A histórica ervateira gaúcha Vier, símbolo do chimarrão brasileiro, entrou em falência com uma dívida de quase R$ 50 milhões e apenas R$ 11 milhões em patrimônio, revelando uma crise profunda na indústria regional
Por mais de oito décadas, a Ervateira Vier foi sinônimo de tradição no Rio Grande do Sul. Fundada em 1944, a empresa construiu uma reputação sólida entre os consumidores de chimarrão, espalhando o nome da erva-mate gaúcha pelo país.
Mas por trás dessa imagem histórica, a companhia acumulava um rombo financeiro difícil de compreender: quando pediu falência, o passivo chegava a quase R$ 50 milhões, enquanto seus ativos não passavam de R$ 11,8 milhões.
A decisão judicial que decretou a falência foi o ponto final de uma crise que se arrastava desde 2021, quando a Vier entrou em recuperação judicial. De lá para cá, os problemas se multiplicaram e a empresa parou de operar em setembro de 2024, sem conseguir equilibrar contas, pagar fornecedores ou sustentar o próprio funcionamento.
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A discrepância entre o que devia e o que possuía revela muito sobre a fragilidade de parte da indústria regional gaúcha, que enfrenta custos altos, competição crescente e má gestão em meio à falta de matéria-prima.
O cenário impressiona até mesmo quem acompanha o setor. Como é possível que uma empresa com nome forte, clientela fiel e décadas de mercado tenha perdido tanto valor em tão pouco tempo? A resposta está na soma de fatores internos e externos que transformaram um símbolo do chimarrão em um caso de estudo sobre descontrole financeiro.
O abismo entre patrimônio e dívida
Nos documentos da falência, a Justiça cita números que chamam a atenção: R$ 49,7 milhões em dívidas acumuladas contra apenas R$ 11,8 milhões em bens declarados. Essa diferença expõe a incapacidade da empresa de sustentar suas operações, mesmo com uma marca consolidada.
O patrimônio listado inclui imóveis, maquinário e estoque, mas tudo com valor de mercado reduzido, muitas vezes obsoleto ou parado há meses. Ao mesmo tempo, os passivos trabalhistas, fiscais e comerciais cresceram sem controle, corroendo qualquer chance de equilíbrio.

Analistas locais afirmam que a Vier foi vítima de uma combinação perigosa: administração ineficiente, dificuldades de acesso à erva-mate e aumento dos custos de transporte e energia. Com margens cada vez menores, a empresa passou a depender de crédito e postergou pagamentos, o que gerou uma espiral de dívidas. Quando as receitas caíram, o efeito dominó foi inevitável.
A crise que ultrapassou os portões da fábrica
A falência da Vier expõe um problema que vai além de uma única empresa. Nos últimos anos, o setor ervateiro no Rio Grande do Sul enfrenta transformações profundas. O avanço da soja reduziu áreas tradicionais de plantio de erva-mate, a mecanização exige investimentos altos e o mercado nacional enfrenta concorrência de marcas de Santa Catarina e do Paraná.
Além disso, a pandemia agravou as dificuldades logísticas e aumentou a inadimplência entre distribuidores e varejistas. Empresas menores, como a Vier, que dependiam de capital de giro e operações enxutas, acabaram sem fôlego financeiro.
Mesmo após décadas de tradição, a companhia se viu sem recursos para pagar funcionários, fornecedores e tributos, acumulando um passivo que superou quatro vezes o valor de seus ativos.
A imagem de uma empresa histórica pedindo falência causa impacto, mas também revela o quanto o valor simbólico de uma marca pode ser insuficiente quando a estrutura produtiva está fragilizada. Mesmo com a paralisação das atividades, o nome Vier ainda aparece nas prateleiras, a marca foi licenciada e hoje é fabricada pela empresa Rei Verde, o que mantém o produto vivo no mercado, embora sob nova gestão.
Lições de um colapso anunciado
A história da Ervateira Vier serve como alerta para o setor industrial gaúcho. Empresas familiares ou regionais que não modernizam seus processos de gestão e produção ficam vulneráveis a choques econômicos e mudanças de mercado.
No caso da Vier, a dependência excessiva de um único insumo agrícola, combinada a falhas administrativas, comprometeu o futuro da companhia.
O fato de uma marca tão conhecida ter encerrado suas operações com um rombo de quase cinquenta milhões mostra que tradição, sozinha, não paga dívidas. O patrimônio contábil de pouco mais de onze milhões representa um valor simbólico perto da credibilidade construída ao longo de oito décadas.
Mas, na prática, o que define a sobrevivência de uma indústria é a capacidade de transformar marca em lucro e gestão em sustentabilidade.
Com a falência decretada, o caso da Vier agora segue para o processo de liquidação judicial, que deve envolver credores, ex-funcionários e fornecedores. O desfecho ainda levará tempo, mas a história já está escrita: um exemplo amargo de como o descuido financeiro pode destruir até mesmo as empresas mais tradicionais.



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