Descubra como o mercado de biometano gaúcho cresce com novos investimentos e fortalece a transição energética no Rio Grande do Sul.
O mercado de biometano gaúcho vem ganhando destaque nos últimos anos como uma das alternativas mais promissoras dentro da transição energética no Brasil. Esse combustível renovável, produzido a partir de resíduos orgânicos e urbanos, consolida-se como peça-chave na busca por uma matriz energética mais limpa, diversificada e sustentável.
No Rio Grande do Sul, a combinação de infraestrutura, tradição agropecuária e investimentos privados cria um ambiente fértil para que o biometano ocupe cada vez mais espaço. Isso acontece tanto no abastecimento de veículos quanto no consumo residencial e industrial.
A trajetória do biometano no Brasil acompanha o avanço das discussões globais sobre mudanças climáticas e a necessidade de reduzir a dependência de combustíveis fósseis. Desde os anos 2000, intensificaram-se os debates sobre energias renováveis e, nesse cenário, o gás obtido da decomposição de resíduos orgânicos ganhou força porque oferece duplo benefício: reduzir impactos ambientais e gerar energia de qualidade.
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No Rio Grande do Sul, esse processo avançou mais rápido graças ao parque agropecuário robusto, à população engajada em soluções sustentáveis e às políticas públicas que incentivam a economia circular.
O papel dos eventos e do setor público
A cadeia do biometano envolve várias etapas, desde a coleta de resíduos até a distribuição final do gás. No Estado, o setor público e empresas privadas unem esforços para transformar a ideia em realidade.
Um exemplo desse movimento ocorreu no painel Diálogos Energia e Futuro, realizado durante a Expointer, tradicional feira gaúcha que sempre funciona como vitrine para novidades do setor energético e agroindustrial.
Nesse encontro, especialistas, empresários e representantes do governo discutiram como estruturar um mercado capaz de atender à demanda interna e abrir novas oportunidades comerciais para os próximos anos.
O mercado de biometano gaúcho vai além de pequenas iniciativas, pois já recebe aportes financeiros significativos e mantém projetos de grande porte em andamento.
A Companhia Riograndense de Valorização de Resíduos (CRVR), por exemplo, lidera parte dessa transformação.
Em Minas do Leão, a empresa investiu cerca de R$ 150 milhões para transformar resíduos de aterros sanitários em gás renovável. A unidade alcança a produção de 40 mil metros cúbicos de biometano por dia e prevê expansão em 2028.
Assim, o projeto mostra como tecnologia e gestão de resíduos podem caminhar juntas para criar energia limpa, reduzir a poluição e gerar desenvolvimento regional.
Além disso, outras cidades também entram nessa rota de inovação. Em São Leopoldo, na região metropolitana, uma planta deve iniciar a produção em 2026 com capacidade de 34 mil metros cúbicos por dia.
Logo depois, novas unidades surgirão em Santa Maria, Vitor Graeff e Giruá. Com esses investimentos, a CRVR pretende atingir até 2030 a marca de 250 mil metros cúbicos diários, o que representaria aproximadamente 10% do consumo atual de gás natural do Estado.
Esse dado evidencia o potencial do biometano para reduzir a dependência do gás de origem fóssil e, ao mesmo tempo, fortalecer a segurança energética regional.
Transporte e economia circular
O setor de transportes também se beneficia desse avanço. A Reiter Log, uma das maiores empresas de logística do país, apresentou sua estratégia de neutralização de carbono com caminhões movidos a gás.
Hoje, sua frota conta com 2.400 veículos, quase 300 preparados para rodar com biometano.
Além disso, a companhia deu um passo adiante ao formar uma joint venture em Capão do Leão para construir uma usina própria.
A unidade, que receberá investimento de R$ 120 milhões, deve iniciar operações em 2027, utilizando resíduos agropecuários como matéria-prima. Dessa forma, o modelo garante combustível limpo para a frota e exemplifica a aplicação da economia circular no setor logístico.
Outro movimento importante vem da Ultragaz, tradicional fornecedora de GLP, que agora aposta no biometano como parte de sua estratégia de diversificação.
A empresa planeja investir R$ 150 milhões no Rio Grande do Sul, focando na distribuição rodoviária do gás para alcançar regiões afastadas da malha de gasodutos.
Essa aposta demonstra como a flexibilidade logística pode ampliar o acesso ao combustível renovável, permitindo que consumidores residenciais, industriais e comerciais adotem a nova fonte de energia.
Além disso, o caráter inovador do mercado de biometano gaúcho aparece no trabalho da Bioo, empresa jovem que expande suas operações rapidamente.
Com uma unidade em Triunfo já em funcionamento e contratos de fornecimento de longo prazo, a companhia licencia uma planta em Passo Fundo.
A meta é fortalecer o fornecimento em áreas não atendidas por gasodutos e agregar valor à produção ao incluir biofertilizantes na cadeia. Esse duplo aproveitamento mostra como o setor se alinha às tendências globais de sustentabilidade e uso integral dos recursos.
A tradição gaúcha em energia e inovação
O contexto histórico reforça a relevância desse crescimento. O Rio Grande do Sul tem tradição em inovações energéticas.
Desde a construção das primeiras hidrelétricas no início do século XX até a expansão da energia eólica nas últimas décadas, o Estado se coloca na vanguarda das transformações.
Agora, com o biometano, consolida-se como polo estratégico para o Brasil no avanço das energias renováveis.
Essa trajetória resulta não apenas de políticas públicas, mas também da presença de universidades, centros de pesquisa e empreendedores dispostos a apostar em novas tecnologias.
Outro aspecto cultural merece destaque: a sociedade gaúcha valoriza práticas ligadas ao campo e ao aproveitamento de recursos.
O uso de resíduos agropecuários para gerar energia dialoga diretamente com a tradição rural da região, transformando desafios ambientais em soluções econômicas.
Essa conexão entre identidade regional e inovação tecnológica fortalece a adesão da população e, consequentemente, impulsiona novos negócios.
Ainda assim, o impacto social também merece atenção. A expansão do biometano cria oportunidades de emprego em diferentes áreas, desde a coleta e tratamento de resíduos até a operação de plantas industriais e a logística.
Como resultado, municípios do interior, muitas vezes distantes dos grandes centros, encontram novas alternativas de desenvolvimento econômico.
Esse movimento ajuda a conter o êxodo rural e fortalecer as economias locais.
Ele também estimula cadeias produtivas associadas, como a de fertilizantes orgânicos.
Sustentabilidade e perspectivas de futuro
Os investimentos no mercado de biometano gaúcho impactam diretamente na redução de emissões de gases de efeito estufa.
O aproveitamento de resíduos para geração de energia impede que o metano seja liberado na atmosfera em sua forma bruta. Dessa forma, reduz significativamente os impactos ambientais.
Ao mesmo tempo, substitui combustíveis fósseis no transporte e na indústria, criando uma combinação poderosa no combate às mudanças climáticas.
Assim, o biometano se mantém em sintonia com as metas globais de descarbonização e com os compromissos assumidos pelo Brasil em acordos internacionais.
Portanto, o futuro do setor se mostra promissor. Se os projetos em andamento alcançarem suas metas, o Rio Grande do Sul poderá se tornar referência nacional na produção e distribuição de biometano.
A expectativa é que, até o fim desta década, a oferta seja suficiente para transformar a matriz energética do Estado, estimular novos empregos, fortalecer cadeias produtivas e atrair ainda mais investimentos.
Essa expansão não se limita ao território gaúcho. Ela abre portas para exportações de tecnologia e conhecimento para outras regiões do Brasil e até para o exterior.
Em síntese, o mercado de biometano gaúcho se apresenta como uma força em ascensão dentro da transição energética brasileira.
Ele combina história, tradição, inovação e visão de futuro, colocando o Rio Grande do Sul como protagonista em um cenário em que sustentabilidade e desenvolvimento caminham lado a lado.
Dessa maneira, o avanço do biometano mostra que soluções locais podem gerar impactos globais, reforçando a importância de investir em alternativas que unem crescimento econômico, responsabilidade ambiental e benefícios sociais duradouros.