Com 355 km de extensão e 2.200 m de profundidade, o Gasoduto Rota 3 é o maior do Brasil já construido pela Petrobras, transporta 18 milhões de m³ de gás por dia e conecta o pré-sal ao Rio de Janeiro.
Poucos brasileiros têm noção da grandiosidade e da complexidade por trás do sistema que transporta o gás natural das profundezas do pré-sal até o continente. O Gasoduto Rota 3, da Petrobras, é uma das maiores obras de engenharia submarina já realizadas na América Latina e o maior gasoduto do Brasil em capacidade e extensão submersa. Com 355 quilômetros de comprimento, ele atravessa o oceano a mais de 2.000 metros de profundidade, conectando os campos do pré-sal da Bacia de Santos à Unidade de Processamento de Gás Natural (UPGN) instalada em Itaboraí, no estado do Rio de Janeiro.
A estrutura monumental do Rota 3
O projeto Rota 3 é uma peça essencial da infraestrutura energética brasileira. Ele é composto por 307 quilômetros de dutos submarinos e outros 48 quilômetros em trecho terrestre, totalizando 355 km de extensão, o equivalente à distância entre São Paulo e Belo Horizonte em linha reta.
Sua função é transportar o gás extraído nas plataformas do pré-sal até o continente, onde é processado e direcionado para o consumo residencial, industrial e para a geração elétrica.
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A tubulação submarina foi projetada para operar em profundidades superiores a 2.200 metros, suportando pressões gigantescas e condições extremas. As seções do duto têm diâmetro de 22 a 24 polegadas e são revestidas por materiais especiais para resistir à corrosão causada pela salinidade e à alta temperatura do gás que chega das camadas profundas.
Durante a fase de construção, foram empregados navios-lançadores de última geração, embarcações de apoio logístico, mergulhadores e robôs subaquáticos. O desafio técnico foi comparado ao da perfuração de poços em Marte — tamanha a complexidade de instalar uma estrutura dessa escala em águas ultra profundas.
Capacidade de 18 milhões de m³ por dia
A capacidade total de transporte do Rota 3 é de até 18 milhões de metros cúbicos de gás natural por dia. Essa quantidade seria suficiente para abastecer uma cidade com 15 milhões de habitantes ou alimentar cerca de 10% da demanda diária do mercado brasileiro.
O volume escoado por esse gasoduto representa uma revolução logística para o país, permitindo reduzir a reinjeção de gás nas plataformas e ampliar o uso do gás nacional em vez de importações da Bolívia e GNL de outros continentes.
A infraestrutura está conectada diretamente à UPGN do Polo GasLub, em Itaboraí (RJ), uma das mais modernas do hemisfério sul.
A planta de processamento é responsável por separar o metano do gás natural e os líquidos associados como etano, propano e butano, além de recuperar CO₂ e condensados. Juntos, o gasoduto e a UPGN formam um sistema integrado de energia com alto impacto econômico e ambientalmente eficiente.
Uma engenharia que desafia o oceano
Instalar um duto de mais de 300 quilômetros em profundidades abissais exigiu soluções inéditas. O Rota 3 percorre um trecho que chega a mais de 2.200 metros de profundidade em águas frias e pressões superiores a 200 atmosferas.
Para isso, foram desenvolvidos sistemas de monitoramento remoto, válvulas de alta resistência e sensores capazes de detectar variações de temperatura, vibração e vazamentos com precisão milimétrica.
Cada trecho do duto foi soldado e testado em embarcações específicas, com apoio de robôs submarinos que garantiram a integridade das juntas e o alinhamento perfeito ao longo do leito marinho. O projeto também contou com a instalação de estações de ancoragem, dutos auxiliares e equipamentos de controle automatizado.
Além da complexidade técnica, houve a necessidade de planejamento ambiental rigoroso. O gasoduto atravessa áreas de sensibilidade ecológica no litoral do Rio de Janeiro, e a Petrobras desenvolveu programas de monitoramento da fauna marinha, controle de sedimentos e recuperação de habitats afetados.
Impacto econômico e estratégico
Com a entrada plena em operação em 2025, o Rota 3 se tornou um dos principais eixos do sistema energético brasileiro. Ele complementa os gasodutos Rota 1 e Rota 2, formando uma rede que interliga o pré-sal da Bacia de Santos às principais regiões consumidoras do país.
A obra ampliou em 40% a capacidade de escoamento de gás nacional, reduzindo a dependência de importações e fortalecendo o parque industrial.
Além disso, a movimentação diária de gás gera bilhões de reais em arrecadação de royalties e impostos, além de sustentar cadeias produtivas que vão desde o aço e construção civil até os setores de válvulas, automação e engenharia offshore.
A região do Polo GasLub, em Itaboraí, também foi profundamente transformada, atraindo novos empreendimentos e revitalizando a economia local.
O gasoduto é parte fundamental da estratégia da Petrobras para consolidar o Brasil como um dos maiores produtores de gás natural do hemisfério sul, aproveitando o potencial das reservas do pré-sal, estimadas em mais de 370 trilhões de pés cúbicos de gás.
Rota 3: um divisor de águas na transição energética
O gás natural é considerado o combustível de transição no caminho para uma matriz energética mais limpa, por emitir menos CO₂ que o carvão e o óleo combustível. Com a entrada em operação do Rota 3, o Brasil ganhou uma estrutura capaz de sustentar o crescimento industrial e urbano com menor impacto ambiental.
A UPGN do GasLub conta com tecnologias de recuperação de energia térmica, reaproveitamento de condensados e sistemas de queima controlada para minimizar emissões. Parte da energia usada na planta é gerada por turbinas movidas pelo próprio gás processado, o que reduz custos e aumenta a eficiência.
Além do uso energético, o gás natural processado pelo Rota 3 serve de base para indústrias químicas e petroquímicas que produzem fertilizantes, plásticos, solventes e combustíveis sintéticos. O impacto se estende, portanto, a toda a cadeia produtiva brasileira.
Um marco da engenharia nacional
O Gasoduto Rota 3 representa o que há de mais avançado na engenharia brasileira. Ele é resultado de mais de uma década de estudos, planejamento e execução, com participação de milhares de profissionais e centenas de empresas fornecedoras.
A obra é considerada um símbolo da capacidade técnica do país de projetar e construir infraestrutura de classe mundial em ambientes desafiadores.
Com 355 quilômetros de dutos, 2.200 metros de profundidade e 21 milhões de metros cúbicos de gás transportados por dia, o Rota 3 é mais do que um gasoduto — é uma artéria vital do Brasil moderno, garantindo energia, desenvolvimento e soberania em uma era de transição global.