Disputa para superar aos dinamarqueses vinha sendo acirrada. Expectativa agora é de queda nos valores das tarifas na movimentação de contêineres no local
O APM Terminals, do Grupo Maersk, “apenas” tinha que cobrir a oferta realizada pelo consórcio formado pela Conepar e Tecon-Suape, do grupo ICTSI Rio, para arrematar a área do Estaleiro Atlântico Sul que estava em leilão (Unidade Produtiva Isolada da UPI Pré-constituída B). Então, os dinamarqueses ofereceram R$ 5 milhões a mais sobre a proposta de compra dos concorrentes que havia sido de de R$ 450 milhões, e agora devem movimentar 400 mil contêineres no Porto de Suape, que fica na cidade do Cabo de Santo Agostinho, litoral sul de Pernambuco.
A disputa vinha sendo bastante acirrada e marcada por processos judiciais. A Tecon tentou barrar o leilão na justiça com o argumento de que a Maersk estaria sendo privilegiada por estar na condição de Stalking horse (quando o concorrente tem o direito de oferecer a primeira oferta pela vendedora). A justiça chegou a acatar o pedido. Porém, ao reanalisar, entendeu que essa condição foi legítima, pois o Estaleiro Atlântico Sul, havia previsto no edital por meio de justificativas legais.
O leilão de parte do Estaleiro Atlântico Sul, no Porto de Suape, ocorre porque o empreendimento está em processo de recuperação judicial desde 2020 e necessita quitar uma dívida de cerca de R$ 1,4 bilhão junto ao Banco Nacional Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A operação do certame deve ser validada pela Justiça do município de Ipojuca, que organiza a venda para pagamento de dívidas dos acionistas.
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Após a conclusão desses processos, a Maersk deve iniciar a construção de um novo terminal de contêineres na área comprada, que é de acesso ao mar. A proposta apresentada ao Porto de Suape ainda antes do período do leilão, foi de um investimento de R$ 2,6 bilhões no local para a movimentação de 400 mil TEUs (unidade de contêiner equivalente a vinte pés), o que traz esperança para volta de geração de milhares de empregos para a região.
Fim do monopólio filipino e queda das tarifas
A conquista da Maersk no leilão do Estaleiro Atlântico Sul é comemorada pelo próprio Porto de Suape. A chegada dessa que é a maior empresa de navegação do planeta, irá acabar com o monopólio da Tecon em movimentação de contêineres no local.
Os filipinos operam no Porto de Suape desde 2001 em forma de concessão, por isso exercem padrões operacionais do porto organizado, e aplicam tarifas consideradas as mais caras do país.
Já APM Terminals, da Maersk, irá implantar seu Terminal de Uso Privativo (TUP) para movimentar fora do porto organizado, trazendo concorrência à Tecon.
Na visão do presidente do complexo industrial de Suape, Roberto Gusmão, a Maersk irá colocar o porto em outro patamar. “É uma mudança de chave importante para Pernambuco. A venda vai possibilitar a chegada de um HUB importante”, diz.
“Vamos ter novas rotas de longo curso, mais concorrência e competição. Novas rotas semanais para Ásia e Europa. O grupo da Maersk foi o único que estabeleceu um protocolo de intenções, prevendo a modernização, navios de grande porte, sustentabilidade”, coloca Gusmão.
Volta da “chuva de empregos” no EAS?
Entre os anos de 2007 e 2014, todo o Estaleiro Atlântico Sul chegou a gerar mais de 11 mil empregos. Em todo o complexo industrial portuário de Suape foram mais mais de 65 mil trabalhadores e trabalhadoras de várias partes do Brasil.
Naquele momento, estavam instalados grandes empreendimentos, como refinaria e um polo de equipamentos para a indústria eólica. Naquela época, o estado de Pernambuco foi apontado como situação de quase pleno emprego (quando a taxa de desemprego não passa dos 6%), até sucumbiu após a decaída geral da indústria naval.
Atualmente, o Estaleiro Atlântico Sul conta com cerca de 500 funcionários. Em 2021, 11 embarcações foram reparadas no local, gerando receitas de R$ 65,4 milhões, tornando possível uma geração de caixa líquida de R$ 26,6 milhões. O empreendimento é administrado pelas empreiteiras Queiroz Galvão e Camargo Correa.