que o Brasil segue exportando conhecimento científico de qualidade (em artigos e pesquisas), mas não consegue converter esse capital em produtos de alta tecnologia no mercado global.
Comparações que escancaram o atraso
Enquanto o Brasil permanece na casa dos 4%, países como:
- China: 27% das exportações de manufaturados em 2023 eram de alta tecnologia.
- Coreia do Sul: 30% no mesmo período.
- México: cerca de 17%, puxado pelo setor automotivo e de eletrônicos.
A comparação mostra que o problema não é uma fatalidade de países emergentes, mas sim reflexo de escolhas estratégicas.
O México, por exemplo, aproveitou a proximidade com os EUA e os acordos do NAFTA/USMCA para se inserir em cadeias globais de alta tecnologia. O Brasil, por outro lado, manteve foco em commodities.
Consequências econômicas
A baixa participação de alta tecnologia nas exportações tem efeitos diretos:
- Vulnerabilidade externa – O país depende do preço internacional de soja, minério e petróleo para equilibrar suas contas externas.
- Baixa competitividade – Produtos com pouca sofisticação enfrentam concorrência feroz no mercado global e margens menores.
- Desemprego qualificado – A falta de indústrias de ponta limita a absorção de mão de obra altamente qualificada.
- Perda de protagonismo – Em um mundo guiado por transição digital e energética, o Brasil corre risco de se consolidar como mero fornecedor de insumos básicos.
Caminhos para mudar o cenário
Para especialistas, reverter esse quadro exige uma política consistente de inovação. Entre as medidas defendidas estão:
- Ampliar investimentos em P&D – aproximando-se da média dos países desenvolvidos.
- Fortalecer a integração universidade-empresa – com incentivos para transformar pesquisa em produto.
- Estímulo à indústria de semicondutores, biotecnologia e energia limpa – setores estratégicos para o século XXI.
- Inserção em cadeias globais de valor – buscando acordos comerciais que facilitem a participação do Brasil em segmentos tecnológicos.
Sem essas mudanças, o país continuará preso ao papel de exportador de commodities, desperdiçando o potencial científico acumulado ao longo de décadas.
O Brasil tem capital humano, conhecimento científico e recursos naturais para ser uma potência em inovação. Mas a realidade mostra que, enquanto outros emergentes avançam em alta tecnologia, o país mantém uma pauta exportadora concentrada em produtos básicos.
Um país que assina dezenas de acordos de cooperação tecnológica, mas só converte 4% das exportações manufatureiras em alta tecnologia, segundo Banco Mundial.