Dogger Bank, maior parque eólico offshore do mundo, começou a operar no Reino Unido e gerará energia para 6 milhões de residências com 3,6 GW de capacidade.
No meio do Mar do Norte, a centenas de quilômetros da costa inglesa, está nascendo um novo tipo de megacidade. Mas em vez de arranha-céus, ali se erguem torres metálicas gigantes, cada uma com hélices do tamanho de asas de avião. Este é o Dogger Bank Wind Farm, o maior complexo de energia eólica offshore já construído no planeta — e um dos projetos mais ambiciosos da transição energética global. Com capacidade total estimada de 3,6 gigawatts (GW) ao final da construção, o complexo terá energia suficiente para abastecer 6 milhões de residências britânicas — o equivalente a mais de 15% de todos os lares do Reino Unido. Para se ter ideia do tamanho, a área total ocupada pelas turbinas será maior que a região da Grande Londres.
Mais do que uma obra de engenharia de ponta, Dogger Bank é um símbolo do futuro energético europeu — onde ventos oceânicos substituem carvão, gás e petróleo como motores da economia.
A fazenda eólica offshore que desafia o mar – Dogger Bank Wind Farm
Dogger Bank está sendo construída em uma área com profundidades que variam de 20 a 40 metros, entre 130 e 190 km da costa nordeste da Inglaterra. Essa região é conhecida historicamente como Doggerland, um antigo trecho de terra que ligava o Reino Unido ao continente europeu durante a era glacial, hoje submerso.
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A localização foi escolhida estrategicamente por três motivos:
- Ventos fortes e constantes, ideais para geração eficiente.
- Águas relativamente rasas, que facilitam a instalação das turbinas.
- Distância suficiente da costa, reduzindo impactos visuais e ambientais.
O projeto está dividido em três fases principais: Dogger Bank A, B e C — cada uma com capacidade de 1,2 GW. Há ainda planos para uma quarta fase, Dogger Bank D, que pode elevar a capacidade total para 4,8 GW no futuro.
Turbinas gigantes: cada uma gera energia para 16 mil casas
As turbinas utilizadas no projeto são da classe Haliade-X, desenvolvidas pela GE Renewable Energy. Cada unidade tem impressionantes:
- 260 metros de altura total (maior que a Torre Eiffel)
- 220 metros de diâmetro do rotor
- Capacidade de 13 MW por turbina
Apenas uma dessas turbinas pode gerar energia suficiente para alimentar até 16 mil residências britânicas por ano. O complexo completo terá mais de 270 turbinas quando todas as fases estiverem concluídas.
As torres são montadas em bases do tipo “monopile”, estruturas cilíndricas que são cravadas diretamente no solo marinho. O transporte e instalação exigem embarcações especiais, como o Voltaire, da Jan De Nul, e navios de última geração com posicionamento dinâmico e guindastes de 3.000 toneladas.
Capacidade de geração e impacto nacional do Dogger Bank Wind Farm
O Reino Unido já é líder mundial em energia eólica offshore, e Dogger Bank consolida essa posição. Com seus 3,6 GW, o projeto representa:
- Quase 30% da capacidade instalada offshore atual do Reino Unido
- Mais da metade da meta de novos GW a serem instalados até 2030
- Energia para abastecer 1 em cada 5 casas do país
Além de reduzir as emissões de CO₂ em mais de 6 milhões de toneladas por ano, o projeto está atraindo investimentos bilionários, criando milhares de empregos diretos e indiretos, e reposicionando portos como Newcastle e Hull como centros logísticos da nova economia verde.
Uma parceria global por trás do megaempreendimento
O Dogger Bank Wind Farm é resultado de uma joint venture entre três gigantes globais:
- SSE Renewables (Reino Unido)
- Equinor (Noruega)
- Vårgrønn (joint venture entre Eni e HitecVision)
O financiamento da primeira fase já soma US$ 6 bilhões, e o investimento total estimado ultrapassa US$ 15 bilhões ao fim do projeto.
As empresas estão apostando em tecnologias de automação, inteligência artificial e monitoramento remoto para garantir que o parque seja um dos mais eficientes e bem gerenciados do mundo.
O futuro da eletricidade no Reino Unido está no mar
Com a guerra na Ucrânia, a volatilidade do gás natural e a necessidade urgente de reduzir as emissões de carbono, o Reino Unido acelerou seus planos de transição energética. E a energia eólica offshore está no centro dessa estratégia.
A meta do governo britânico é chegar a 50 GW de capacidade offshore até 2030. Dogger Bank responde sozinho por mais de 7% dessa meta, e funcionará como modelo para novas instalações não só na Europa, mas também em mercados emergentes como Brasil, Taiwan, Índia e Estados Unidos.
Além disso, o Reino Unido planeja construir linhas de transmissão submarina HVDC de última geração para conectar Dogger Bank diretamente às redes de Londres e Manchester, com perdas mínimas de energia.
Desafios e inovação contínua
Instalar um parque eólico dessa magnitude no meio do mar não é tarefa simples. Os principais desafios enfrentados pela equipe incluem:
- Condições climáticas severas, que atrasam as operações marítimas.
- Logística complexa, com equipamentos pesando até 700 toneladas.
- Monitoramento ambiental contínuo, para preservar a fauna e flora marinha.
Para superar esses obstáculos, a Dogger Bank Wind Farm adota o que há de mais moderno em automação: drones subaquáticos, sensores climáticos em tempo real, softwares preditivos e uma plataforma digital que integra dados de geração, manutenção e clima 24 horas por dia.
Um marco da transição energética global
Dogger Bank não é apenas um projeto britânico. É um símbolo da nova era energética que se desenha no planeta. Ele mostra que é possível pensar grande, executar com excelência e reduzir drasticamente a dependência de combustíveis fósseis — sem comprometer o crescimento econômico.
Para engenheiros, gestores públicos e investidores do setor de energia, Dogger Bank serve de referência internacional, tanto pela escala quanto pela capacidade de execução. E, mais importante: é um lembrete de que as grandes obras do futuro não serão mais centradas no petróleo, mas no vento, no sol e na inteligência coletiva da humanidade.