Porto promete revolucionar o comércio entre Brasil e China, encurtando a rota em 10 dias. No entanto, desafios logísticos, incluindo travessias pela Amazônia e Andes, dificultam sua utilização plena. O projeto destaca as ambições da China e o potencial da América do Sul no comércio global.
Enquanto os holofotes internacionais se voltam para a crescente rivalidade comercial entre China e Estados Unidos, um megaporto recém-inaugurado na América do Sul emerge como uma possível solução para encurtar em 10 dias a rota de comércio entre Brasil e China.
Apesar do potencial revolucionário, a infraestrutura precária e barreiras geográficas desafiam sua plena utilização, deixando em aberto o futuro dessa ambiciosa empreitada.
Porto de Chancay: um marco estratégico
O porto de Chancay, situado a cerca de 70 quilômetros ao norte de Lima, no Peru, foi oficialmente inaugurado em uma cerimônia que reuniu a presidente peruana Dina Boluarte e o líder chinês Xi Jinping.
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O local é administrado pela gigante chinesa Cosco Shipping e simboliza as ambições de Pequim em fortalecer o comércio com a América do Sul.
Com uma promessa de reduzir significativamente o tempo de transporte entre os dois maiores parceiros comerciais do Brasil, o porto reflete os esforços da China em diversificar sua cadeia de suprimentos diante de possíveis restrições comerciais vindas do governo norte-americano.
No entanto, as dificuldades de transporte entre as regiões agrícolas do Brasil e o litoral pacífico peruano evidenciam a complexidade de transformar essa promessa em realidade.
Obstáculos geográficos e logísticos
A travessia da densa floresta amazônica e das imponentes montanhas dos Andes surge como um dos maiores desafios para viabilizar a utilização plena do porto.
Atualmente, não há ferrovias conectando as regiões agrícolas brasileiras ao litoral peruano, e as poucas rodovias existentes são insuficientes para o tráfego de caminhões de grande porte.
Conforme explicou Edeon Vaz, diretor do Movimento Pro-Logística, os altos custos de transporte associados às limitações das estradas tornam o uso do porto economicamente inviável para muitos produtores agrícolas.
“É um custo extremamente elevado, especialmente para soja e milho, que precisam ser transportados por caminhões menores devido às restrições das rodovias andinas”, destacou.
Integração regional: um sonho distante?
Apesar das dificuldades, especialistas enxergam o porto de Chancay como uma oportunidade para reacender o sonho de integração das costas atlântica e pacífica da América do Sul.
Segundo Marco Germanò, pesquisador da Universidade de Nova York, o projeto reflete um antigo desejo de interconexão continental, mas ainda carece de um plano estratégico para superar os obstáculos existentes.
Mesmo internamente, o Peru enfrenta desafios de conexão.
Conforme apontado por Rafael Zacnich, da ComexPerú, nem mesmo as ligações do porto com regiões produtoras locais, como as de café e cacau, são eficientes. Apesar disso, há esperanças de que o projeto atraia novos investimentos na infraestrutura de transporte.
Benefícios econômicos e dilemas ambientais
Além de aumentar a competitividade sul-americana no mercado global, o porto de Chancay pode impulsionar a economia de pequenos estados brasileiros, como o Acre, cuja produção de soja e carne suína tem registrado crescimento.
Segundo Assuero Doca Veronez, da Federação de Agricultura e Pecuária do Acre, o transporte via Peru poderia beneficiar a região, desde que houvesse avanços na infraestrutura logística.
Contudo, a construção de uma nova rodovia entre Cruzeiro do Sul (AC) e Pucallpa, no Peru, enfrenta resistência.
Em 2023, o projeto foi paralisado por preocupações ambientais e pelo impacto sobre comunidades indígenas.
O governo de Luiz Inácio Lula da Silva expressou interesse em melhorar as estradas próximas à fronteira, mas uma rota controversa no Acre não está nos planos imediatos.
China, Brasil e o cenário global
A inauguração do porto de Chancay ocorre em um momento estratégico.
Com o Brasil consolidado como o maior fornecedor de soja da China, o país asiático busca diversificar rotas e minimizar impactos de uma possível guerra comercial com os EUA.
Conforme Wagner Cardoso, da Confederação Nacional da Indústria (CNI), a integração sul-americana exige mais do que infraestrutura portuária.
“Precisamos de acordos bilaterais que facilitem o trânsito de mercadorias entre as fronteiras e tornem viável o uso desse porto”, afirmou.
Futuro promissor, mas incerto
Embora o porto de Chancay represente um passo importante para o comércio sul-americano, sua plena eficácia depende de uma série de fatores: investimentos em transporte, cooperação internacional e superação de barreiras geográficas e ambientais.
Enquanto isso, o Brasil e seus vizinhos encaram o desafio de transformar potencial em realidade.
E você, acredita que o porto de Chancay será capaz de revolucionar o comércio entre Brasil e China? Ou os desafios logísticos ainda vão travar o progresso?