1. Início
  2. / Economia
  3. / Marca histórica de bebida brasileira fecha as portas após acumular quase R$ 50 milhões em dívidas e possuir apenas R$ 11 milhões em patrimônio
Tempo de leitura 4 min de leitura Comentários 0 comentários

Marca histórica de bebida brasileira fecha as portas após acumular quase R$ 50 milhões em dívidas e possuir apenas R$ 11 milhões em patrimônio

Escrito por Noel Budeguer
Publicado em 06/11/2025 às 13:50
Seja o primeiro a reagir!
Reagir ao artigo

A histórica ervateira gaúcha Vier, símbolo do chimarrão brasileiro, entrou em falência com uma dívida de quase R$ 50 milhões e apenas R$ 11 milhões em patrimônio, revelando uma crise profunda na indústria regional

Por mais de oito décadas, a Ervateira Vier foi sinônimo de tradição no Rio Grande do Sul. Fundada em 1944, a empresa construiu uma reputação sólida entre os consumidores de chimarrão, espalhando o nome da erva-mate gaúcha pelo país.

Mas por trás dessa imagem histórica, a companhia acumulava um rombo financeiro difícil de compreender: quando pediu falência, o passivo chegava a quase R$ 50 milhões, enquanto seus ativos não passavam de R$ 11,8 milhões.

A decisão judicial que decretou a falência foi o ponto final de uma crise que se arrastava desde 2021, quando a Vier entrou em recuperação judicial. De lá para cá, os problemas se multiplicaram e a empresa parou de operar em setembro de 2024, sem conseguir equilibrar contas, pagar fornecedores ou sustentar o próprio funcionamento.

A discrepância entre o que devia e o que possuía revela muito sobre a fragilidade de parte da indústria regional gaúcha, que enfrenta custos altos, competição crescente e má gestão em meio à falta de matéria-prima.

O cenário impressiona até mesmo quem acompanha o setor. Como é possível que uma empresa com nome forte, clientela fiel e décadas de mercado tenha perdido tanto valor em tão pouco tempo? A resposta está na soma de fatores internos e externos que transformaram um símbolo do chimarrão em um caso de estudo sobre descontrole financeiro.

O abismo entre patrimônio e dívida

Nos documentos da falência, a Justiça cita números que chamam a atenção: R$ 49,7 milhões em dívidas acumuladas contra apenas R$ 11,8 milhões em bens declarados. Essa diferença expõe a incapacidade da empresa de sustentar suas operações, mesmo com uma marca consolidada.

O patrimônio listado inclui imóveis, maquinário e estoque, mas tudo com valor de mercado reduzido, muitas vezes obsoleto ou parado há meses. Ao mesmo tempo, os passivos trabalhistas, fiscais e comerciais cresceram sem controle, corroendo qualquer chance de equilíbrio.

Analistas locais afirmam que a Vier foi vítima de uma combinação perigosa: administração ineficiente, dificuldades de acesso à erva-mate e aumento dos custos de transporte e energia. Com margens cada vez menores, a empresa passou a depender de crédito e postergou pagamentos, o que gerou uma espiral de dívidas. Quando as receitas caíram, o efeito dominó foi inevitável.

A crise que ultrapassou os portões da fábrica

A falência da Vier expõe um problema que vai além de uma única empresa. Nos últimos anos, o setor ervateiro no Rio Grande do Sul enfrenta transformações profundas. O avanço da soja reduziu áreas tradicionais de plantio de erva-mate, a mecanização exige investimentos altos e o mercado nacional enfrenta concorrência de marcas de Santa Catarina e do Paraná.

Além disso, a pandemia agravou as dificuldades logísticas e aumentou a inadimplência entre distribuidores e varejistas. Empresas menores, como a Vier, que dependiam de capital de giro e operações enxutas, acabaram sem fôlego financeiro.

Mesmo após décadas de tradição, a companhia se viu sem recursos para pagar funcionários, fornecedores e tributos, acumulando um passivo que superou quatro vezes o valor de seus ativos.

A imagem de uma empresa histórica pedindo falência causa impacto, mas também revela o quanto o valor simbólico de uma marca pode ser insuficiente quando a estrutura produtiva está fragilizada. Mesmo com a paralisação das atividades, o nome Vier ainda aparece nas prateleiras, a marca foi licenciada e hoje é fabricada pela empresa Rei Verde, o que mantém o produto vivo no mercado, embora sob nova gestão.

Lições de um colapso anunciado

A história da Ervateira Vier serve como alerta para o setor industrial gaúcho. Empresas familiares ou regionais que não modernizam seus processos de gestão e produção ficam vulneráveis a choques econômicos e mudanças de mercado.

No caso da Vier, a dependência excessiva de um único insumo agrícola, combinada a falhas administrativas, comprometeu o futuro da companhia.

O fato de uma marca tão conhecida ter encerrado suas operações com um rombo de quase cinquenta milhões mostra que tradição, sozinha, não paga dívidas. O patrimônio contábil de pouco mais de onze milhões representa um valor simbólico perto da credibilidade construída ao longo de oito décadas.

Mas, na prática, o que define a sobrevivência de uma indústria é a capacidade de transformar marca em lucro e gestão em sustentabilidade.

Com a falência decretada, o caso da Vier agora segue para o processo de liquidação judicial, que deve envolver credores, ex-funcionários e fornecedores. O desfecho ainda levará tempo, mas a história já está escrita: um exemplo amargo de como o descuido financeiro pode destruir até mesmo as empresas mais tradicionais.

Banner quadrado em fundo preto com gradiente, destacando a frase “Acesse o CPG Click Petróleo e Gás com menos anúncios” em letras brancas e vermelhas. Abaixo, texto informativo: “App leve, notícias personalizadas, comentários, currículos e muito mais”. No rodapé, ícones da Google Play e App Store indicam a disponibilidade do aplicativo.
Inscreva-se
Notificar de
guest
0 Comentários
Mais recente
Mais antigos Mais votado
Feedbacks
Visualizar todos comentários
Noel Budeguer

Sou jornalista argentino, vivendo no Rio de Janeiro, especializado em temas militares, tecnologia, energia e geopolítica. Escrevo artigos sobre temas complexos em uma linguagem acessível, mantendo rigor jornalístico e foco no impacto social e econômico

Compartilhar em aplicativos
0
Adoraríamos sua opnião sobre esse assunto, comente!x